01 jun, 2018 • Ricardo Conceição
O chumbo das quatro propostas de legalização da eutanásia foi notícia em Espanha, França e Suíça. Os dois correspondentes e comentadores do "Visto de Fora" relataram lá fora o que se passou cá dentro esta semana.
Numa análise aos renhidos resultados, Olivier Bonamici confirma uma opinião que vem cimentando há muito: há uma divisão clara entre esquerda e direita em matérias como a eutanásia ou o aborto.
“É uma vitória clara da Igreja em Portugal e do CDS, que vai ser o partido surpresa das próximas eleições”, diz o jornalista francês. O correspondente da Rádio Suisse em Lisboa assinala que Portugal não é caso único na Europa quando se observa que “o catolicismo está cada vez mais ligado à direita".
"Antigamente havia uma ligação muito forte entre o catolicismo e a esquerda. Hoje em dia, ser católico e de esquerda é cada vez mais complicado”, diz.
Begoña Iñiguez não subscreve esta análise e refere que a divisão na votação demonstra que se trata “de uma matéria de consciência".
"É um tema muito fracturante. Não tem de ser a Assembleia a decidir, têm de ser os cidadãos a decidir”, defende a correspondente da Cadena Cope. Foi um assunto que teve muito eco em Espanha, onde o Podemos ainda manifestou intenção de propor a legalização da eutanásia, mas a proposta acabou na gaveta.
Para os nossos comentadores e correspondentes a grande surpresa nesta matéria foi a votação do PCP. “Acho genial a questão Bloco de Esquerda vs. Partido Comunista”, confessa Olivier Bonamici. “Foi uma das primeiras perguntas que me fizeram em Espanha, como é que se explica isso do Partido Comunista”, acrescenta Begoña Iñiguez.
“Alguém há-de me explicar um dia. Eu tenho amigos do Partido Comunista e tenho amigos do Bloco de Esquerda e não entendo” a divisão, completa o jornalista francês.
Neste "Visto de Fora" acompanhamos em direto a votação da moção de censura, em Madrid, e ainda falamos do governo em Itália.
Ficamos ainda saber que os espanhóis não falam alto, uma revelação duvidosa. Está tudo no podcast.
“O Bipartidarismo acabou em Espanha”
Nesta edição do Visto de Fora acompanhámos em directo a votação da Moção de Censura do governo espanhol e explicamos o que muda em Madrid e também em Itália.
Ao 9º minuto e 18 segundos deste programa muda o presidente do governo de Espanha. Sai Mariano Rajoy e entra Pedro Sanchez. “Os espanhóis estão surpreendidos. Há uma semana ninguém pensava nisto. Nem Rajoy, ontem quando acordou, pensava nisto” afirma Begoña Iñiguez, que em directo foi acompanhando num pequeno monitor o que se estava a passar no parlamento espanhol.
Apoiado por nacionalistas, independentistas e pela extrema-esquerda, Pedro Sanchez conseguiu no parlamento aquilo que havia falhado nas urnas e que quase lhe custou a liderança dos socialistas espanhóis. Com uma moção de censura construtiva, Sanchez ocupou a tão desejada cadeira no Palácio da Moncloa.
Num acompanhamento ao minuto, a correspondente em Lisboa da Cadena Cope prossegue dando voz à surpresa.“Pedro Sanchez vai ter de pagar um preço muito alto. Por um lado estão as exigências do Podemos e do outro as dos nacionalistas. Vai começar uma nova era. E Pedro Sanchez vai agora viabilizar um orçamento sobre o qual prometeu votar contar. Isto é surreal!”
O Visto de Fora não se fica pelo relato do imediato e tenta ler a actualidade através dos sinais que a realidade nos transmite. Enquadra-se neste ponto a afirmação taxativa proferida por Olivier Bonamici: “O Bipartidarismo acabou em Espanha”. O jornalista francês recorda os resultados eleitorais e a necessidade de unir famílias políticas tradicionalmente desavindas para conseguir chegar a um objetivo. É um sinal de que o tradicional domínio de dois partidos mais encostados ao centro acabou. Os partidos anti-sistema prosseguem o seu caminho e apesar da discordancia de Begoña Iñiguez, Bonamici inclui o Ciudadanos e o Podemos nesta lote. Para o jornalista francês “há uma nova situação (partidos populistas e anti-sistema) em Espanha, em Itália, de certa forma em França e só falta Portugal.”
A instabilidade política em Itália e Espanha fez soar as campainhas nas salas dos mercados de dívida e bolsistas. O mundo dos investidores detesta a incerteza e isso reflecte-se de forma imediata nos índices bolsistas e nos juros cobrados aos países. “O que é grave na Europa” é que cada crise política num país se transforma “numa crise de toda a zona euro. Isto é uma loucura”, constata Olivier Bonamici.
Apesar dos alertas, a bolsa de Madrid acalmou ao longo da votaçãoe a acabou no “verde”. Nos discursos, o líder dos socialistas espanhóis garantia “que todos os acordos vão ser cumpridos”, lembra Begoña Iñiguez. “Não há risco, o PSOE é claramente pró-europeu.” completa Bonamici.
A semana fica ainda marcada por uma gafe do comissário europeu do Orçamento. Gunther Oettinger apressou-se a pedir desculpa, mas já estava dito: “as minhas preocupações e expectativas é que as próximas semanas mostrem que os mercados, as taxas das obrigações e a economia italiana podem ser tão drasticamente atingidas, que isso vai servir para indicar aos eleitores para não votarem nos populistas de direita e esquerda", disse o comissário numa entrevista à estação de televisão Deutsche Welle. Palavras que caíram muito mal em Itália e também em Bruxelas. “Há povos a dar lições de moral e o resultado disso tudo é a subida dos nacionalismos na europa. Por causa de Gunther Oettinger os italianos estão cada vez mais antieuropeus”, diz Olivier Bonamici.
Este conteúdo é feito no âmbito da parceria Renascença/Euranet Plus – Rede Europeia de Rádios. Veja todos os conteúdos Renascença/Euranet Plus