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Jogos Olímpicos

​Pimenta, as moelas portuguesas e um rio de dúvidas (a horas do arranque dos Jogos)

24 jul, 2024 - 12:45 • Rui Viegas, em Paris

Segurança e qualidade da água do Sena são temas em aberto a cerca de 48 horas do arranque das olimpíadas de Paris, onde vai estar um canoísta medalhado à procura de manter a ‘barriga cheia’.

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Cabelo grisalho, corpo franzino, de trato fácil logo ao primeiro contacto. Paulo Martins, nascido e criado em Guimarães, começa por avisar de sorriso aberto, e ainda mal a reportagem da Renascença se tinha sentado na casa mais portuguesa com certeza da ‘Rue De Longchamp’, não muito longe do Arco do Triunfo: “Sou do Vitória”.

Sorrimos, porque o futebol quebra sempre barreiras e é dos melhores desbloqueadores de conversa, antes de respondermos à questão que se impõe “quem sugeriu a visita?”. Foi o Fernando Pimenta, o canoísta, que aqui esteve há tempos e vai regressar agora a Paris para os Jogos Olímpicos, retorquimos.

Estava definitivamente identificado o melhor interlocutor do espaço e dado o mote para a troca de palavras ao almoço, intercalada com uma troca de olhares ao redor do restaurante onde se fala a língua de Camões e por onde já passou igualmente, para além do limiano Pimenta, o paulista Neymar.

“O Fernando Pimenta veio cá, sim senhor. Comeu moelas, bacalhau, uns bifes. Bebeu uns finos”, revela o vitoriano, que acrescenta à confissão: “Até brinquei com ele, porque ele disse que não podia beber. Dissemos que era só nesse dia, que não ia haver competição e que ninguém estava a ver”.

Na galhofa, Martins continua: “E que se ele fosse ao fundo, eu ia lá buscá-lo”, atira, com uma gargalhada, sobre as eventuais implicações de uma ‘barrigada’ lusitana no putativo medalhado de 2024. Mas há outras implicações que queremos arrancar de Paulo Martins e que este não rejeita abordar.

“O turismo? Penso que estamos a 50 por cento. Devido às ameaças de atentados, muitos turistas optaram por não vir para os Jogos Olímpicos”, acredita. E, chegados aqui, quem vem, vem para a competição mais segura da história, sustenta a organização. Serão 45 mil polícias de várias forças na cerimónia de abertura, articulados com autoridades de outros países, com especial atenção para as comitivas norte-americana e israelita. O espaço aéreo estará fechado na próxima sexta-feira. Perante isto é preciso ter estômago.

“Para entrar neste perímetro onde trabalho, tenho de ter um código para mostrar à polícia. A segurança está muito elevada”, lembra este português, numa altura em que altas são também as preocupações quanto à qualidade da água do Sena, onde decorrerão as provas de natação de águas abertas e de triatlo.

A Ministra do Desporto, primeiro, e a autarca da capital, depois, nadaram no rio para provar que "desta água beberei". Mas o tema não está encerrado e continua a motivar dúvidas a horas do início da competição.

Já esta semana, um funcionário da câmara parisiense foi citado a alertar para as bactérias na água. O histórico sistema de esgotos de Paris polui o rio que se tornou proibido a nados há mais de um século.

O Governo francês e a câmara de Paris investiram milhões na criação de um novo sistema que permitisse drenar o rio das bactérias que o poluem, um cenário que ainda não foi assegurado nos últimos testes à qualidade da água.

Se o Sena não for aprovado nos derradeiros e decisivos testes, há já alternativas pensadas, que vão do adiamento das provas para os últimos dias dos Jogos, ou até remover a vertente da natação do triatlo, tornando-o um duatlo. Para a natação de águas abertas, a última alternativa será mover a prova para o exterior da cidade.

De volta ao 16.º arrondissement, Paulo Martins é dos que confia. “Foi feita a drenagem, a água está ótima e inclusive a presidente Hidalgo foi para o Sena, portanto vai ser um grande evento”, afirma, com o objetivo de que levemos dali uma mensagem de tranquilidade.

Não levamos só isso, o pedido que fizemos chegou. Paulo Martins serve-nos e muda de cliente. Há de voltar a nós para um abraço de despedida.

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