07 jun, 2024 - 16:05 • Hugo Tavares da Silva
O novo treinador do FC Porto, Vítor Bruno, foi apresentado esta tarde no Estádio do Dragão. O ex-adjunto de Sérgio Conceição, com quem esteve 13 anos, prometeu trabalho, cultivar os valores do FC Porto e olhar para formação, a quem preferiu chamar "ouro da casa" e não "prata da casa".
Primeiras palavras
“Um agradecimento muito sincero ao presidente, agradecer a coragem de traçar um caminho que eu penso que vai ser de total sucesso. Aquilo que lhe posso garantir a si, presidente, é que a coragem que teve é a mesma que eu, equipa técnica e jogadores vamos devolver em todos os momentos na defesa intransigente da defesa do FC Porto. A partir daqui, mão à obra, lutar, caminhar juntos, entranhados uns nos outros.”
Desconforto
“Numa primeira abordagem honesta, é um desconforto estar de fato. Aí, em relação ao guarda-roupa, vai ter de investir um bocadinho, vou ter de me apresentar de outra maneira claramente. Depois, fora de brincadeiras, quero dizer que estou muito feliz, mesmo muito feliz, muito honrado pelo convite. Tenho noção perfeita da responsabilidade que está inerente a um cargo desta natureza. Ao mesmo tempo, estou com uma vontade muito grande de me atirar ao terreno, começar a trabalhar no Olival, de operacionalizar ideias, validar o que eu e a minha equipa técnica perspectivamos para o FC Porto. Sempre no sentido de criar laços e vínculos com toda a gente, que alavanca o sucesso de uma organização. É um bocadinho o meu perfil. Sei que não seremos em todos os momentos os melhores nem os mais talentosos, mas no caráter, ambição, capacidade de trabalho e paixão, seremos imbatíveis, a encarnar o espírito do sócio e adepto do FC Porto. Sei que é missão difícil, tenho essa noção, mas é uma missão que quero viver e que quero muito, muito ganhar.”
Sucessão de Conceição, o elefante na sala?
“Podemos olhar para ele como um elefante ou como uma formiga, depende do olhar que tivermos perante o que aconteceu. Em relação a esse assunto devo dizer que não me sinto nada confortável, passei uma semana muito difícil. Sofrimento e grande angústia. Eu não quero alimentar este circo mediático que se vai levantando. Fiz o que tinha a fazer no momento próprio, quando tinha de esclarecer. Começaram a criar uma novela com capítulos a mais para o guião da verdade. É o meu sentimento genuíno, sincero. Tenho a minha paz interior completamente garantida, adormeço todos os dias sob o aplauso da minha consciência, é isso que me dá paz interior. O resto que possam querer especular, não posso controlar. É um não-assunto, para mim, tenho muito que me focar e canalizar a minha energia para o FC Porto.”
Objetivos
“Representar o Porto é demasiado óbvio o que está subjacente em termos de objetivos e ambição. Toda a gente tem de ser viciada em ganhar, os objetivos têm de ser imutáveis no tempo, comigo ou com outro treinador. E falamos em todas as competições que vamos abraçar, não nos vamos encolher em nenhum momento. Sabemos que vai ser uma época difícil.”
Plantel
“É algo que tem de ser atalhado, temos de atacar porque o tempo é precioso e estamos a desperdiçá-lo com questões que não são as mais importantes. A partir da parte da tarde vamos atacar esse tema, definir plantel e planificar a época. Confio muito nas pessoas que fazem parte da estrutura, no Andoni e Jorge, têm muita experiência e capital acumulado. Teremos de ter um olhar cirúrgico porque sabemos de algumas dificuldades que estão neste momento em causa no FC Porto. Mas teremos um olhar criterioso.”
Plantel II
“O que defendo e já partilhei com o presidente, sobre o olhar para dentro: muita gente fala em prata da casa, tem de se falar no ouro da casa. Há muito valor aqui dentro, eu posso ficar refém do que estou a dizer agora, mas não tenho problema em assumi-lo. Muitas vezes temos a tendência de subestimarmos quem está connosco, há muita gente talentosa aqui dentro. A mim sangra-me o coração perceber que determinados talentos não aproveitam os que têm. Não lhes vou dar descanso, vou andar em cima deles. Esse é um dos caminhos para trilhar em termos de sucesso.”
Francisco Conceição
“Conheço-o desde muito pequeno, tenho uma estima muito grande por ele. Fez um caminho, graças à perseverança e à forma como trabalha, foi construindo a sua carreira, culminou com a chamada à seleção, fico muito orgulhoso. Será tratado como qualquer outro elemento do plantel. Quero desejar-lhe a maior sorte do mundo ao Pepe, Francisco e Diogo [Costa] e que voltem só dia 15 de julho.”
Sentiu desgaste? Momento da emancipação
“Todo este desgaste foi acontecendo de forma natural. Sabemos como vivemos tudo de forma intensa. Conseguimos circunscrever isso ao nosso espaço. Tenho a certeza absoluta que os jogadores me conhecem, eles têm a capacidade muito rápido de saber o comportamento e saber os valores da pessoa que os lidera. Eles são capazes de saber como sempre me comportei, com verdade e autenticidade. Eles entendem o meu papel. Agora, no papel diferente, não vou mudar no que sou. Sou fiel àquilo que sempre me ensinaram. Terei papel diferente, terei, sobretudo nas tomadas de decisão.”
Hesitou em algum momento? Quando tomou a decisão?
“Não quero continuar a alimentar o tema. Tenho preocupações a mais para me castigar-me com algo que não concorre com o sucesso do FC Porto. Tinha esta decisão pensada, fui maturando ao longo da época, aconselhei-me muito com o meu pai, um senhor do futebol. É a pessoa que nos momentos de tomada de decisão a quem recorro. Eu tinha dentro de mim o que queria fazer.”
Equipa técnica
“Não tenho totalmente definida ainda. Temos dois nomes já fechados, um deles o Nuno Piloto e o Óscar Pintado. Há espaço para integrar mais alguns elementos. É um dos dossiers que queremos atacar o mais rápido possível.”
Pepe
“Sinto-me demasiado pequenino a falar do Pepe. É um símbolo do clube, uma referência para todos nós, alguém que construiu a carreira sempre a pulso, com a qual me identifico muito. Vou falar com o presidente e com o Pepe e vamos tomar a melhor decisão. É um dossier complexo.”
Saíram beliscados 13 anos de convivência com Conceição?
“Podia fugir ao tema, mas a mim doi-me falar disto. Deixou marca. Sou muito grato a quem me ajuda, sou muito grato ao Sérgio, por todo o percurso que fizemos, pelos momentos difíceis que passámos, não só no FC Porto, mas em Olhão, Braga, Coimbra, Nantes, Guimarães. Estou-lhe eternamente grato. Se deixa marca, deixa. Não guardo rancor a ninguém, tenho a consciência de que em nenhum momento fugi dos meus valores. Espero que neste 13 anos tenha contribuído com a minha parte para o sucesso do Sérgio. É a minha esperança.”
Situação financeira
“O principal desafio é meter a equipa a ganhar, seja como for, ou sim ou sim. Olhar para o ouro da casa não é olhar como uma solução de recurso, é olhar para eles com os olhos que têm de ser olhados. Havendo valor, é preciso coragem para apostar. Sou daqueles que não hesita, quando tiver de apostar vou apostar. (...) Os alvos que vierem de fora teremos de olhar de forma minuciosa, teremos de atacar com total critério, nunca entrando em conflito com a realidade do clube.”