23 jun, 2024 - 09:05 • Francisco Sousa
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O adversário era completamente diferente do primeiro jogo, no modelo, nos conceitos de jogo, no nível individual e no sistema, desde logo. Portugal sabia o que esperar da Turquia e Roberto Martínez, como se previa, voltou a alterar o aparelho tático, apresentando-se numa base inicial em 4-2-3-1, que encaixava na disposição tática do oponente.
Uma das melhorias face a jogos recentes esteve na forma como a equipa portuguesa se predispôs a pressionar em zonas adiantadas, de forma mais agressiva e certeira – é de lembrar, por exemplo, os equívocos a definir zonas de pressão no particular com a Croácia. Com utilização de referências individuais em terrenos subidos para encaixar na saída turca, a equipa nacional fez o adversário hesitar (sobretudo os dois centrais, ponto frágil da turma de Montella), recuperou bolas mais à frente e com isso aproximou-se da baliza de Altay Bayindir.
Com bola, Portugal foi alternando entre a construção usual a três (com recuo de Palhinha e até alguns movimentos de Vitinha a baixar para junto de Pepe e Rúben Dias) e a saída a partir do duo de centrais, com dois médios a oferecerem-se mais adiante. A criação de sociedades nas duas alas foi importante para Portugal ganhar projeção atacante. Do lado direito, Cancelo consegue criar sinergias com Bernardo Silva, com movimentos complementares e alternados, com o lateral a ter facilidade em avançar mais por dentro e o médio/ala a acumular vários passes importantes.
Apareceu também a finalizar na área uma jogada que nasceu no flanco oposto: Rafael Leão apareceu mais aberto na esquerda, Nuno Mendes atacou a linha de fundo, surgindo mais por dentro e cruzou para a área onde apareceram CR7 e Vitinha, importante no movimento de ataque surpresa à área, a permitirem que se abrisse o espaço para o remate de Bernardo. Cancelo foi também fundamental no caricato lance do segundo golo, no momento de pressão e recuperação sobre o oponente, ainda antes da má opção de passe para Cristiano.
Nem tudo correu bem a Portugal no primeiro tempo, ainda assim: a primeira situação de ameaça séria até foi da Turquia (cruzamento largo da direita para finalização perigosa ao segundo poste), que ia tentando virar o flanco com frequência e nos momentos em que os turcos superaram a pressão, expuseram algumas fragilidades a defender pelos corredores laterais da seleção portuguesa, sobretudo à direita (Cancelo sofreu com as investidas de Aktürkoğlu). Valeu a ação tremendamente competente de Pepe na defesa da área e ainda uma intervenção importante de Diogo Costa.
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Os segundos 45 minutos, e já sem os ‘amarelados’ Palhinha e Rafael Leão, foram de controlo mais pausado e efetivo da posse, aproveitando o desespero e falta de critério da Turquia e conseguindo conjugar uma ou outra situação de ataque organizado a partir de trás, mesmo que nem sempre definindo da melhor maneira no último terço. O contexto permitiu até a Rúben Neves, depois de receber bola de Bernardo Silva, sacar um passe longo para as costas da defesa em busca de Cristiano Ronaldo (curiosamente, e apesar do altruísmo demonstrado, num patamar abaixo do jogo da ronda inicial), que assistiu Bruno Fernandes em posição legítima, aproveitando o erro na definição da linha por parte de Zeki Çelik.
O modo gestão foi importante para percebermos que esta equipa sabe jogar em situações de vantagem, sem perder a paciência e sabendo controlar o jogo defensivamente (apesar dos tais momentos de sofrimento da primeira parte, viu-se uma exibição bastante sólida no espaço mais recuado). A evolução na definição das zonas de pressão e consequente recuperação alta foi positiva, mas fica a ideia de que este é um processo ainda em desenvolvimento. Não está tudo bem por uma vitória por 3-0, mas há certamente sinais de maior esperança na progressão do jogo português. O baile segue com uma partida para cumprir calendário ‘a sério’ ante a Geórgia, antes do duelo com um dos terceiros classificados em Frankfurt, a 1 de julho.
