18 jul, 2020 - 01:28 • Carlos Calaveiras
Agora é oficial: o técnico Jorge Jesus (JJ) está de regresso ao Benfica. Os encarnados já confirmaram a contratação e o Flamengo a saída.
Desde logo fica a dúvida: Depois da saída polémica e das acusações de parte a parte, da mudança de paradigma - que levou à aposta no Seixal – para o retorno do “cérebro” à Luz, o que se alterou?
Antes de avançarmos, rebobinemos:
Verão de 2009, Jesus estava no Sp. Braga e é contratado por Luís Filipe Vieira para o Benfica.
Na primeira conferência de imprensa na Luz, JJ não deixa dúvidas: "Os jogadores do Benfica para o ano vão jogar o dobro do que jogaram o ano passado. Só isso. E o dobro se calhar é pouco".
A época inicial de águia ao peito deixou os sócios e adeptos encarnados encantados e ficaram célebres duas expressões: “rolo compressor” e “nota artística”. No final de 2009/10, o balanço foi positivo: campeonato e Taça da Liga.
Nos três anos seguintes, não houve título nacional. Na temporada de 2010/11 o domínio dos azuis e brancos, de André Vilas-Boas, foi evidente e ficou célebre o 5-0 no Dragão e o “apagão” na Luz no dia em que os visitantes confirmaram a conquista do título. Já nas épocas de 2011/12 e 2012/13, as derrotas dos encarnados não foram tão fáceis de engolir. As equipas de Jorge Jesus chegaram a ter vantagens pontuais, mas não as conseguiram segurar e o momento “Kelvin” – mais o ajoelhar de Jesus – até teve direito a espaço no museu de FC Porto.
Paralelamente, o sonho europeu foi também estando presente e, com Jorge Jesus, o Benfica chegou a duas finais da Liga Europa. Acabou por perder as duas, contra Chelsea (2-1), em 2013, e Sevilha (penáltis), em 2014.
Não foram dois bons anos e um deles foi o do “quase”. Em cerca de uma semana tudo o Benfica perdeu: campeonato, Liga Europa e Taça de Portugal, esta para o V. Guimarães, de Rui Vitória, o homem que viria a suceder a Jesus no comando técnico dos encarnados.
A pressão dos sócios nesta altura era enorme, estava terminada a época de encantamento entre adeptos e o mister, mas o presidente Vieira – contra tudo e contra todos – decidiu manter a aposta.
Jorge Jesus continuou e, nas épocas 5 e 6, voltaram as conquistas de campeonatos.
Resumindo, à frente do Benfica, JJ conquistou 10 títulos e é o mais titulado da história do clube: três campeonatos, uma Taça de Portugal, cinco Taças da Liga e uma Supertaça Cândido de Oliveira.
No verão de 2015 caiu a “bomba”. O Benfica parecia querer mudar de página, apostar no centro de estágio do Seixal e tentou colocar o treinador, mas Jorge Jesus não aceitou o que lhe estava destinado e acabou por assinar pelo Sporting, eterno rival dos encarnados.
Luís Filipe Vieira tentou depois justificar a troca de Jesus por Rui Vitória.
“Quem conhece o Jorge Jesus sabe como ele trabalha. Tem uma maneira de trabalhar que, hoje, não serve os interesses do Benfica (…) [com Jorge Jesus] não era possível planear a três anos. O paradigma mudou”.
Estava lançada a aposta no Seixal. O novo paradigma era esse e, segundo o líder encarnado, Jesus não servia para essa estratégia.
Seguiram-se depois tempos conturbados, com ataques de parte a parte, processos em tribunal e “trocas de galhardetes” polémicos com Rui Vitória (o "Ferrari", o "cérebro", os "jogos da mente"...).
Olhando para a carreira do técnico da Amadora desde a saída do Benfica (Sporting, Al-Hilal e Flamengo) não há dúvidas: o objetivo tem sido “ganhar já” e, normalmente, para isso, são necessários grandes investimentos e apostas seguras. Falta saber se a “marca Seixal” vai ter espaço para continuar a crescer. Os mais fiéis do técnico vão lembrar-se de Reinier, que aos 17 anos teve minutos no Flamengo e acabou transferido para o Real Madrid. Os mais céticos vão sempre recordar Bernardo Silva e dos seus treinos a lateral esquerdo.
Cinco anos depois, fica a dúvida: o que mudou? Benfica ou Jorge Jesus?
Saberemos quando o técnico for apresentado na Luz.