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​O passado dourado do Fabril, adversário do FC Porto na Taça de Portugal

20 nov, 2020 - 18:20 • Pedro Castro Alves

Manuel Fernandes e Fernando Oliveira relembram o passado europeu, o sucesso nacional e a queda no esquecimento do Grupo Desportivo da CUF, clube que deu origem ao Fabril do Barreiro

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Foi a 27 de janeiro de 1937 que Alfredo da Silva, diretor da Companhia União Fabril, cumpriu o desejo dos seus trabalhadores e criou Grupo Desportivo da CUF do Barreiro, um clube que viria a marcar o futebol português durante quase meio século.

A equipa participou nos primórdios da 1ª divisão nacional, inicialmente como Unidos do Barreiro por ser proibido aos clubes portugueses utilizar o nome de empresas. Em 1942/43, já com o nome de CUF, conquista o quarto lugar numa época em que venceu o FC Porto em casa e fora, numa histórica goleada por 2-6.

Após alguns anos na segunda divisão, a CUF regressa à I Liga em 1953, iniciando uma caminhada de 22 anos no principal escalão do futebol português, incluindo 13 anos consecutivos em que nunca terminou abaixo do 9.º lugar.

A década de 60 foi de solidificação para o GD CUF. Conquistou o quarto lugar na temporada 1961/62 e na época 1964/65 terminou em terceiro, atrás apenas de FC Porto e Benfica. Esta classificação significou o apuramento para a extinta Taça das Cidades com Feiras, antecessora da Liga Europa.

A estreia na Europa coincidiu com o ano de inauguração do Estádio Alfredo da Silva, em homenagem ao seu já falecido fundador, que encheu passados poucos meses para um jogo histórico. A CUF recebeu os gigantes do AC Milan e venceu italianos por 2-0. Nesse jogo, Fernando Oliveira marcou o primeiro golo e conquistou o penálti para a marcação do segundo, por Abalroado.

Em entrevista a Bola Branca, o antigo avançado relembrou um “momento histórico” e em “jogo fantástico”. Conta que o treinador do AC Milan, o sueco Nils Liedholm, “dizia no final do jogo que a maior parte daqueles jogadores tinham lugar na sua equipa”, o que provocou um “regozijo enorme”.

Fernando Oliveira, que presidiu o Vitória de Setúbal entre 2009 e 2017, marcou 60 golos em 188 jogos pela CUF na primeira divisão e explica que era “um clube de elite” e que tinha “uma boa equipa, muito respeitada, era com um prazer grande que representávamos o clube”.

Dois anos mais tarde, em 67/68, a equipa do Barreiro regressa à Taça das Feiras, sendo eliminada na primeira ronda pelos jugoslavos do Vojvodina.

Na Taça de Portugal, a CUF alcançou duas meias-finais, perdendo para Benfica e Sporting. As presenças nas competições Europeias voltam a repetir-se, com a participação na renomeada Taça UEFA (1972/73) e a conquista da Taça INTERTOTO em 1974.

Manuel Fernandes jogou seis anos no clube do Barreiro antes de se mudar para o Sporting e lembrou que “a CUF era um grande clube, ao contrário do que as pessoas possam pensar”.

O antigo avançado recorda as excelentes condições de trabalho do clube na altura, comparáveis com as grandes equipas de hoje.

“Íamos para o estrangeiro já de fatinho e gravata, com o emblema da CUF, a representar uma das maiores empresas do país”, diz.

Após o 25 de abril, o clube sofre um duro revés com a nacionalização da Companhia União Fabril. Foi aí Manuel Fernandes saiu para o Sporting. Explica que umas das razões que levaram ao declínio do clube foi o fim da Lei da Opção. “Os jogadores não podiam sair porque pertenciam ao clube”, mas após o 25 de abril “foi bom para os jogadores”, “em 1975 quando acabei o meu contrato e fiquei livre para escolher para onde queria ir” escolhendo o Sporting.

Depois da sua saída, o clube desceu de divisão e “nunca mais se encontrou”, conta à Renascença.

Após a nacionalização, o desinvestimento na secção desportiva é imediato e a equipa deixou de ter argumentos para competir num futebol português em crescimento.

Quatro anos depois da última época na primeira, o clube muda de nome para GD Quimigal, nome que viria a utilizar até ao final do século. Depois de décadas nas divisões distritais, em 2000 o clube regressou aos campeonatos nacionais subindo ao Campeonato de Portugal, altura em que assumiu o nome pelo qual é conhecido nos dias de hoje: GD Fabril.

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