23 nov, 2021 - 10:12
A China pediu, esta terça-feira, que se pare de "politizar" o caso da tenista Peng Shuai, durante uma reação oficial excecional ao caso de alegada coerção sexual que visa um antigo vice-primeiro-ministro sénior chinês.
"Acho que algumas pessoas deviam parar de usar deliberadamente esta questão para fins hostis e, especialmente, transformá-la numa questão política", disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Zhao Lijian, em conferência de imprensa.
Peng Shuai, de 35 anos, antiga número um do "ranking" mundial de ténis de pares, acusou Zhang Gaoli, no início de novembro, de forçá-la a ter relações sexuais há três anos.
Até agora, e apesar de questionado quase que diariamente, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da China recusou comentar o assunto, afirmando que não se tratava de uma questão diplomática.
Zhao Lijian não especificou exatamente a quem se dirigiram as declarações desta terça-feira.
Ténis
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Além de muitas estrelas do ténis mundial, como Naomi Osaka, Serena Williams e Novak Djokovic, vários países ocidentais, incluindo França, Estados Unidos e Reino Unido, assim como a Organização das Nações Unidas pediram a Pequim para esclarecer o assunto de Peng Shuai.
A tenista finalmente apareceu, no domingo, durante uma videoconferência com o presidente do Comité Olímpico Internacional, Thomas Bach, a garantir que está "bem e a salvo".
A Associação de Ténis Feminino (WTA), órgão que supervisiona o circuito profissional feminino, ameaçou retirar os seus negócios da China se o regime do Presidente Xi Jinping não esclarecer as acusações de Peng.
O caso continua a ser um tabu na imprensa oficial e nas redes sociais na China.
Peng Shuai, de 35 anos, publicou sua conta oficial da rede social Weibo (equivalente ao Twitter na China) uma carta aberta a Zhang Gaoli, primeiro vice-primeiro ministro chinês entre 2013 e 2018, em que o acusou de forçá-la a ter relações sexuais há três anos. O "post" foi apagado e a conta de Peng bloqueada a pesquisas.
Segundo as capturas de ecrã que ainda sobrevivem da publicação, a relação entre Peng Shuai e Zhang Gaoli começara há mais de 10 anos, quando o político era o líder do Partido Comunista da China (PCC) de Tianjin, e terminara quando ele fora promovido ao Comité Permanente do Politburo Central do PCC, em Pequim.
Um dia, há cerca de três anos, segundo o "post", quando Zhang Gaoli, hoje de 75 anos, já se tinha reformado, Peng Shuai terá sido subitamente convidada para jogar ténis com ele em Pequim. Depois disso, Zhang e a mulher, Kang Jie, convidaram Peng para casa deles. Aí, a tenista alega que foi pressionada para ter relações com Zhang.
"Naquela tarde, primeiro, não concordei e não parava de chorar", escreveu Peng. Depois de jantar com Zhang e a mulher, e depois de grande insistência do político, a tenista cedeu: "Estava em pânico e assustada e concordei fazê-lo com os meus sentimentos por ti de há sete anos."
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Peng Shuai alegou, também, na mesma publicação, entretanto apagada, que a mulher de Zhang ficara de guarda à porta durante o incidente.
"Porque tiveste de voltar para mim, levar-me para tua casa para me forçares a fazer sexo contigo? Não tenho provas. É simplesmente impossível ter provas. (...) Não consigo descrever quão enojada estava e quantas vezes me questionei: 'Ainda sou humana?' Sinto-me um cadáver ambulante. Todos os dias fingia. Quem é o meu 'eu' verdadeiro?", lê-se.
Peng escreveu, ainda, que entrou, então, numa relação extraconjugal com Zhang, mas que sofreu "demasiada injustiça e insultos". Admitiu, também, que não tem provas que fundamentem as suas acusações contra Zhang, que sempre receou que ela gravasse o que quer que fosse.
O "post" de Peng Shuai, de 1.600 palavras, foi eliminado em menos de 30 minutos e muitos dos "screenshots" que circularam desde então, assim como vários "post" de especulação, foram também censurados. A conta oficial da tenista mantém-se ativa, mas está bloqueada a pesquisas.
Peng Shuai, de 35 anos, já foi líder do "ranking" feminino de pares. Venceu 23 títulos de pares femininos, entre os quais dois Majors: uma vez em Wimbledon, em 2013, e outra em Roland Garros, em 2014.