28 jul, 2024 - 19:54 • João Pedro Quesado com Reuters
O diretor artístico da cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris negou, este domingo, que se tenha inspirado no quadro "A Última Ceia" para o momento que gerou críticas da Igreja Católica. Ao mesmo tempo, os organizadores pediram desculpas e recusaram que existisse qualquer intenção de ofender os cristãos.
Em declarações à televisão francesa "BFMTV", Thomas Jully explicou que a ideia por detrás da encenação era "fazer uma grande festa pagã relacionada com os deuses do Olimpo". Os Jogos Olímpicos têm origem em competições realizadas entre várias cidades-estado da Grécia Antiga.
A comunicação da própria organização já assinalava a intenção da representação na sexta-feira, durante o decorrer da cerimónia de abertura. Na rede social X (antigo Twitter), a descrição apontava para "a interpretação do deus grego Dioníso", que surge logo a seguir à imagem que se tornou polémica nas redes sociais. Na mitologia da Grécia Antiga, Dioníso era o deus grego do vinho.
"Queríamos falar sobre diversidade. Diversidade significa estarmos juntos. Queríamos incluir toda a gente, é tão simples quanto isso", disse Thomas Jully a jornalistas no sábado.
Também este domingo, a organização dos Jogos Olímpicos pediu desculpas pelo quadro na cerimónia de abertura que pareceu parodiar a pintura "A Última Ceia", de Leonardo da Vinci.
"Claramente, nunca houve a intenção de desrespeitar nenhum grupo religioso. [A cerimónia de abertura] tentou celebrar a tolerância da comunidade", disse a porta-voz da organização, Anne Descamps, numa conferência de imprensa.
O Comité Olímpico Internacional disse que tomou nota do esclarecimento de Paris 2024.
A França, embora orgulhosa da sua rica herança católica, também tem uma longa tradição de secularismo e anticlericalismo. A blasfémia não é apenas legal, mas é também considerada por muitos como um pilar essencial da liberdade de expressão.
A Conferência Episcopal de França descreve o momen(...)
Hugo Bardin, cuja personagem drag queen Paloma participou na encenação, ficou desapontado por a organização se tenha sentido obrigada a apresentar um pedido de desculpas.
"Um pedido de desculpas significa reconhecer um erro, reconhecer que deliberadamente se fez algo para prejudicar, o que não foi o caso", disse Bardin.
"O que incomoda as pessoas não é estarmos a reproduzir esta pintura", continuou Bardin, "o que incomoda as pessoas é que pessoas queer a estejam reproduzindo".
Os defensores da encenação elogiaram a mensagem de inclusão e tolerância. A Igreja Católica na França disse que lamentava uma cerimónia que "incluía cenas de escárnio e gozo do Cristianismo".
O arcebispo Charles Scicluna, a mais alta autoridade católica em Malta e secretário adjunto do Dicastério para a Doutrina da Fé, disse que entrou em contato com o embaixador da França em Malta para reclamar do "insulto gratuito".
Numa mensagem ao embaixador partilhada na rede social X, o arcebispo escreveu que "gostaria de expressar a minha angústia e grande deceção pelo insulto a nós, cristãos, durante a cerimônia de abertura... quando um grupo de artistas drag parodiou a Última Ceia de Jesus."