22 abr, 2024 - 12:50 • Eduardo Soares da Silva
O Estoril Praia vai avançar com um pedido de impugnação do jogo em Chaves, que terminou com agressões entre adeptos e jogadores e um empate entre as duas equipas, confirmou o clube à Renascença.
O pedido entrará ainda esta segunda-feira e é esperado um comunicado oficial da SAD do clube lisboeta. Na base, estará o artigo 173.º do regulamento disciplinar.
"O clube cujo sócio ou simpatizante agrida fisicamente elementos da equipa de arbitragem,
agentes de autoridade em serviço, delegados e observadores da Liga Portugal, dirigentes,
jogadores e treinadores, coordenador de segurança, assistentes de recinto desportivo e demais
agentes desportivos ou qualquer pessoa autorizada por lei ou regulamento a permanecer no
terreno de jogo, de forma a dar causa a que, justificadamente, o árbitro não dê início ou reinício
ao jogo ou o dê por findo antes do termo regulamentar, é punido com as sanções de derrota,
realização de jogos à porta fechada a fixar entre o mínimo de um e o máximo de três jogos e,
acessoriamente, com a sanção de multa de montante a fixar entre o mínimo de 125 UC e o
máximo de 250 UC
", pode ler-se.
Uma invasão de campo durante o período de descontos do jogo resultou em desacatos e agressões entre adeptos flavienses e jogadores do Estoril Praia, numa altura em que o marcador registava 2-1 a favor dos visitantes.
O guarda-redes Marcelo Carné e Pedro Álvaro foram expulsos por agressões e seis adeptos flavienses foram detidos. O defesa do Estoril foi também identificado pelas autoridades. Nas imagens, é visível o jogador a dar uma joelhada num dos adeptos invasores.
Após uma paragem longa, o jogo foi retomado pela equipa de arbitragem, que notificou as equipas que teriam mais três minutos para jogar. O Chaves chegou mesmo ao empate aos 90+20 minutos, por Hélder Morim. Reduzido a nove jogadores, sem substituições e sem guarda-redes, João Carlos foi obrigado a terminar o jogo na baliza.
É um resultado que pode ter implicações nas contas da despromoção. O Chaves é 17.º com 23 pontos e o Estoril Praia desceu, com o empate, ao 14.º lugar, com 30 pontos.
No final do encontro, o presidente da SAD do Estoril, Ignacio Beristain, lamentou que o agressor tenha tirado vantagem dos incidentes: "Os nossos jogadores, ao defender-se da agressão, foram expulsos pelo árbitro. Todos os que estávamos aqui vimos que não havia condições para [continuar] o jogo, já se tinha cumprido o tempo regulamentar, havia jogadores do Estoril Praia que foram agredidos no relvado, pelo que pedimos ao árbitro para suspender o jogo, mas, como viram, decidiu-se continuar. Quem foi agredido, sofreu o prejuízo".
Os suspeitos detidos foram "libertados e notificad(...)
Esta manhã, a PSP esclareceu que "depois de verificadas as condições de segurança no interior e exterior do recinto desportivo e estando estas garantidas pela PSP, pelas 17h40 o jogo reiniciou, não existindo até ao final do mesmo qualquer outra situação criminal ou de alteração da ordem pública".
O Desportivo de Chaves culpou "as sucessivas provocações do guarda.-redes Marcelo Carné para os adeptos" e lamentou "profundamento os factos ocorridos".
Já a Liga de Clubes, também na noite de domingo, condenou "de forma veemente os incidentes" e "exortou os adeptos à adoção de comportamentos responsáveis, condizentes com o espetáculo que deve ser, sempre, um jogo de futebol”.
O videoárbitro Bola Branca, Paulo Pereira, explica que os cartões vermelhos mostrados a Marcelo Carné e Pedro Álvaro eram inevitáveis perante as imagens e compreende a decisão de levar a partida até ao final.
"Depois da invasão dos adeptos, fica evidente que as ações de Marcelo Carné e Pedro Álvaro ultrapassaram a defesa da sua integridade física e partiram para a agressão. O Nuno Almeida não teria solução a não ser não mostrar o vermelho", começa por explicar.
De seguida, o ex-árbitro considera que Nuno Almeida esperou pelo aval da PSP para retomar o encontro, como confirma também o comunicado desta manhã das autoridades.
"Nuno Almeida terá questionado as autoridades policiais se havia condições de segurança. Certamente, disseram-lhe que sim e continuou o jogo, tendo o Estoril dois jogadores a menos. Caso a autoridade não garantisse a segurança, aí sim poderia dar o jogo por terminado. Não foi a opção, a autoridade confiou que nada mais iria acontecer, e assim foi", esclarece.
Mas poderia o árbitro ter decidido que não existiam condições para o jogo ser retomado, apesar da luz verde da PSP? "Falamos de condições de segurança e essa responsabilidade é das autoridades. Dificilmente, o árbitro poderia alegar isso, a não ser que sentisse a sua integridade física em questão, mas dificilmente poderia dizer que não havia condições, porque não é da sua competência", diz.
"Acho muito difícil que um árbitro fosse contra a palavra e as indicações das forças de segurança e terminasse o jogo. Eu diria que, para o árbitro contrariar essa indicação, teria de não sentir condições psicológicas para continuar o jogo, mas o Nuno Almeida continuou firme e ativo a tentar resolver o problema", acrescenta.
Ainda assim, Paulo Pereira considera que o jogo fica "manchado em termos de moralidade e 'fair play'". "Tenho convicção que autoridades competentes tomarão uma decisão acerca desdes incidentes que colocam em causa a credibilidade do campeonato", conclui.