Siga-nos no Whatsapp
A+ / A-

Dinheiro saudita ameaça futebol mas só "Ronaldos" não fazem uma Liga

30 jun, 2023 - 08:23 • Hugo Monteiro

"Atual ciclo de vida do futebol europeu está perto do seu fim", defende especialista.

A+ / A-

Os altos valores pagos na liga saudita agravam, no imediato, o risco de insustentabilidade do futebol europeu, defende Daniel Sá, que estuda o impacto do futebol na economia. O também diretor executivo do Instituto Português de Administração e Marketing acredita que o "atual ciclo de vida do futebol europeu está perto do seu fim, porque vive-se uma desproporção significativa. Há cinco ligas demasiado ricas e dentro dessas ligas ricas temos clubes demasiado ricos e futebolistas demasiado ricos também. E isto não tem sentido do ponto de vista do modelo de negócio".

Um modelo de negócio que, de acordo com este especialista, "está a chegar ao seu fim". "A UEFA e a própria FIFA vão ter que encontrar novas fórmulas de gerir a riqueza que esta indústria gera. Acho que, mais tarde ou mais cedo", vão ser definidos "tectos máximos aos salários e aos valores das transferências de jogadores".

Ora, neste sentido, "a liga saudita é, no curto prazo, uma ameaça perigosa para o cenário europeu", porque "os sauditas acenam com montanhas de dinheiro aos jogadores e isto é, no imediato, um problema". "Corre-se o risco de haver uma debandada maior. Provavelmente, esse risco pode ter que acontecer no curto prazo, porque o modelo é insustentável e nunca poderemos pensar nesta indústria para o próximo ano ou para daqui a dois anos. O futebol é uma indústria que tem que ser vista daqui a 10 anos e está a sofrer muitas transformações", explica Daniel Sá.
O diretor executivo do IPAM coloca, no entanto, dúvidas quanto à capacidade da liga saudita se impor como o melhor campeonato do mundo. "Acho que ainda é prematuro conseguir avaliar o impacto desta tentativa saudita de furar a hegemonia europeia. Isso não passa apenas por ter dinheiro e despejar dinheiro nos clubes europeus e nos atletas e levá-los para lá. Para o sucesso de uma competição, isso não é suficiente. É preciso mais consistência".
Para isso, é preciso que os sauditas "invistam na indústria como um todo". "Estou a falar num investimento em médicos, fisioterapeutas, treinadores, cientistas do futebol. Bem como em toda a componente de marketing, de maximização de receitas, de bilheteira, de patrocínios. Portanto, não chega ter um Ronaldo ou vários Ronaldos para que a liga seja a melhor do mundo. Precisa, de facto de todo o 'circo' que está montado à volta da indústria do futebol. Isto não se consegue num ano, nem em dois, nem em três", concretiza.
Daniel Sá vê esta como "a terceira tentativa de furar a hegemonia da Europa no futebol", depois de uma tentativa norte-americana e outra chinesa. Ambas sem sucesso. No entanto, numa outra modalidade, no golfe, "em dois anos os sauditas conseguiram interferir claramente com as duas principais competições profissionais que existiam: a liga profissional norte-americana e a europeia. O golfe é uma modalidade muito conservadora e, mesmo assim, os sauditas conseguiram entrar e arranjaram forma de neste momento, estar na liderança mundial".
"O que vai acontecer no futebol, não sabemos. Temos que esperar para ver", remata.
Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

Destaques V+