26 ago, 2021 - 00:01 • Eduardo Soares da Silva
A violência no desporto português aumentou na temporada passada, apesar de ter sido uma época disputada, na íntegra, sem adeptos nas bancadas.
A conclusão é do relatório de análise da violência associada ao desporto, feito pela Autoridade para a Prevenção e o Combate à Violência no Desporto, em parceria com a Polícia de Segurança Pública.
A época desportiva 2020/21 totalizou 2.335 infrações em espetáculos desportivos, número superior ao registado em 2019/20, quando se apontaram 1.719 incidentes, uma temporada onde apenas a reta final decorreu à porta fechada, após a paragem dos campeonatos devido à pandemia da Covid-19.
Ainda assim, o número de casos da temporada passada é bastante inferior ao de 2018/19, a última época completa realizada sem limitações por causa da pandemia, quando foram registados 3.891 incidentes.
A posse e utilização de artefactos pirotécnicos representa a esmagadora maioria dos incidentes registados, 1.389. Este número é superior aos 817 casos registados na época anterior. Houve um aumento de 71%.
Importa destacar que a utilização destes engenhos decorreu, na época passada, no exterior dos estádios, uma vez que apenas alguns jogos-teste foram realizados com público nas bancadas.
Outro aumento significativo prende-se com o não cumprimento de deveres dos promotores, que subiu de 114 em 19/20 para 315 na temporada passada.
Os restantes incidentes reduziram consideravelmente: injúrias, agressões, danos, incitamento à violência, racismo e xenofobia, arrremesso de objetivos, consumo de estupefacientes.
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Não foi ainda registado nenhum caso de venda ilicita de bilhetes, de adeptos alcoolizados, de roubos e incumprimentos de deveres das empresas de segurança. Ainda assim, houve um aumento significativo de outros casos, cuja natureza não é esclarecida no relatório, que aumentaram de 141 para 439.
O número de detenções reduziu de 61 para 17, assim como os suspeitos identificados foram 335, cifra inferior aos 402 da época anterior.
Dos 2.335 casos de infração, 2.054 aconteceram em jogos de futebol e os restantes 281 em outras modalidades.
A maioria dos incidentes decorreu na I Liga de futebol, com 1.498 casos, superior aos 912 incidentes da temporada 2019/20.
Os campeonatos distritais surgem no segundo lugar, com 200 casos registados. O Campeonato de Portugal, futebol de formação e Taça de Portugal surgem a seguir na lista.
Apenas a II Liga, a Taça da Liga, as competições europeias, os jogos de seleção e amigáveis viram reduzidas as infrações.
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A época 2020/21 trouxe uma redução no número de adeptos interditos de acesso a recintos desportivos, que caiu de 222 para 160.
Ainda assim, este número continua a ser muito superior aos registados em épocas anteriores. Entre 2016 e 2019, um total de 105 adeptos foram banidos, valor inferior à época passada.
51,9% dos casos de interdição decorrem devido à posse e utilização de engenhos pirotécnicos e 28,1% por incitamento à violência, racismo e outras intolerâncias. Arremesso de objetos, injúrias, invasão dos recintos desportivos e agressões são os restantes motivos.
O Vitória de Guimarães foi o clube com mais adeptos interditos (24), seguido do FC Porto (22), do Sporting (18), do Braga (12) e do Benfica (7). De todos os casos de interdição, 65,6% correspondem a pessoas de Grupos Organizados de Adeptos (GOA), ou claques, como são vulgarmente designadas.
Dez interdições foram aplicadas no futsal e duas no hóquei em patins. O futebol domina, mais uma vez, com 119 adeptos banidos de entrar nos recintos desportivos.
Os adeptos estiveram longe das bancadas desde março de 2020, quando foi suspensa toda a prática de desporto em Portugal, incluindo o futebol profissional, com a entrada em vigor do primeiro estado de emergência.
Na Região Autónoma dos Açores, chegou a haver eventos desportivos, nomeadamente jogos do Santa Clara, com público, contudo tal não se repetia no continente nem na Madeira.
Em outubro, houve três jogos-piloto e dois desafios da seleção portuguesa de futebol com presença de adeptos, como teste, e o FC Porto recebeu público num encontro da Liga dos Campeões. Porém, a segunda vaga da pandemia do novo coronavírus deitou quaisquer planos de retoma da assistência por terra.
A 27 de fevereiro e 13 de março, o Santa Clara recebeu Paços de Ferreira e Portimonense, respetivamente, com adeptos nas bancadas, em virtude das medidas impostas nos Açores. Foi a primeira e última vez que se viu tal coisa em 2021. Quando o número de casos de Covid-19 no arquipélago voltou a crescer, o Estádio São Miguel voltou a estar fechado ao público.
A 29 de maio, o Estádio do Dragão, no Porto, recebeu a final da Liga dos Campeões da época 2020/21 entre Chelsea e Manchester City com 16.500 adeptos espectadores, na esmagadora maioria ingleses, nas bancadas.
Esta temporada arrancou com público nas bancadas, podendo os clubes preencher 33% da lotação dos estádios.