25 mar, 2024 - 16:41 • Eduardo Soares da Silva
Vinícius Jr, avançado brasileiro do Real Madrid, não conteve as lágrimas ao falar sobre racismo antes do jogo particular entre a sua seleção, o Brasil, e a Espanha, país onde joga há seis anos.
O avançado de 23 anos tem sido vítima de vários atos racistas nos últimos anos e um dos principais rostos na luta contra a discriminação racial no futebol espanhol. E um dos únicos, no seu entendimento.
Por todos esses motivos, foi Vinícius que se apresentou em conferência de imprensa de antevisão ao encontro, que será jogado no Santiago Bernabéu. O tema dominante não foi o encontro.
"Cada denúncia deixa-me muito triste. A mim e a todos os negros. Não está só a acontecer em Espanha, mas em todo o mundo. O meu pai sempre teve dificuldades por ser negro. Entre ele e um branco, vão sempre escolher um branco. Luto porque me escolheram a mim e para que não volte a acontecer com mais ninguém", disse.
Repetem-se os casos com Vinícius como vítima e o ainda jovem avançado sente-se "meio sozinho" na sua luta.
"Ainda só tenho 23 anos, tenho muito que melhorar. Saí muito novo do Brasil sem aprender muitas coisas. Mas sinto-me cada vez mais triste, cada vez tenho menos vontade de jogar. É desgastante por estar meio sozinho, já fiz tantas denúncias e ninguém é punido, nenhum clube é punido. A cada dia, luto por todos que passam por isso", disse.
O avançado não evitou as lágrimas e foi aplaudido várias vezes na sala de imprensa. "Peço desculpa, eu só queria jogar futebol, fazer de tudo pelo meu clube e pela minha família".
"A falta de castigos é o que mais me frustra. Essas pessoas seguem a vida como se nada fosse. Jogar futebol é muito importante, mas a luta contra o racismo é importantíssima. Que toda a gente de cor possa ter uma vida normal. Sinto-me pior a cada denúncia, mas tenho de vir aqui e dar a cara. Já pedi ajuda à UEFA, à FIFA, CONMEBOL, CBF", prossegue.
Vini Jr. garante que não deixará os racistas vencerem no seu caso. Garante que "nunca pensou sair da La Liga", seria "dar aos racistas o que eles querem".
Tarja e boneco enforcado foi colocada poucas horas(...)
O avançado cumpre a sua sexta época nos "merengues" e tem subido de rendimento ao longo dos anos. Apontou 23 golos e 19 assistências na época passada e caminha para registos semelhantes na atual temporada. Ficou em sexto lugar na Bola de Ouro da época da passada e já é encarado como um dos melhores da atualidade.
"Tenho a certeza que a Espanha não é um país racista, mas há muitos racistas aqui e muitos deles estão nos estádios. É preciso mudar. Estou de acordo que o racismo está aumentar. Insultam-me pela minha cor para fazer-me jogar mal. Podem dizer outras coisas que eu não vou dizer nada. Quem me dera subir ao relvado e não pensar no que pode acontecer", terminou.
O primeiro caso de racismo a envolver o jovem brasileiro foi em outubro de 2021, num clássico contra o Barcelona. O caso foi reportado ao Ministério Público catalão, mas terminou arquivado. Em março de 2022, numa visita ao Maiorca, ouviram-se sons de macaco e adeptos a pedir para Viníciius "ir buscar bananas".
A época 2022/23 viu um acumular de casos: um comentador desportivo pediu ao brasileiro que "parasse de fazer macaquices", os adeptos do Atlético de Madrid enforcaram um boneco com a camisola do jovem e acumularam-se casos em visitas ao Bétis e, talvez a mais mediática, no Mestalla, casa do Valência.
Os adeptos do clube entoaram músicas em que chamavam Vinícius de macaco. O brasileiro confrontou adeptos nas bancadas, o jogo chegou a estar interrompido e motivou até críticas entre o avançado e Javier Tebas, presidente da La Liga.
Mais recentemente, já esta época, Vini voltou a ser o alvo na visita ao Barcelona no início da temporada e voltaram a ser-lhe atiradas bananas. No total, Vinícius já apresentou queixa mais de dez vezes por racismo.