27 out, 2023 - 09:45 • Eduardo Soares da Silva
André Villas-Boas, provável candidato às eleições do FC Porto em 2024, lamenta a "forma leviana e de cavaqueira" como o clube apresenta prejuízos a rondar os 50 milhões de euros, assim como os prémios avultados que os administradores da SAD recebem neste cenário financeiro.
Na segunda parte da entrevista ao jornal "Expresso", o antigo treinador assume que os prémios pagos à SAD são "uma péssima mensagem".
"O que deveria ter acontecido era a existência de ponderadores negativos, o que no panorama financeiro do clube do FC Porto retiraria todo e qualquer direito à premiação", diz, antes de prosseguir.
"O que me parece é que há ponderadores positivos que estão relacionados com a parte desportiva, que acabam por premiar os administradores quando o clube se encontra em ruína absoluta", explica.
Villas-Boas, que segundo o "Record", já terá tomado a decisão de ser candidato em 2024, acredita que "há uma grande disparidade entre sucesso desportivo e desequilíbrio financeiro e isso corresponde especificamente à gestão da organização". O dirigente deteta "gastos absurdos não só na sua massa salarial, mas também nos seus serviços externos, nos comissionamentos, na administração".
Isto tem levado "à saturação das pessoas", mas há "uma série de poupanças que são evidentes e fáceis de fazer, havendo desejo para que as mesmas aconteçam".
O antigo treinador do FC Porto afirma ainda que "o que mais me choca é a forma leviana e de bom tom e de cavaqueira com que se apresentam contas de 50 milhões de euros de prejuízo".
"Isso é grave e acho que é isso que leva à saturação atual porque não pode ser tão fácil e tão gozão apresentar umas contas destas. E é isso que leva à revolta das pessoas e a um desejo sentido de mudança. No caso do FC Porto estamos quase em ponto de não retorno", atira.
FC Porto
Treinador que venceu a Liga Europa pelos dragões r(...)
Villas-Boas vai mais longe e diz que o "Futebol Clube Porto neste momento não é dos seus sócios: é dos bancos, é dos fornecedores, é dos clientes. As receitas futuras estão cada vez mais antecipadas, o que por si só também é uma prevaricação com o futuro do Futebol Clube do Porto."
O ex-técnico acredita ainda que o FC Porto "não pode construir um modelo só dependente das receitas da UEFA e televisivas".
"Tem de arranjar um crescimento de marca, maneiras de criar valor e de se organizar internamente para que, um dia, se algum descalabro aconteça — particularmente uma não qualificação europeia —, o FC Porto possa sobreviver sem essas receitas. Estar, durante os últimos 20 anos, somente sustentado nas receitas da UEFA e nas vendas de jogadores ditou esta perda constante de valor até ao ponto quase de não retorno", conclui.
André Villas-Boas afirma que "é muito fácil ser populista e lançar as modalidades todas antes de saber se são possíveis".
O ex-treinador assume que as modalidades são, habitualmente, prejuízo para os clubes, mas aceite porque servem "a sociedade, a cidade e a região". "No caso do futebol feminino, é mais paradigmático porque corresponde a anos e anos de atraso e falta de visão e antecipação, o que poderá estar relacionado com a falta de infraestruturas para o receber. É uma urgência absoluta que se criem todos os escalões de formação, no FC Porto, no futebol feminino".
Nesse sentido, o futuro dirigente assume que a ausência de futebol feminino é "um ponto de vergonha" para o clube. "E deveria ser um ponto de honra. Eu também vejo cada vez mais mulheres presentes no Estádio do Dragão e um universo e um público femininos cada vez mais ativos no FC Porto. A entrada no futebol feminino sénior terá de ser feita com uma equipa para ganhar."