04 mai, 2020 - 12:56
Especialista em treino desportivo, Nuno Teixera considera que é "ridículo" manter treinos em que os jogadores "têm de respeitar um pseudo-distanciamento social ". Na opinião do docente universitário no mestrado em treino desportivo, se foi dada autorização para o campeonato arrancar, não devia haver condicionalismos.
“Ora das duas uma, ou foram calculadas todas preocupações para que este retomar de campeonato seja verdadeiramente executado, e então não faz qualquer sentido este tipo de condicionalismos, ou por outro lado, não foram calculadas todas as dificuldades e perigos, e andamos a brincar aos dirigentes desportivos", afirma.
"Aí o importante é dar a entender que se vai voltar com todas as precauções, mas, na realidade, o que se está a fazer é atirar para a fogueira os jogadores e os restantes intervenientes, na expectativa de que tudo corra bem”, refere em tom crítico Nuno Teixeira, no dia em que a maior parte das equipas da I Liga, regressaram ao trabalho, para realizar exames aos jogadores e treinos individualizados no relvado.
Equipas sem trabalho tático
Perante os condicionalismos dos treinos, a questão que se coloca é como as equipas técnicas preparam os jogadores para a reta final do campeonato? “Não se prepara, repara-se”, diz Nuno Teixeira, nesta entrevista à Renascença.
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O docente universitário lembra que “esta época não está a começar, está a acabar. Existem modelos de jogo pré-adquiridos, relações intra-jogadores já pré-existentes e acima de tudo uma tabela classificativa. Provavelmente as equipas técnicas, estarão a aproveitar estes treinos semi-individualizados, para confirmar e reforçar pequenos aspetos físicos, técnicos e psicológicos. É claro que em algumas situações mais particulares poder-se-ia treinar algumas situações táticas através de jogos reduzidos, mas com as limitações impostas não me parece viável”, argumenta.
O risco de contágio é um receio no regresso dos treinos e da competição. Mas, mentalmente, o tema já estará devidamente preparado pelas equipas técnicas.
“A questão do fantasma da pandemia já deverá ter sido tratado nestes últimos treinos, porque foram treinos mais individualizados onde se pode gerir o tempo também com outro tipo de ações psicológicas. Daqui para a frente e logo que seja permitido o treino sem os atuais condicionalismos deverá centrar-se nas questões táticas, de como ultrapassar os adversários que faltam, lidando com as ansiedades dos objetivos de cada equipa”, sustenta.
Sugestão para abrir os estádios ao público
Nuno Teixeira defende que o campeonato torna-se injusto para vários agentes, a começar pelos adeptos. A propósito, lança uma sugestão à Liga: “É injusto para os adeptos realizar-se os jogos à porta fechada. Gostaria de aproveitar a oportunidade para lançar uma questão muito simples: se reduzissem a capacidade dos estádios para 1/3 mantendo o distanciamento social, não seria possível ajudar os clubes com mais um pequeno suporte financeiro, permitindo que os adeptos até 1/3 da capacidade pudessem assistir ao jogo?”, questiona.
O docente universitário considera que os jogos à porta fechada serão muito diferentes a vários níveis. “Já não falando no aspeto motivacional, os jogadores terão que ter em conta que sem o ruído da assistência todas as verbalizações, incluindo as dirigidas à equipa de arbitragem, vão ser audíveis. E depois? Como é que ficarão os árbitros depois de todos nós assistirmos, em casa pela televisão ou pela rádio, aos jogadores a insultarem-nos no stress do jogo e eles a não fazerem nada? Porque muitas das vezes para não estragarem o jogo, os árbitros fazem “ouvidos moucos” e deixam rolar o jogo”, lembra.
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Campeonato não deveria ser retomado
No plano desportivo, Nuno Teixeira enumera alguns aspetos segundo os quais o campeonato será injusto para várias equipas.
"Parece-me injusto para as equipas que, neste momento, estão dentro dos seus objetivos e se viram prejudicadas na continuidade do seu sucesso. Para um FC Porto que terá de lutar com um Benfica descansado, para um Braga que terá agora à perna um Sporting revigorado, pelo tempo acrescido de preparação por parte da nova equipa técnica, ou de um Paços de Ferreira que tenta fugir a uma despromoção 'contra' o Portimonense", concretiza.
"As condições, por muito que queiramos, não são as mesmas. A motivação ou a consciencialização do que se está a passar, do ponto de vista desportivo é diferente, por isso não me parece desportivamente correto, nem socialmente aceitável para os jogadores que se retome a um campeonato modificado pela situação. Reitero a minha posição, que não deveria haver mais jogos esta época”, defende Nuno Teixeira, em entrevista a Bola Branca.
A I Liga poderá regressar no final de maio. A decisão foi anunciada pelo Governo, mas está dependente de nova avaliação da Direção-Geral da Saúde. O regresso do futebol está incluído no plano de desconfinamento anunciado por António Costa.