12 fev, 2021 - 19:00 • João Paulo Ribeiro
Veiga Trigo, antigo árbitro, culpa os dirigentes arbitrais pelo atual momento de tensão que existe em torno da arbitragem. O ex-juiz aponta o dedo ao Conselho de Arbitragem, à associação da classe e ao próprio secretário de Estado do Desporto, João Paulo Rebelo.
O tema da arbitragem voltou à ordem do dia depois do jogo entre Sporting de Braga-FC Porto, da Taça de Portugal, com arbitragem de Luís Godinho, que recebeu ameaças.
Em comunicado, o orgão federativo liderado por José Fontelas Gomes já condenou as ameaças ao juiz do encontro e disse “esperar que as autoridades policiais sejam capazes de intervir”, revelando ainda que “voltaram a ser disponibilizados nas redes sociais os contactos telefónicos de árbitros".
O presidente da Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol, Luciano Gonçalves, também condenou as ameaças, em entrevista a Bola Branca. Para Veiga Trigo, a culpa passa também por estes dirigentes da arbitragem.
"A cima de tudo, os árbitros estão a ser ameaçados porque têm falta de dirigentes à altura, que não os defendem em lado nenhum. A sua associação de classe é uma associação para se guiar pessoas para dentro do Conselho de Arbitagem e não defendem os seus interesses", diz.
Veiga Trigo apela à união entre os árbitros, mas não vê que isso possa acontecer, criticando o atual leque de juízes: "Têm de se unir e reinvindicar, mas não estou a ver essa classe arbitral a ter condições para isso, porque não olham a meios para atingir os fins".
O antigo árbitro lamenta as ameaças a Luís Godinho e família e alinha nas criticas do presidente do FC Porto em relação ao secretário de Estado do Desporto, João Paulo Rebelo.
"Ameaças ao árbitro ainda vá lá, agora as famílias com os filhos não podem estar descansados. Vão querer proteção policial para a sua família. Não estou a ver até onde vai o secretário de Estado. O presidente do FC Porto tem razão no que diz, que trabalho é que o secretário de Estado tem feito em prol do desporto? Está a afundar o desporto, nao o defende", diz.
Veiga Trigo recorda ainda o que está para trás e critica o antigo presidente do Conselho de Arbitragem, Vítor Pereira, atual líder da arbitragem checa.
"Vamos passar graves e maus momentos na arbitragem. Não houve renovação na arbitragem. Um senhor, que já não está na arbitragem portuguesa e está noutros países, provocou isto tudo. Quando viu que tudo estava a arder, abandonou o barco", atira.
O antigo árbitro de 69 naos concorda que o árbitro falhou ao expulsar Luis Díaz, no lance que deu origem à lesão grave de David Carmo.
"Claro que o Porto tem razão, só quem não quiser ver, mas houve jogadas mais graves do que a do Luis Díaz e que o árbitro nem cartão mostrou. O Sequeira faz uma entrada sobre o Marega e o árbitro nem marcou falta, nem amarelo mostrou e deveria ter dado vermelho", termina.