25 mar, 2020 - 18:15 • José Pedro Pinto
O guarda-redes português do Granada, Rui Silva, considera que o drama atual em Espanha deve-se ao desleixo e ao tardio despertar do país para a pandemia do novo coronavírus.
Espanha já ultrapassou a China no número de fatalidades decorrentes da Covid-19 - mais de 3.400.
"A situação é muito preocupante. Está muito complicado. No início, as pessoas desleixaram-se, tal como aconteceu em Itália e não se precaveram. Pensavam que isto era uma brincadeira, que era um vírus que não tinha qualquer significado. As pessoas facilitaram e quando deram por isso, já muita gente tinha testado positivo. O contágio segue a ritmo elevado. Se calhar, as medidas tomadas foram decretadas tarde. Os números falam por si", aponta, em entrevista a Bola Branca.
O prolongamento do estado de emergência em Espanha levou já a La Liga e a Federação a ampliar o período de suspensão dos campeonatos. Rui Silva agarra-se à esperança de que se possa concluir a época.
"O Euro 2020 foi adiado. Com isso, poderão concluir esta época. Era muito bom poder terminar a época, porque ainda faltam 11 jogos e muitos pontos em disputa", salienta.
Importante igualmente é saber lidar emocional e fisicamente com a quarentena imposta a todos os jogadores, um pouco por todo o mundo. Rui Silva descreve a Bola Branca como é viver em Espanha em plena pandemia do novo coronavírus.
"É complicado porque estamos habituados a ter o nosso dia-a-dia. Em casa, tento treinar todos os dias mas não é a mesma coisa, ainda para mais um guarda-redes, com trabalho específico. Esta é a segunda semana de quarentena e ainda temos mais três semanas complicadas pela frente porque prolongaram o estado de emergência em Espanha. Sentimo-nos presos. Só saio de casa para fazer compras essenciais ou levar a minha cadela à rua para fazer as necessidades. Mesmo nas ruas, existe um controlo muito grande da polícia. Já fui parado uma vez pela polícia, quando me dirigia à farmácia. Fui logo confrontado, perguntaram-me onde ia e deram-me indicações para ir para casa o mais depressa possível", relata Rui Silva, para quem Espanha despertou tarde demais para a crise da Covid-19.
"Cortar salários dos jogadores faz todo o sentido"
Numa altura em que os clubes debatem-se intensamente com a quebra de receitas, a solução para a sobrevivência do futebol poderá passar por cortes temporários nos salários dos jogadores. E, se assim for, que seja. Em Bola Branca, a disponibilidade para um sacrifício em prol da continuidade do futebol tal como o conhecemos no pós-coronavírus é assumida por Rui Silva.
O guardião português de 25 anos ainda não foi contactado pelos donos asiáticos do emblema da Andaluzia nesse sentido. Mas quando o telefone tocar, Rui Silva saberá o que responder.
"Faz todo o sentido. Sei que é complicado. Todos nós gostamos de chegar ao fim do mês e receber o nosso salário. Mas esta pandemia está a afetar muito a economia e o futebol envolve muito dinheiro. É normal que os clubes se possam ressentir, porque vivem de receitas, de direitos televisivos e patrocínios. Agora não há nada disso. Neste momento, ainda não nos disseram nada [da parte do Granada]. Estamos a aguardar, sempre em contacto com o clube. Se essas medidas avançarem, mais para a frente saberemos alguma coisa", declara.
Futuro - com o Bétis a bater à porta - para abordar só após a pandemia
Ainda assim, o futebol tem de continuar, para além deste momento pandémico. Nos últimos dias, o nome de Rui Silva foi apontado ao Real Bétis. A intenção do guarda-redes de 25 anos é continuar em Espanha mas o futuro será ditado no final da época. Para já, há algo mais importante do que o futebol: a vida humana.
"Essa é a prioridade. Há muitas pessoas a morrer no mundo. O meu foco é que isto termine o mais depressa possível e, depois, terminar a época um bom nível. Eu vi as notícias dos últimos dias, a ser associado a alguns clubes. Quero continuar na La Liga, para mim é o melhor. O meu foco é continuar aqui. Tenho mais um ano de contrato com o Granada e quando terminar a época, tratarei do futuro com o meu empresário", conclui.