08 fev, 2024 - 08:59 • Lusa
Com 12 vagas asseguradas em Paris a 200 dias do início dos Jogos Paralímpicos, o Comité Paralímpico de Portugal (CPP) teme uma “representação residual” nos Jogos Los Angeles2028 e antecipa a necessidade urgente de uma “mudança de paradigma”.
“Tenho receio, e é um receio fundado, de que em Los Angeles tenhamos uma representação residual. Os atletas não aparecem por geração espontânea e não vemos o aparecimento de um número significativo, ao nível da base, de que possam sair atletas ao nível da excelência para substituir os atuais”, afirma o presidente do CPP, em entrevista à agência Lusa.
José Lourenço mostra-se “preocupado” com a média de idades dos atletas que deverão marcar presença nos Jogos Paris2024, a disputar entre 28 de agosto e 08 de setembro, lembrando que nos Jogos Tóquio2020, disputados em 2021 devido à pandemia de covid-19, a idade média dos atletas nacionais rondou os 36 anos.
“Este problema é algo que nos preocupa, e já nem quero pensar em Brisbane2032”, refere o dirigente, defendendo a necessidade de “alterar os paradigmas cultural e de financiamento” bem como o desporto escolar para inverter a tendência de diminuição de atletas.
Segundo José Lourenço, “muitas vezes o primeiro obstáculo está nas famílias”, que, na tentativa de protegerem filhos com deficiência, os afastam da prática desportiva, na ideia “errada” de que “o desporto é prejudicial a um indivíduo que tenha alguma deficiência”.
À questão da família, o presidente do CPP junta a falta de um ensino verdadeiramente inclusivo, porque o atual modelo “muitas vezes isola as pessoas com deficiência”, e alerta para a necessidade de ainda haver “um caminho a percorrer” para que as crianças com necessidades especiais não sejam discriminadas.
José Lourenço defende também a necessidade de uma mudança profunda no desporto escolar, considerando que esta é uma área que “não existe no que diz respeito à dimensão das pessoas com deficiência”.
“Quantas crianças chegam às fases finais do desporto escolar?”, questiona o presidente do CPP, considerando que há uma interpretação errada do decreto que prevê a integração.
“É preciso acautelar as especificidades e não pôr todos a competir com todos, é precisa uma mudança na forma como se olha para o desporto escolar” e deixa um alerta: “Quando digo inclusivo, não têm que estar juntos, se calhar têm de estar separados. Não podemos dizer que andamos a incluir, quando estamos efetivamente a discriminar”.
Apesar do cenário de renovação não ser o mais animador, José Lourenço está otimista e acredita que Portugal vai conseguir mudar os paradigmas que permitam o aumento da prática desportiva de excelência a pessoas com deficiência,
“Estou otimista, mas tenho noção de que se nada for feito, os próximos tempos não vão ser fáceis. Estamos num processo de mudança, vamos introduzir alterações que vão dar resposta a várias necessidades, acredito que não haverá um vazio”, frisou.
O presidente do CPP lembra que o país está “num patamar incomparável com o que se vivia há 20 ou 30 anos” e evoluiu muito “na forma como as questões da deficiência são muito mais olhadas e analisadas”.
O responsável defende uma convergência futura entre o CPP, entidade criada em 2008 e que tutela o desporto paralímpico em Portugal, e o Comité Olímpico de Portugal (COP).
“Há vários comités que estão a fazer esse trabalho. Também iremos viver essa experiência, mas não será na minha vigência”, afirma, lembrando que, para que isso aconteça em Portugal, são necessárias orientações do Comité Olímpico Internacional (COI) e do Comité Paralímpico Internacional (IPC).
Assumindo uma dependência superior a 90 por cento do financiamento público, o presidente do CPP apela a um maior sentido social das empresas no apoio ao desporto para pessoas com deficiência, e deixa um lamento: “Por muito que procuremos, não existem empresas para serem patrocinadores ou parceiros do desporto paralímpico”.
Portugal vai somar em Paris a sua 12.ª participação em Jogos Paralímpicos, competição na qual já conquistou um total de 94 medalhas.
O contrato-programa de preparação para os Jogos Paralímpicos Paris2024 tem um valor global de 9,2 milhões de euros e as bolsas pagas aos atletas paralímpicos, bem como os prémios pela conquista de medalhas, são iguais às dos atletas olímpicos.