03 jan, 2023 - 18:00 • José Barata
"Um momento histórico no ciclismo português". A partir deste ano, todos os corredores que competem em provas portuguesas são obrigados a ter passaporte biológico.
O anúncio foi feito pela Federação Portuguesa de Ciclismo e a Autoridade Antidopagem de Portugal. Os custos desta operação - inédita a nível mundial por parte de um país - estão avaliados em 70 mil euros e serão divididos entre o organismo e a federação.
Em entrevista a Bola Branca, o presidente federativo Delmino Pereira considera este um dia histórico: "É um momento especial e histórico, porque criámos um mecanismo de reforço de controlo antidoping, implementando em Portugal o passaporte biológico de todos os corredores inseridos nas equipas continentais UCI".
"Somos o primeiro país a utilizar o mecanismo que tem tido sucesso a nível da primeira e segunda divisão do ciclismo mundial. Estamos certos que irá resultar em Portugal. Criámos um sistema de financiamento partilhado, em que a própria federação e com algumas verbas dos clubes e do Governo vai contribuir para a implementação do passaporte biológico", revela.
Há poucos meses o ciclismo nacional viu-se profundamente abalado pelo escândalo de doping na equipa da W52-FC Porto. Através do protocolo assinado com a ADoP, a federação recorre ao passaporte biológico para devolver a credibilidade ao ciclismo português, como tem acontecido ao nível das grandes provas internacionais.
"O passaporte biológico tem-se revelado um mecanismo bem eficaz ao nível do ciclismo desde que começou a ser utilizado pela UCI a todos os corredores das equipas do World Tour e das equipas pró-continentais. E hoje temos um ciclismo de maior prestígio. As marcas também exigiram que assim fosse, criaram mecanismo de pressão sobre os ciclistas, colocando nos próprios contratos cláusulas indemnizatórias, que estão transformar o comportamento de todos os atletas", assegura.
No final de abril do ano passado, dez corredores da W52-FC Porto foram constituídos arguidos e o diretor desportivo da equipa, Nuno Ribeiro, foi mesmo detido, assim como o seu adjunto, José Rodrigues, no decurso da operação "Prova Limpa", a cargo Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) do Porto.
Na operação policial, “foram apreendidas diversas substâncias e instrumentos clínicos, usados no treino dos atletas e com impacto no seu rendimento desportivo", detalhou então a Polícia Judiciária.
João Rodrigues, vencedor da Volta a Portugal de 2019 e da Volta ao Algarve de 2021, foi o ciclista que recebeu uma sanção mais pesada: o algarvio, de 27 anos, vai cumprir sete anos de suspensão, quatro dos quais impostos pela UCI, por anomalias no passaporte biológico, e outros três anos pela ADoP, por “posse de método proibido”.
Rui Vinhas e Ricardo Mestre, vencedores da Volta a Portugal em 2016 e 2011, respetivamente, foram sancionados por três anos, por “posse de substância proibida e método proibido”, o mesmo motivo evocado pela ADoP para suspender por igual período Ricardo Vilela, Daniel Mestre, José Neves e Samuel Caldeira.