08 jul, 2021 - 17:53 • Rui Viegas
O Ministério Público acredita que Luís Filipe Vieira, presidente do Benfica, e Bruno Macedo, agente, tinham um esquema de fraude à custa dos interesses da SAD do Benfica, segundo o despacho que a Renascença teve acesso.
Em causa estão negócios como a venda de Derlis González e Cláudio Correa, que terão gerado cerca de um milhão e 280 mil euros de vencimento que não foi declarado e foi localizado numa sociedade instrumental designada "Mater Intenacional Fzr".
De acordo com o documento, Bruno Macedo utilizava sociedades no estrangeiro e forjava documentos para justificar a intervenção dessas entidades. O outro negócio mencionado está relacionado com os direitos do defesa César.
No despacho são várias as sociedades e os países citados: do Panamá à Tunisia, passando por Estados Unidos da América e Emirados Árabes Unidos, com proveitos canalizados para empresas detidas do grupo de Luís Filipe Vieira: nomeadamente a "Promotav", a "Only Properties" e a "Cofibrás".
Acrescenta o procurador Rosário Teixeira que os montantes em causa e a venda de imóveis permitiram a amortização de passivos bancários, uma operação na qual participaram Bruno Macedo e o filho de Luís Filipe Vieira, Tiago Vieira.
Explicador
O presidente do Benfica foi detido na quarta-feira(...)
O Ministério Público conclui que, através das sociedades instrumentalizadas, e com a simulação de negócios envolvendo a SAD do Benfica, foram obtidas verbas que ascendem a pelo menos dois milhões e 494 mil euros, montante que o Ministério Público considera ter sido para benefício da esfera de Luís Filipe Vieira.
Luís Filipe Vieira foi detido, na quarta-feira, após buscas, por suspeitas de crimes de abuso de confiança, burla qualificada, falsificação, fraude fiscal e branqueamento de capitais. Esta quinta-feira, o presidente do Benfica deverá ser presente a primeiro interrogatório judicial e conhecer as medidas de coação aplicadas. Caso estas impeçam Vieira de exercer funções, Rui Costa suprirá a sua ausência como presidente do Benfica.
A deteção de Luís Filipe Vieira causou grande burburinho dentro e fora do Benfica. O valor das ações da SAD caiu em cerca de 5,5%.
Em declarações a Bola Branca, João Braz Frade, porta-voz do movimento “Benfica Bem Maior” e antigo vice-presidente do Benfica, não tem dúvidas de que a situação “afeta gravemente a imagem” do clube.
João Noronha Lopes, candidato vencido nas últimas eleições, assumiu, em declarações à CMTV, estar "muito preocupado" com o Benfica.
O também antigo candidato Bruno Costa Carvalho foi mais longe, em entrevista à Renascença, e pediu eleições antecipadas, por considerar que Luís Filipe Vieira deixou de ter condições para liderar o Benfica.
As reações à detenção do presidente do Benfica estendem-se ao universo político. PS diz que é "tempo de a justiça atuar". O Chega pede rapidez, eficácia e transparência. O CDS-PP considera "saudável" que o trabalho dos deputados possa ser aproveitado pela justiça. PAN fala de "sinal positivo de que não há cidadãos intocáveis para a justiça".
[notícia corrigida — Cláudio Correa em vez de Cláudio Correia]