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Operação "Cartão Vermelho"

John Textor queria, mas não comprou ações da Benfica SAD. Agora está na dúvida

12 jul, 2021 - 12:57 • Redação

Empresário norte-americano implicado em supostos negócios não declarados à CMVM de José António dos Santos, arguido da operação "cartão vermelho", sobre ações da Benfica SAD.

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John Textor esclareceu o seu envolvimento com a SAD do Benfica, esta segunda-feira, num comunicado em que também admite estar a repensar os planos, à luz das suspeitas que pairam sobre o presidente suspenso, Luís Filipe Vieira, e outros, no âmbito da operação "cartão vermelho".

O empresário norte-americano explica que acredita que o Benfica "é um gigante adormecido no futebol mundial". Portanto, quando lhe chegou às mãos a oportunidade de investimento na SAD, através uma instituição bancária de investimento sediada em Londres, acreditou poder "ajudar a melhorar a capitalização e as receitas do clube", com o objetivo de proporcionar maior sucesso desportivo caseiro e internacional.

"Para ser claro, estas são apenas as minhas crenças. Ainda não são planos. Ainda não adquiri ações no Benfica. Gostei das minhas conversas e correspondência com o dedicado fã do Benfica, o Sr. José António dos Santos. Acredito que ele ama verdadeiramente o clube e acredito que ele vê, em mim, uma pessoa que tem o coração certo e a experiência certa para fazer avançar a missão da comunidade do Benfica. Nunca procurei, negociei ou cheguei a um acordo para comprar acções SLB a qualquer outra parte, a não ser ao Sr. dos Santos, nem adquiri quaisquer acções SLB (direta ou indiretamente) nos mercados abertos", pode ler-se.

"Rei dos Frangos" na mira da CMVM


José António dos Santos, também conhecido como "Rei dos Frangos", é um de quatro arguidos da operação "cartão vermelho", que investiga suspeitas de vários esquemas de fraude que causaram prejuízos não só à SAD do Benfica ou ao Novo Banco, mas também ao Estado português, através de impostos não cobrados e injeções de capitais públicos no Novo Banco e de financiamento ao Fundo de Resolução. Financiamentos que são suscetíveis de configurar "crimes de abuso de confiança, burla qualificada, falsificação, fraude fiscal e branqueamento".

Esta segunda-feira, a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) anunciou ter suspendido e, pouco depois, reposto a negociação das ações da Benfica SAD, por considerar que os negócios alegadamente ilícitos dos quatro arguidos da operação "cartão vermelho" são "suscetíveis de impactar" o governo societário encarnado e "de criar opacidade sobre a composição da sua estrutura acionista".

Nas suas averiguações, a CMVM apurou a existência de contratos referentes à transmissão de ações "cujas consequências em sede de imputação de direitos de voto não foram dadas a conhecer ao mercado", pelo que emergem dúvidas quando à sua transparência e em relação à atual definição da estrutura acionista da SAD do Benfica.

No epicentro desses negócios surge José António dos Santos. Oficialmente, o empresário detém 16% do capital social da Benfica SAD, no entanto, terá celebrado contratos de promessa de compra e venda de ações que elevam a sua participação qualificada para mais de 20%.

"Em paralelo, existem fortes indícios de que José António dos Santos celebrou um acordo de compra e venda com um terceiro, John Textor, tendo por objeto a alienação de uma participação de 25% que José António dos Santos reuniria. Nenhuma das referidas transações foi objeto de comunicação ao mercado", relata a CMVM.

Norte-americano reavalia intenções


No mesmo comunicado, John Textor admite que está "a digerir muito rapidamente as notícias inesperadas que estão a ter impacto" no Benfica. O empresário norte-americano não esconde estar a repensar os planos.

"Estou agora a avaliar se pretendo ou não consumar uma compra de acções do SLB. Era minha grande esperança ser recebido como um parceiro positivo e contribuinte para a comunidade do Benfica e estou obviamente a ter de avaliar a notória mudança de circunstâncias à medida que avalio esta oportunidade. Mais uma vez, tal como vós [benfiquistas], reservo-me o direito de fazer os meus próprios juízos e as minhas próprias decisões à medida que aprendo mais", frisa.

Além de José António dos Santos, também são arguidos, na operação "cartão vermelho", Luís Filipe Vieira, presidente auto-suspenso do Benfica, Tiago Vieira, o filho, e o agente de futebol Bruno Macedo. A investigação que levou à detenção destes quatro indivíduos envolve financiamentos e negócios que superam os 100 milhões de euros.

Detalhes sobre o caso "cartão vermelho"


Luís Filipe Vieira foi detido na passada quarta-feira e, na sexta-feira, suspendeu funções como presidente do Benfica. A liderança do clube e da SAD foi assumida pelo antigo jogador e vice-presidente Rui Costa.

No sábado, foram conhecidas as medidas de coação aos quatro arguidos. O juiz Carlos Alexandre aceitou todos os pedidos do Ministério Público e decretou prisão domiciliária a Luís Filipe Vieira, até ao pagamento de uma caução de três milhões de euros no prazo de 20 dias.

Luís Filipe Vieira fica obrigado a entregar o passaporte, para evitar uma fuga do país, e não pode contactar os arguidos— à exceção do filho, Tiago Vieira —, além de elementos da direção e da administração do clube e qualquer administrador ou funcionário do Novo Banco, segundo deliberou o juiz Carlos Alexandre (leia aqui a decisão na íntegra).

O presidente do Benfica com mandato auto-suspenso também não pode contactar Nuno Sérgio Durães Lopes, António Rodrigues de Sá, Vítor Manuel Dantas de Machado, Diogo Chalbert Santos e José Gouveia.

Luís Filipe Vieira também não pode falar com Vítor Fernandes, que foi nomeado pelo Governo para liderar o novo Banco de Fomento e que já passou pela Caixa Geral de Depósitos, BCP e Novo Banco.

José António dos Santos terá de pagar uma caução de dois milhões de euros para poder sair em liberdade. O "Rei dos Frangos" também terá de entregar o passaporte às autoridades e fica proibido de contactar os demais arguidos, além de Diogo Chalbert Santos, José Gouveia, Vítor Fernandes e qualquer administrador ou funcionário do Novo Banco.

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