17 jun, 2024 - 06:35 • Eduardo Soares da Silva
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Quando a seleção ucraniana entrar em campo para defrontar a Roménia na primeira jornada do Campeonato da Europa, não entrará apenas para vencer a partida, mas para representar e inspirar um país que continua a ser invadido pela Rússia.
Depois de ter falhado o Mundial do Catar, o Europeu será o primeiro grande torneio com a presença da seleção ucraniana desde o início da invasão russa. E isso terá impacto no país e nos jogadores.
Bohdan Isachenko é ucraniano, tem 20 anos e cresceu em Kiev. É guarda-redes e joga nos sub-23 do Torreense. Acredita que a presença no Europeu vai muito para lá do impacto desportivo.
"O futebol tem um impacto enorme. É uma grande oportunidade para passarmos a nossa mensagem. Serão muitas entrevistas, conferências de imprensa. É preciso mostrar ao mundo outra vez que está tudo igual. As pessoas estão a sofrer", explica.
A Rússia invadiu a Ucrânia em fevereiro de 2022, há mais de dois anos. E, por isso, a presença no Europeu é um motivo de orgulho e que atesta à resiliência do povo ucraniano: "Quanto mais longe for a Ucrânia no torneio, melhor será, mais se falará da guerra e de que somos uma nação forte".
Para os ucranianos, o Campeonato da Europa pode significar "esperança e um empurrão emocional", segundo o jovem guarda-redes, que já jogava em Portugal quando a guerra chegou a solo ucraniano.
"Tinha feito 18 anos e quando acordei nesse dia, tinha um número enorme de mensagens da minha família. Fiquei chocado, mal dormi essa semana inteira. Estava sempre no telefone com eles, não conseguia tirar aquilo da cabeça", recorda.
Foi o Sporting de Braga que ajudou Isachenko a trazer a família para Portugal: "Arranjaram trabalho para a minha mãe e colocaram a minha irmã na escola. As pessoas que me são mais próximas estavam seguras, mas entretanto já voltaram para lá".
De regresso ao Europeu, Zinchenko, lateral do Arsenal, tem sido uma das principais vozes da seleção e fala regularmente sobre a guerra. Isachenko espera que outros sigam o mesmo caminho: "São jogadores muito conhecidos, são responsáveis pela nossa seleção, é muito bom que continuem a falar sobre a situação".
A Ucrânia vai defrontar a Eslováquia, Roménia e Bélgica, um grupo de equipas que permite sonhar com a passagem, mas não só: "Têm qualidade não só para passar o grupo como para lutar pelo primeiro lugar com a Bélgica".
Isachenko vai mais longe: a Ucrânia pode ser a grande surpresa do torneio.
"Acho que podem chegar até às meias-finais, porque eles conseguem competir com as maiores equipas. O novo selecionador Serhiy Rebrov melhorou a equipa, estão a crescer de jogo para jogo".
As esperanças ucranianas justificam-se com a qualidade do plantel. O guarda-redes destaca o goleador Dovbyk, que marcou 24 golos e registou 10 assistências pelo Girona na La Liga e o promissor médio Georgiy Sudakov, do Shakhtar Donetsk.
A Ucrânia arranca a participação no Europeu às 14h00, contra a Roménia. Defronta a Eslováquia no dia 21 e a Bélgica a 26 de junho.