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Sérgio Vieira

É normal despedir um treinador após quatro jogos? No Brasil, a resposta é sim

21 jun, 2024 - 12:30 • Luís Aresta

Sérgio Vieira foi pioneiro dos treinadores portugueses no Brasil. Lamenta, mas não fica surpreendido com a curta passagem de Álvaro Pacheco pelo Vasco da Gama.

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Despedir um treinador ao fim de um mês e quatro jogos é normal? A resposta é “sim”, sobretudo se for no Brasil. É o que acaba de acontecer a Álvaro Pacheco que, após uma saída polémica do Vitória de Guimarães, deixa o Vasco da Gama ao fim de uma curtíssima passagem.

Sérgio Vieira, que em 2015 se tornou no primeiro português a treinar no Brasileirão no Atlético Paranaense, lamenta a saída prematura de Álvaro Pacheco do Vasco da Gama. Lamenta, mas não estranha.

"Conheço bem a forma de pensar de todos os intervenientes – dirigentes, jogadores, treinadores, adeptos e imprensa. É com toda a naturalidade que vejo isto que aconteceu com o Álvaro, infelizmente para ele, para a sua equipa técnica e para o Vasco da Gama. Acredito que com um trabalho a médio prazo o Álvaro conseguiria implementar as suas ideias, mas é com toda a naturalidade que vejo isto, porque é um contexto habituado a este tipo de situações”, diz.

Álvaro Pacheco saiu do Vitória em rutura com o presidente, um conflito que deu até origem a uma queixa-crime de difamação.

O treinador de 52 anos esteve quatro jogos no cargo: foi goleado pelo Flamengo, por 6-1, na estreia; perdeu em casa do campeão Palmeiras por 2-0; empatou com o Cruzeiro e perdeu com o Juventudo, por 2-0, resultado que ditou a saída.

O ex-técnico de Vitória SC e FC Vizela teria necessitado de mais tempo para introduzir as suas ideias no Vasco da Gama, mas pedir tempo é pedir demasiado, sobretudo em campeonatos como o Brasileirão, considera o treinador.

“Não significa nada quanto à qualidade dos processos e da liderança. É muito mau, mas infelizmente é o futebol que temos, é assim que o ser humano está a pensar, erradamente na minha opinião. Mas temos de nos habituar a estes contextos e quando vamos temos que estar preparados para estas situações”, declara.

O novo treinador do Portimonense esteve três anos no Brasil e passou por vários clubes: Atlético Paranaense, Guaratinguetá, Ferroviária, América Mineiro e São Bernardo. Sérgio Vieira identifica os princípios básicos para que um treinador estrangeiro se possa aventurar no Brasil com alguma margem de sucesso.

“Quando se chega a um clube no Brasil, ganhar não é para o próximo jogo, é para ontem como se costuma dizer. Não há tempo para nada. É preciso identificar os fatores que contribuem para as vitórias: a qualidade dos jogadores, o sistema certo, a estratégia certa, o que vamos pedir aos jogadores já no próximo jogo sem os tirar da zona de conforto imediata, tentar que haja um encaixe técnico, tático, humano e físico, no sentido de obter logo a vitória no primeiro jogo, para depois, através das vitórias conseguir alguma estabilidade para desenvolver algo mais qualitativo”, esclarece.

Ora, reunir todos estes fatores, em certos casos, é como alinhar os astros na perfeição. Esta dificuldade tem levado o novo treinador do Portimonense a rejeitar sucessivos convites para voltar ao Brasil. O regresso não é impossível, mas o contexto dificulta a decisão.

“Esta temporada tive convites, praticamente tenho sempre, só que é muito difícil tomar esta decisão se não for para o contexto certo, com as condições e no 'timing' certo. Voltaria, se fosse num projeto com grande dimensão, com esses fatores todos bem alinhados, porque é muito difícil a nível cultural aquilo que se vive no futebol brasileiro”, conclui.

Sérgio Vieira treinou na época passada o Estrela da Amadora, tendo garantido a continuidade do emblema tricolor na I Liga. O seu novo desafio é o despromovido Portimonense, com contrato até junho de 2026.

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