18 dez, 2022 - 08:00 • Carlos Calaveiras
Uma assembleia geral extraordinária da Federação Portuguesa de Judo, em Coimbra, vai, este domingo, deliberar sobre a eventual destituição de Jorge Fernandes, o presidente da federação.
Jorge Fernandes viu-se envolvido, nos últimos meses, em várias polémicas, em especial com um grupo de atletas olímpicos. No entanto, a eventual destituição, já avançada pelo Instituto Português do Desporto e da Juventude (IPDJ), que terá de ser ratificada por esta assembleia-geral, até nem está relacionada com as queixas dos judocas.
Na sequência de um inquérito a incompatibilidades feito pelo IPDJ, o dirigente deverá perder o mandato com base no artigo 51.º do Regime Jurídico das Federações Desportivas (RJFD) por “inelegibilidade, incompatibilidade ou por terem intervenção em contrato no qual tenham interesse”.
Segundo fonte do IPDJ, citada pela Lusa, em causa está, entre outros factos, o exercício de funções por Jorge Fernandes no Judo Clube de Coimbra, que foi alvo de uma queixa por parte da Associação de Judo de Castelo Branco.
A polémica relacionada com o presidente da Federação de Judo viu a luz do dia a 11 de agosto quando um grupo de sete atletas olímpicos (Telma Monteiro, Catarina Costa, Bárbara Timo, Rochele Nunes, Patrícia Sampaio e Anri Egutidze) escreveu uma carta aberta em que acusa Jorge Fernandes de opressão, discriminação e ameaças, que tornava o ambiente na seleção “insustentável e tóxico”.
Os judocas lamentavam que Jorge Fernandes continuasse a insistir na obrigatoriedade da presença em Coimbra em 70/80% dos 52 estágios num ano, ameaçando com a exclusão da equipa, caso os atletas falhassem esse pressuposto.
"Aquilo que foi uma boa solução durante o período em que a pandemia causada pela Covid-19 impôs a criação de uma bolha de treino, em Coimbra, que nos permitiu estar nos Jogos em segurança, é hoje um dos fatores em que discordamos profundamente da estratégia imposta pela FPJ", dizem.
Um cenário que, explicam, os impede de participar em estágios internacionais e treinarem com os melhores do mundo, além de o fazerem num local que dizem não ter condições: "por vezes, estão apenas oito atletas presentes para treinar, e durante o inverno chegar a estar sete graus dentro do pavilhão".
Também Telma Monteiro e Bárbara Timo, que fizeram um estágio em Itália a expensas próprias, escreveram que a FPJ questionou se as mesmas estavam lá e que a luso-brasileira foi repreendida pela presença. "Não compreendemos qual o padrão de coerência - o presidente da Federação diz que os atletas podem realizar estágios internacionais a expensas próprias, mas quando isso acontece sofrem ameaças, represálias e são chamados à atenção", questionam.
Ainda em relação aos estágios fora de Portugal, os judocas criticaram também a FPJ por tratar das estadas e viagens à última hora, "o que mostra a desorganização em que se vive, prejudicando a preparação dos atletas".
Os sete judocas acrescentam não entender que seja a Federação de Judo a gerir as bolsas de preparação atribuídas pelo Comité Olímpico a cada um dos atletas, que as conquistou através de determinados resultados desportivos. "Sendo que cada bolsa deveria ser - por lei - destinada apenas ao atleta a que é atribuída", explicam, acrescentando que a FPJ tem descontado das bolsas o pagamento de cada treinador que acompanha o atleta e que essa despesa "deveria ser suportada" pela Federação.
A menos de dois anos dos Jogos Olímpicos de Paris 2024, os judocas consideravam que "urge uma gestão criteriosa" da carreira desportiva e financeira e pediram que as respetivas bolsas olímpicas sejam geridas pelo Comité Olímpico de Portugal.
"Sugerimos que as bolsas dos judocas olímpicos passem a ser geridas pelo próprio Comité Olímpico de Portugal, em sintonia com os clubes e os treinadores", defendem, apelando que à ajuda das entidades que regem o desporto, para que se chegue a uma solução, caso contrário não encontram condições para continuarem a fazer face às exigências da alta competição e do apuramento olímpico", assinalaram os atletas.
No seguimento desta polémica, a Federação é também acusada de ter demitido, por email, a selecionadora Ana Hormigo, também treinadora do Benfica, na véspera de uma competição internacional. A selecionadora tinha-se solidarizado com as atletas olímpicas.
A todas as críticas, o presidente da Federação responde que está a ser alvo de perseguição e promete recandidatar-se ao cargo, se a destituição for aprovada.