O Geórgia-Chéquia foi um jogo bem divertido de acompanhar, na mesma lógica de outros duelos de seleções da classe média neste Europeu. Ambos os selecionadores voltaram a sistemas que já haviam utilizado anteriormente (3-4-3, defendendo em 5-4-1). A primeira meia-hora checa impôs respeito e mostrou uma equipa com mais argumentos ofensivos e gosto pelo risco do que aquela que vimos na estreia. Houve um assalto à área georgiana, com vários cruzamentos (um dos pontos fortes do jogo checo), também a partir das bolas paradas, a aproximação de Černý e Hložek (novidades no 11) à área e um gigante a erguer-se na baliza (Mamardashvili). Do outro lado, Kochorashvili voltou a ser o garante de uma saída criteriosa a partir do meio-campo, com Davitashvili a movimentar-se entre direita e corredor central e outra vez com o completo Mikautadze, um dos avançados mais destacados do torneio até aqui, a superar em influência a apagada super-estrela Kvaratskhelia.
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A bola parada teve impacto decisivo neste jogo, visto que o golo georgiano chegou de um penálti cometido na sequência de uma bola parada lateral (converteu Mikautadze) e a resposta checa surgiu de canto: marcou Schick ao segundo poste, depois de um desvio em antecipação ao primeiro poste – uma das fragilidades na marcação defensiva da Geórgia. Os checos continuaram a ter mais iniciativa e Ivan Hasek mudou para conseguir aproximar a equipa do golo. Provod somou mais uma exibição conseguida neste torneio, criando com categoria na segunda linha do meio-campo, Matej Jurásek entrou para dar esticões, mas a Chéquia esbarrou sempre no mesmo homem: Giorgi Mamardashvili. Foram 11 defesas, muitas delas brilhantes, de um ‘homem elástico’ que soma a melhor exibição, até ver, de um guardião neste torneio.
Foi notória a evolução na consistência do jogo belga nesta segunda jornada do Europeu. A turma de Domenico Tedesco apresentou-se com uma defesa a quatro, mas saindo com três unidades a partir de trás (Faes-Vertonghen-Theate), tendo Onana como médio mais posicional e soltando Tielemans na segunda linha, com Castagne e Doku na largura, Lukébakio a tentar agitar com a canhota desde a meia-direita, Kevin de Bruyne a conduzir, desequilibrar no passe e combinar na aproximação à área e o poderoso Lukaku com constantes apoios de costas. O primeiro golo nasceu de uma recuperação já no meio-terreno romeno, com Tielemans a ganhar a bola no início do lance e a aparecer à entrada da área para finalizar, depois de Doku combinar por dentro com Romelu. Houve variabilidade na forma de gerar perigo por parte dos belgas, que souberam criar a partir de ataque organizado, de situações de ataque rápido, de contra-ofensivas e também com bolas nas costas da defesa contrária (como no 2-0, em que a partir de um pontapé de Casteels para a frente surgiu a desmarcação certeira de De Bruyne). Lukaku mantém a maré azarada (pouco fino na finalização e, quando acerta bem, vê os golos anulados), mas está lá para gerar jogo em apoio e mostra estar ativo na busca pelo disparo.
Do outro lado, a Roménia sofreu desde início por não ser uma equipa muito eficaz a elaborar ataques a partir de trás, mas em momentos pontuais viram-se situações de ameaça, quer a partir de cruzamento (grande ocasião de Drăgușin), quer em saídas rápidas. Dennis Man viu Casteels tapar-lhe uma grande chance, depois de um erro inexplicável de Onana. No final, não deu para mais, mas continuam a existir boas chances de apuramento para os romenos.
Aos 41 anos, continua a ser um dos baluartes da Seleção Nacional. O sentido posicional, a intuição, a pujança nos duelos e no desarme (além do rigor no passe) levam a que seja uma unidade indiscutível, desde que esteja na melhor forma física (o que parece ser definitivamente o caso). Mereceu a ovação de pé do Signal Iduna Park aquando da saída.
Impossível não será, mas é difícil um jogador somar tantas imprecisões decisivas em apenas dois jogos de uma fase final. Depois do autogolo e equívoco que permitiram a reviravolta a Portugal na primeira jornada, cometeu um penálti escusado que catapultou a Geórgia para a vantagem no jogo