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Mundial 2022

Qatar diz que "entre 400 e 500" trabalhadores morreram nas construções

29 nov, 2022 - 14:51 • Lusa

O secretário-geral do Comité Supremo para Entrega e Legado do Qatar assume um número muito superior ao anterior divulgado pelo país, de cerca de 40 mortes. Ninguém sabe ao certo quantos trabalhadores morreram, mas há previsões que apontam para mais de seis mil.

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O número de trabalhadores mortos no Qatar durante a preparação para o Mundial de futebol ficou entre "400 e 500", um número drasticamente maior do que anteriormente anunciado, admitiu um responsável do Qatar.

De acordo com a Associated Press, as declarações de Hassan al-Thawadi, secretário-geral do Comité Supremo para Entrega e Legado do Qatar, foram feitas durante uma entrevista com o jornalista britânico Piers Morgan.

Os comentários de Al-Thawadi poderão aumentar as críticas feitas pelos grupos de direitos humanos sobre o custo para os trabalhadores migrantes do país sediar o primeiro Mundial de Futebol no Médio Oriente, quando 200 mil milhões de dólares (19,3 mil milhões de euros) foram gastos em estádios, linhas de metro e novas infraestruturas necessárias para o torneio.

O Comité Supremo e o Governo do Qatar ainda não responderam a um pedido de comentário feito esta terça-feira pela AP sobre as declarações de Al-Thawadi.

Na entrevista - em trechos já publicados por Piers Morgan na internet -, o jornalista britânico pergunta a Al-Thawadi: "Qual é o número honesto, totalmente realista de trabalhadores migrantes que morreram, como resultado do trabalho que estão a fazer para o Mundial de Futebol, na totalidade?".

"A estimativa é de cerca de 400, entre 400 e 500", respondeu Al-Thawadi.

Entretanto, esse número não foi anteriormente discutido publicamente. Os relatórios do Comité Supremo datados de 2014 até ao fim de 2021 incluem apenas o número de mortes de trabalhadores envolvidos na construção e reforma dos estádios que esta terça-feira sediam o Mundial de futebol.

O número total de mortes divulgado pelo Governo do Qatar foi de 40. Estes dados incluem 37 que as autoridades locais descrevem como incidentes não relacionados com trabalho, como ataques cardíacos, e três de incidentes no local de trabalho. Num outro relatório também surge separadamente a morte de um trabalhador devido ao novo coronavírus durante a pandemia de covid-19.

Desde que a FIFA concedeu o torneio ao Qatar em 2010, o país tomou algumas medidas para reformular as práticas de emprego. Isso incluiu a eliminação do chamado sistema de emprego 'kafala', que prendia os trabalhadores aos seus empregadores, que podiam decidir se os funcionários poderiam deixar os seus empregos ou até mesmo o país.

O Qatar também adotou um salário mínimo mensal de 1.000 riais do Qatar (275 dólares ou 265 euros) para os trabalhadores e exigiu subsídios de alimentação e moradia para funcionários que não recebem esses benefícios diretamente dos seus empregadores. Também atualizou as suas regras de segurança para os trabalhadores para evitar mortes.

"Uma morte é uma morte a mais. Puro e simples", acrescentou Al-Thawadi na entrevista.

Ativistas pediram a Doha que faça mais, principalmente quando se trata de garantir que os trabalhadores têm os salários em dia e são protegidos de empregadores abusivos.

O comentário de Al-Thawadi também renova as questões sobre a veracidade dos relatórios de Governos e das empresas privadas sobre ferimentos e mortes de trabalhadores nos Estados do Golfo Pérsico, cujos prédios foram construídos por trabalhadores de países do sul da Ásia, como Índia, Paquistão e Sri Lanka.

Mustafa Qadri, diretor executivo da Equidem Research, uma consultoria sobre trabalho que publicou relatórios sobre o custo da construção para os trabalhadores migrantes, disse que ficou surpreso com a observação de al-Thawadi.

"Para ele, vir agora e dizer que há centenas [de mortos], é chocante. Eles não têm ideia do que está a acontecer", declarou Qadri à AP.

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