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Jorge Silvério

Incerteza sobre o recomeço das competições "dispara a ansiedade" dos jogadores

31 mar, 2020 - 13:09 • Pedro Azevedo

Jorge Silvério, especialista em psicologia no desporto, analisa momento mental dos jogadores de futebol, à entrada para a terceira semana sem competição, devido à pandemia do novo coronavírus, e sugere estratégias para o combate ao problema.

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Jorge Silvério, especialista em psicologia no desporto, acredita que a ansiedade dos jogadores está a aumentar, à medida que o tempo passa sem poderem - e sem saberem quando poderão - voltar a jogar futebol.

Liga e Federação anunciaram a paragem dos campeonatos a 12 de março e, à entrada para a terceira semana sem competição, Bola Branca convidou Jorge Silvério a avaliar o momento mental dos atletas.

“É uma situação muito desafiante, porque há uma grande dose de incerteza para os atletas envolvidos. O Europeu, ao ser adiado, reduziu um pouco a incerteza, porque há atletas que estavam a lutar e tinham como objetivo estar na competição e, agora, já se sabe que só se realiza no próximo ano. Mas ainda persiste muita incerteza a variados níveis e, quando há incerteza, há ansiedade", assinala.

O especialista em psicologia no desporto detalha alguns dos catalisadores dessa incerteza: "A maior parte das competições não se sabe ainda quando vão recomeçar e em que moldes. Há muitos atletas que acabam contrato no futebol, portanto há fatores que traduzem a incerteza. É como na nossa vida, quando não sabemos o que vai acontecer, como se verifica, agora, com este vírus. Não sabemos quando isto vai acabar e há muitas pessoas a desenvolver ansiedades em função dessa incerteza."

O que fazer para combater a ansiedade?


Perante a ansiedade crescente nos atletas, Jorge Silvério preconiza a receita mais adequada.

“Os atletas têm uma vantagem, porque o exercício físico é um fator protetor que permite lidar melhor com a ansiedade, com eventuais sintomas depressivos, e com controlo de stress. Os atletas, estando obrigados a fazer esses exercícios físicos, embora de forma diferente, porque a maioria não pode fazê-lo nos locais habituais, funciona como proteção. E a obrigatoriedade de treinar ajuda a criar rotinas durante o dia e esse é outro fator extremamente importante que todos nós que estamos confiados às nossas casas", explica.

O especialista salienta que todos, sejam ou não atletas, devem "ter rotinas diárias, em termos de trabalho".

"Há outro aspeto relevante, que é o contacto social. Não é possível ser feito nos moldes anteriores, mas as novas tecnologias permitem manter esse contacto e é muito importante para enfrentar da melhor forma possível esta situação de confinamento”, acrescenta.

Estratégia dos jogadores


A data para o regresso à normalidade é uma incógnita e Jorge Silvério sugere aos jogadores estratégias de motivação.

“Quanto tudo isto passar, haverá uma normalidade diferente da que estávamos habituados. E será importante os atletas estabelecerem objetivos. No meu ponto de vista, a ferramenta mais importante em termos de motivação são os objetivos. E é importante os atletas começarem a pensar em objetivos a médio-longo prazo. É uma estratégia muito importante no combate a este problema”, revela.

Os jogadores são todos diferentes e, pelas caraterísticas que reúnem, terão mais ou menos dificuldade para o retorno ao melhor rendimento. Isso pode revelar-se um fator diferencial, na altura em que a competição recomeçar:

“Do ponto de vista mental, os atletas que forem capazes de manter os seus níveis de motivação, confiança, de controlo emocional a top, quando as competições recomeçarem, terão aí uma vantagem. Será mais fácil retomarem as condições e estarem mais próximos de conseguirem o seu máximo desempenho."

Treinadores e dirigentes em contacto permanente


Sem treinos e com os jogadores confinados ao isolamento nas suas casas, Jorge Silvério realça a importância de todos se manterem ligados.

“Da parte dos treinadores, das equipas e dos dirigentes, é importante manter os contactos com os jogadores. Sei que vários clubes já conseguem fazer treinos em grupo com cada um em sua casa, havendo de alguma forma convívio e envolvimento do grupo no treino. Há diferentes maneiras de fazer com que isto funcione e resulte”, refere.

Jorge Silvério é doutorado em Psicologia do Desporto, pela Universidade do Minho.

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