18 out, 2019 • Pedro Caeiro e Anabela Góis
O acordo para o Brexit foi alcançado ontem na Cimeira Europeia de Bruxelas. À partida os 27 e Boris Johnson acreditam que é um bom acordo, mas os críticos dizem que é muito semelhante ao que foi negociado por Theresa May. Certo é que o acordo apareceu mesmo e era algo que parecia impossível para Begoña Iñiguez, que recorda os meses e meses em que se falou do Brexit sem que se visse uma solução.
Olivier Bonamici acha que se trata de “uma meia-vitória de Boris Johnson, mas o mais difícil ainda está para ser feito. Bruxelas vai dar luz verde, mas Westminster não, e isso vai complicar ainda mais a posição britânica. Olivier diz ter falado com um jornalista amigo em Londres “e ele disse-me que os próprios ingleses estão fartos de ouvir falar do Brexit e Johnson é bom nisto, no vencer pelo cansaço”.
Ainda assim, “os unionistas vão ser decisivos e os eurocépticos conservadores também, mas acredito que vai passar o acordo no Parlamento britânico”, afirma a correspondente espanhola. Olivier é que não acredita nisso. “Não vai passar. Uma das estratégias dele (Boris Johnson) vai passar por fazer tudo para que haja eleições. Porque vai basear a sua campanha no facto de ele ser a única garantia de que haverá Brexit”. Só que é preciso dois terços dos votos para que haja eleições e isso está longe de estar garantido.
Catalunha volta a aquecer
Em Espanha, voltaram a registar-se protestos violentos pelo quarto dia consecutivo na Catalunha. Hoje há uma greve geral convocada por sindicatos independentistas e uma marcha pela liberdade que vai levar milhares de pessoas a Barcelona. Begoña Iñiguez sente-se preocupada “como espanhola” porque o que se vê são “catalães a lutar contra catalães, porque na Catalunha não há Polícia administrada por Madrid, mas sim os Mossos d’Esquadra, que estão na dependência da Generalitat”. Para a correspondente espanhola trata-se de uma “luta de irmãos contra irmãos e ninguém consegue fazer a sua vida normal”.
Olivier Bonamici alerta para o facto de se ter de evitar generalizações. Num paralelismo com os “coletes amarelos” em França, houve alguns milhares de pessoas que fizeram coisas muito graves, mas “não se pode pôr tudo no mesmo saco”. A Justiça espanhola condenou quem tinha de condenar para fazer cumprir a lei, mas os espanhóis estão cada vez mais fartos dos catalães e vice-versa e “isso é perigoso”.
Quanto ao silêncio a que se tem remetido a União Europeia, Begoña Iñiguez lembra que Bruxelas neste caso tem de se pronunciar de acordo com o que diga Madrid e que não interfira muito. “Quando não se cumprir a Constituição é que teremos um problema”. A espanhola lamenta que “neste momento há medo na Catalunha de se dizer o que se pensa”.
Governo: grande ou quanto baste?
Por cá, a semana foi marcada pela apresentação da equipa governativa de António Costa. Tem 19 ministros e é maior Governo desde 1976. Após anos em que muito se falou da necessidade de encurtar os executivos, parece que a ideia de poupança ficou pelo caminho. Mas Olivier não vê isso como um problema. Elogia a presença de muitas mulheres e diz que Costa, ao não fazer grandes mudanças, se quis “rodear de pessoas de confiança prevendo que o segundo mandato vai ser mais instável que o primeiro”. Begoña também o vê como “um Governo de continuidade, com reforço dessa continuidade e um prémio de Costa para aqueles em quem confia mais”. “O reforço politico vê-se na subida de Mariana Vieira da Silva, Augusto Santos Silva e Mário Centeno”, afirma. Quanto aos ministros mais polémicos (Saúde, Educação, Justiça), Begoña questiona se não será esta uma forma de os “desgastar até não haver mais forma de os segurar e, então, fazer uma remodelação daqui a algum tempo”.
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