08 nov, 2024 • Susana Madureira Martins e Beatriz Garcia
Com a audição da ministra da Saúde no Parlamento prevista para terça-feira, o vice-presidente da bancada do PSD, António Rodrigues, diz-se convicto que Ana Paula Martins será ouvida pelos deputados sem qualquer fragilidade à boleia da polémica em torno da greve dos profissionais do INEM.
A greve, entretanto, foi desconvocada, mas António Rodrigues considera que o Governo também não estava propriamente obrigado a decretar serviços mínimos. “Não necessariamente, não é obrigatório que isso venha a acontecer, nem em qualquer circunstância”, disse o "vice" da bancada do PSD no programa São Bento à Sexta da Renascença.
Questionado sobre o facto de o próprio primeiro-ministro ter alegado esta sexta-feira que o Governo desconhecia o pré-aviso de greve, António Rodrigues argumenta que “se [o pré-aviso] é desconhecido, obviamente ninguém pode invocar a responsabilidade de quem quer que seja relativamente a isto”.
O dirigente social-democrata considera ainda “precipitado” e “injusto” estar a fazer “este tipo de julgamento”, tendo em conta que se está a “meio de uma situação de crise, no meio de uma situação complexa” e é “preciso apurar e ter os factos todos antes de fazer esse juízo”, aconselhando “seguramente” a esperar pelo resultado do inquérito da Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS).
Da parte do PS, a dirigente Mariana Vieira da Silva recusa fazer a ligação entre a greve e as oito mortes, mas considera que “existe uma ligação confirmada por todos os protagonistas do setor entre a incapacidade de resposta e uma falta de gestão”.
Membro do Secretariado Nacional do PS, Mariana Vieira da Silva subscreve o que foi dito esta sexta-feira em conferência de imprensa pelo líder do partido, Pedro Nuno Santos, referindo que há uma “atitude de negligência” por parte da ministra da Saúde neste caso da greve do INEM.
“Quando um Governo recebe um pré-aviso de greve, precisa de perceber que na dimensão da sua atividade, que é de direção da administração pública, tem que intervir, tem que garantir que a resposta dos serviços públicos continua”, começou por dizer a ex-ministra da Presidência.
“Pelo menos desde o dia 21 de outubro que a ministra sabia que este pré-aviso de greve existia, porque recebeu a informação no seu gabinete, e se bastava uma reunião, ela podia ter evitado todo este processo”, defende Mariana Vieira da Silva.
O PS evita pedir diretamente a demissão de Ana Paula Martins, mas depois de ter lançado o desafio a Luís Montenegro para avaliar se a ministra da Saúde tem condições para continuar no cargo e de ter tido a resposta de que é para continuar, Mariana Vieira da Silva tira uma conclusão. A responsabilidade sobre o que acontecer no setor passa a ser exclusivamente do primeiro ministro.
“Se o primeiro-ministro decidir que é com esta ministra que quer continuar a trabalhar, a única coisa que é preciso termos presente é que as responsabilidades deste tipo de inação, que têm sido recorrentes desde o início, passam a ser do primeiro-ministro”, refere a dirigente socialista.