15 nov, 2024 - 13:00 • Rui Viegas
A carreira de diretor desportivo de Carlos Freitas começou há 25 anos. São muitos os capítulos, motivos de orgulho e angústias, como a morte de Davide Astori, o capitão da Fiorentina. Freitas conta tudo em conversa com Bola Branca.
Comecemos pelo assunto do dia. Tal como aconteceu com Ruben Amorim no Casa Pia, a associação de treinadores avançou com uma queixa contra João Pereira, o novo treinador do Sporting, por não ter os níveis que deveria ter.
“Em 2005 fui confrontado exatamente com a mesma situação, com o Paulo Bento”, recorda Carlos Freitas. “Compreendo que a associação tenha de aplicar as normas, mas os regulamentos têm de ser revistos e ajustados. É mais difícil ser treinador qualificado para treinar na 1.ª Liga do que ser médico neste país.”
E acrescenta: “Isto é um convite para os mais novos, como aconteceu com André Villas-Boas e Mourinho antes, ou Ruben Amorim, irem acabar os cursos fora do país, porque é muito tempo para poder ser treinador com o nível A em Portugal”.
Sobre o sucessor de Amorim em Alvalade, este dirigente que passou muitos anos naquele clube confessa que não via no ex-futebolista o perfil para esta função. “Era um jogador competitivo, mas não era dos que dizemos que tinha características para ser treinador”, reflete Freitas.
Uma coisa é certa: “Vai ser confrontado com uma herança pesada. [Vai ser importante] a forma como vai reagir no dia a dia, como vai intervir antes dos jogos, no decorrer dos mesmos. Em termos científicos e teóricos, a preparação será a mesma, o jogo é diferente do Ruben nalguns aspetos, vai beneficiar de uma estrutura que está consolidado, que o vai proteger”.
Olhando para o seu ofício, o tal que agora cumpre 25 anos, Carlos Freitas olha também para a transferência de Hugo Viana para o Manchester City, algo “ótimo” para o futebol português, garante. “[O percurso] foi um pouco tormentoso, mas com a chegada de Ruben Amorim o Hugo revelou um equilíbrio e qualidade nas escolhas que o levaram para esse patamar”, sinaliza, lembrando ainda o caso de Luís Campos no PSG.
“Aquilo que o espera é o ponto mais alto do futebol europeu”, continua Carlos Freitas. “Mas seguramente vai ingressar numa estrutura que lhe permitir exprimir aquilo que tem de melhor por mostrar. A inteligência, o equilíbrio e a discrição vão ser fatores determinantes para se impor facilmente.”
Carlos Freitas entende que não seria “compatível” estar com um pé nos dois clubes. As declarações de Rúben Dias, que davam conta da chegada de Viana ao Etihad em fevereiro, fizeram soar alguns alarmes. “O facto de haver já compromisso para a próxima época não faz com que o Hugo Viana esteja a olhar nesta altura para uma casa diferente.”
Ainda sobre a carreira, Carlos Freitas olha com orgulho para o passado na Fiorentina e no Sporting, dois clubes com dimensão europeia. Este dirigente, também comentador do Canal 11, lamenta ter vivido de perto a morte trágica de Davide Astori, o capitão da equipa de Florença. “Marcou-me para o resto da vida.” Mas há o outro lado: ter testemunhado o início da carreira de vários futebolistas que estiveram na final do Euro 2016. “Foi uma felicidade compartilhar com eles o início das carreiras. Isso realça bem o tempo que passámos em conjunto e a qualidade do trabalho que se desenvolveu.”
E continua: “Trabalhei ao longo da vida com botas de ouro, bolsa de ouro, campeões do mundo, campeões da Europa, vencedoras da Champions… tudo isto aconteceu nos primeiros 25 anos de carreira. Vamos aguardar os próximos passos”.