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Ténis

Nadal perde na Taça Davis e ainda não se sabe se foi o adeus ao ténis

19 nov, 2024 - 18:40 • Hugo Tavares da Silva

A eliminatória entre Espanha e Países Baixos começou com um duelo entre Rafael Nadal e Botic van de Zandschulp (4-6, 4-6). Sem o martelo de outrora, o espanhol permitiu aos seus admiradores sonhar com outro desfecho.

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A água invadiu-lhe os olhos quando o hino de Espanha tocou para a eliminatória da Taça Davis contra os Países Baixos, em Málaga. Na última semana da longa e recheada e dolorosa e linda e memorável carreira, Rafael Nadal tinha Botic van de Zandschulp pela frente, alguém que já tinha derrubado em Wimbledon e Roland-Garros (o desfecho foi 4-6, 4-6 para o neerlandês).

“Pode ter sido o meu último encontro como profissional”, admitiu Nadal. "Cheguei ao court e dei o melhor de mim. O meu nível não foi suficiente. (...) Se eu fosse o treinador de Espanha, não me punha a jogar no próximo jogo..."

Rafa já não é quem era. Ou, melhor, ele até é quem era, mas o corpo já não lhe permite voar no court, deslizar, encontrar todas as bolas, bater nelas com uma força quase atroz. A bola amarela agora parece pesar 20 quilos. As cordas da raquete não têm a tensão, ou não parecem ter. A potência só existe na sua mentalidade. E nos “vamos!” que berra em momentos decisivos.

Foi o primeiro jogo de Espanha no torneio e Nadal, lendário tenista que começou o seu trajeto em 2001, foi o escolhido para dar início à caminhada que marca o final da sua caminhada. O primeiro set pingou para o neerlandês, por 6-4.

No segundo, Nadal lutou como o leão que é. Que sempre foi, que já não pode ser. Correu, tentou devolver todas as bolas, procurou enganar o adversário, mas a bola não lhe obedece como antigamente. Ele prometeu que ia lutar até ao fim sem que as emoções atrapalhassem os objetivos do ténis espanhol. Lá está ele, sempre a colocar o profissionalismo e o compromisso acima de tudo.

Despedir-se em casa seria sempre especial. O público tentou ampará-lo, amá-lo com gritos e palmas. No segundo set esteve a perder por 4-1, parecia tudo sentenciado… mas, como este feroz competidor não tolera a mediocridade, Rafa, que apenas conseguiu ganhar um dos três break points que teve à disposição, equilibrou as contas e ofereceu uns daqueles momentos mágicos que habituou o mundo inteiro: 4-5. Que recuperação. Os adeptos deliravam.

Vencedor de 92 torneios, 22 deles majors, Nadal atirou uma bola para fora, permitindo o primeiro match point com 1h52 de jogo. O treinador neerlandês estava tenso, coçava a cabeça, sabia que o seu jogador estava a tremelicar. Van de Zandschulp falhou o primeiro serviço (bateu o espanhol em ases por 8-2). Depois, serviu bem, deixou Nadal numa posição vulnerável e ganhou o ponto.

O rival de Nadal parecia triste ao ganhar. Carlos Alcaraz aplaudia com hesitação. O público cantava para o herói de uma nação inteira, quem sabe o maior desportista espanhol de todos os tempos. A seguir, logo a seguir, Nadal, com t-shirt vermelha e fita branca no cabelo, surgiu no coração do court e levantou os braços, agradeceu, bateu palmas. O esgar no rosto sugeria desilusão.

Ainda não se sabe se este é o fim ou não de Rafael Nadal.

No final, van de Zandschulp disse uma coisa maravilhosa: “Se eu estivesse fora do court, também estaria a apoiar o Nadal”. O neerlandês, na entrevista rápida depois do encontro, admitiu que ambos estavam nervosos e que tentou aguentar. “É difícil fechar um jogo contra ele, sabendo que pode ser o último encontro. (...) O público foi duro claro, é compreensível. É o que é. É o maior desportista da história de Espanha…”

Quando os tenistas profissionais tentam explicar Rafael Nadal, entende-se a dimensão do canhoto, agora com 38 anos. O respeito é imenso. A admiração idem. Novak Djokovic fala na tenacidade. Roger Federer, com quem partilhou uma gargalhada mítica e um entrelaçar de mãos terno e angustiante, convoca um “tigre numa jaula”. Outros falam em humildade e exemplo.

Um histórico ex-número 1, com 14 títulos de Roland-Garros e tantos outros, Rafa venceu 1080 partidas e perdeu 227. Muitíssimo castigado por lesões e com vários regressos que só denunciam o seu profissionalismo e amor ao jogo, Nadal vai agora deixar a modalidade que começou a praticar com apenas quatro anos, com o seu tio Toni.

*Artigo atualizado às 19h30 com as declarações de Rafael Nadal

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