29 nov, 2023 - 23:04 • Redação
André Villas-Boas, provável candidato à presidência do FC Porto, garante que só vota favoravelmente às contas do clube se a administração devolver os prémios que recebeu no último exercício financeiro.
O ex-treinador pediu a palavra e foi o segundo a falar na Assembleia Geral do clube, esta noite, no Dragão Arena.
"Não tenho outra alternativa que não seja manifestar a minha reprovação às contas aqui apresentadas, condicionando a aprovação das mesmas à devolução da remuneração variável recentemente recebida pela atual administração", disse, citado pelo jornal "O Jogo". Villas-Boas foi muito aplaudido antes e depois do discurso.
A SAD portista pagou aos órgãos sociais quase 3 milhões de euros entre julho e dezembro do último ano, segundo revelou o clube no relatório e contas do primeiro semestre da atual temporada.
Villas-Boas puxa a fita atrás à sua passagem pelo clube, enquanto treinador, para comprar o estado financeiro, 12 anos depois.
"A dívida financeira do FC Porto era de 98 milhões de euros e o o passivo total de 202 milhões. 12 anos, depois a dívida financeira do FC Porto é de 311 milhões e o passivo total de 499 milhões. Desde 2011, a administração do FC Porto recebeu mais de 27 milhões em renumeração fixa e variável, sem considerar as sempre polémicas ajudas de custo entre viaturas, combustíveis e despesas com cartões de crédito", criticou.
José Eduardo Simões
Ex-presidente da Académica garante que Villas-Boas(...)
No entanto, o ex-técnico deteta uma diferença em relação a 2011: "Hoje estamos profundamente afundados em dívidas, temos a maior parte das receitas antecipadas e estamos em vias de conceder direitos de exploração comercial e respetivas receitas para os próximos 15 anos a uma empresa americana".
"Não existe visão, nem planeamento, nem um modelo de negócio económico sólido que garanta a sustentabilidade financeira do FC Porto. Ao longo dos últimos 12 anos, o passivo mais do que duplicou com mais de 300 milhões de euros, o que é revelador da indiferença da atual administração para a existência do FC Porto enquanto clube de associados", acusa.
Villas-Boas acredita que, "lamentavelmente", o clube "já não vai lá apenas com retoques da equipa diretiva, que se avizinham ou ainda descurando acordos de confidencialidade em contraponto com as mais elementares regras de rigor e transparência e obrigações de uma empresa cotada em bolsa".
Antes de terminar, deixou uma dura crítica à direção: "Pergunto a vossas excelências, membros da direção, se são capazes de hipotecar o futuro das vossas famílias à proporção e velocidade com que hipotecam o futuro do FC Porto".
Fernando Madureira, líder da maior claque do clube, recordou uma entrevista de Villas-Boas em 2019, quando afirmou que "enquanto o presidente for vivo deve liderar esta instituição". Foi também aplaudido por vários sócios presentes.
"Mais do que as contas, estou mais triste por não ter ganho o campeonato. Apesar de ter uma licenciatura e mestrado em desporto não vou falar das contas. Era impossível bater o brilhantismo do Fernando Gomes. Queria perguntar ao sócio e ex-treinador: se abdicassem dos prémios não votaria contra estas contas? Eu pergunto ao doutor Fernando Gomes se sem esses prémios as contas passavam de negativas a positivas?", questionou, antes de terminar.
"Não se esqueçam de uma coisa, todos juntos é muito difícil combater os inimigos, divididos será pior", afirmou, citado por "O Jogo".