25 abr, 2016 • Pedro Caeiro
A Chanceler alemã Angela Merkel "está do lado certo da história" na forma como tem atuado na crise dos refugiados, "dando voz aos princípios que aproximam as pessoas em vez de as dividir. Num mundo global, a solução não é construir muros". As citações são reproduzidas pelo “Diário de Notícias” com base no que Obama disse numa conferência de imprensa conjunta com Chefe do Governo de Berlim.
A visita de Obama, no entanto, não se prende tanto com a questão dos refugiados; o grande objectivo da ida de Obama à Alemanha está relacionado com o facto de os Estados Unidos serem hoje o principal parceiro económico da maior economia europeia. E a verdade é que, tanto Obama como Merkel expressaram apoio à Parceria Transatlântica para o Comércio e Investimento, que está a ser negociada entre os norte-americanos e a União Europeia. Para Merkel, que é uma das principais defensoras do acordo do lado europeu, esta “é boa para a economia alemã e é boa para a economia europeia”, representando “uma grande ajuda ao crescimento” económico da União Europeia. Obama disse esperar que as negociações possam estar concluídas “até final do ano”. O tema é também tratado no “Público” com o título “Obama leva a batalha pelo comércio livre à Alemanha”.
Hoje, Merkel e Obama reúnem-se numa cimeira informal com o Presidente francês, François Hollande, e os Primeiros-ministros do Reino Unido e Itália, David Cameron e Matteo Renzi. O jornal “i” traz em título, “Obama chega a Berlim e Merkel chama Hollande, Cameron e Renzi”.
Ainda sobre o cenário de uma saída do Reino Unido da União, numa entrevista à BBC, Obama insiste no argumento de que, a verificar-se, ao contrário do afirmado pelos defensores do “Brexit”, “não seria possível negociar um acordo de comércio livre com os Estados Unidos mais depressa do que a União Europeia”.
Mas, se Obama (como já ouvimos) elogia Merkel pela forma como tem lidado com os refugiados, no “Público” temos António Guterres a considerar-se um “federalista europeu frustrado”. O candidato português ao lugar de secretário-geral das Nações Unidas, que é “a favor de um sistema europeu de asilo” esteve no Porto, a convite do Bloco de Esquerda, na sessão de encerramento do encontro da comissão executiva do Partido da Esquerda Europeia. E criticou a “incapacidade da Europa em dar uma resposta solidária à crise dos refugiados e à crise das migrações”. Pelo meio, não desperdiçou a oportunidade de criticar o acordo que a União Europeia e a Turquia assinaram em Março. Já Catarina Martins falou de uma União Europeia que é hoje um projecto “em tudo contrário ao dos direitos humanos”.
De volta ao “DN”, reproduzem-se as declarações de responsáveis de um partido populista alemão que “quer o sul da Europa fora do euro”. O “Alternative für Deutschland” defende que a França e os países do sul da Europa deveriam ser excluídos da moeda única europeia e foi isso que afirmou Jörg Meuthen, co-líder do AfD, ao diário alemão “Frankfurter Allgemeine Zeitung”. Segundo ele, “franceses, italianos, espanhóis, portugueses e gregos têm uma cultura diferente” porque “não querem qualquer tipo de austeridade”. Este partido foi constituído há três anos com um discurso anti-euro, mas hoje exibe como principal bandeira as posições anti-imigração. E teve já cerca de 15% dos votos nas eleições regionais de Março, estando perto de aceder ao Parlamento Nacional Alemão nas próximas legislativas, previstas para o final do próximo ano.
Curiosamente, no “DN”, um caso ali mesmo ao lado: o candidato da Extrema-Direita está à frente nas Presidenciais e os candidatos dos partidos Social-Democrata e Conservador, que integram uma coligação governamental desde 2008, ficaram afastados da segunda volta. Norbert Hofer obteve 36,4% dos votos, o melhor resultado desta formação em eleições nacionais, de acordo com resultados oficiais. E a segunda volta deve ser disputada com o ecologista Alexander Van der Bellen a 22 de Maio, depois de ter ficado em segundo lugar com 20,4% dos votos. O resultado merece também uma curta notícia no jornal “i”.