02 dez, 2019 - 15:01 • Lusa
O antigo coordenador de segurança da Academia de Alcochete disse, esta segunda-feira, que o ex-presidente do Sporting Bruno de Carvalho reuniu com o "staff" um dia antes do ataque, perguntando “se estavam com ele, acontecesse o que acontecesse”.
A testemunha relatou que o antigo presidente do clube, um dos 44 arguidos no processo, reuniu em 14 de maio de 2018, na Academia de Alcochete, com elementos do "staff" de apoio à equipa principal do Sporting, após o jogo na Madeira, com o Marítimo, que a equipa leonina perdeu por 2-1, falhando a possibilidade de se qualificar para a Liga dos Campeões.
“[Nessa reunião] questionou os presentes se estariam com ele, acontecesse o que acontecesse. A equipa estava a atravessar um mau momento, pois perdemos com o Marítimo, o que nos impediu de seguir na Liga dos Campeões. Disse [Bruno de Carvalho] que tínhamos muito trabalho pela frente, um título ainda para vencer [Taça de Portugal] e, naquela reunião, quis saber quem estava com ele, acontecesse o que acontecesse. Quem não estivesse, que saísse”, explicou Ricardo Gonçalves.
Já no final da sessão da manhã, Miguel Fonseca, advogado de Bruno de Carvalho, pediu ao coletivo de juízes a nulidade desta parte do depoimento de Ricardo Gonçalves, sustentado tratar-se de “conversas privadas”, que não têm interesse para o processo. O coletivo de juízes terá agora de decidir sobre este requerimento.
Reunião após a crítica de Bruno aos jogadores no Facebook
À saída do Tribunal de Monsanto, Bruno de Carvalho não prestou declarações aos jornalistas. Ricardo Gonçalves relatou ainda uma outra reunião, ocorrida em 7 de abril de 2018, só com o plantel, dois dias após uma derrota com o Atlético de Madrid, e após a publicação na rede social Facebook pelo antigo presidente do clube, a criticar os jogadores.
A testemunha explicou que os elementos do "staff" não participaram nessa reunião, ficando do lado de fora do auditório, mas que foi possível ouvir “discussão, pois os ânimos exaltaram-se e as vozes aumentaram”.
Ricardo Gonçalves disse ter ouvido Bruno de Carvalho a chamar o guarda-redes Rui Patrício de “ingrato, armado em diva, vedeta e mimado”. A testemunha afirmou que ouviu igualmente o jogador William Carvalho a acusar Bruno de Carvalho de ter telefonado a Nuno Mendes, Mustafá, líder da claque Juventude Leonina, para “ameaçar e agredir os jogadores”, ao que o antigo presidente do Sporting respondeu que “não fez nada disso” e que ia telefonar a Mustafá.
“Estava a ficar constrangido ao ouvir tudo aquilo e afastei-me”, referiu o antigo coordenador de segurança e operações da academia de Alcochete, que continua a ser inquirido da parte da tarde.
Após estas declarações, Bruno de Carvalho levantou-se da cadeira e bateu na porta de vidro que separa a sala dos arguidos da dos juízes e dos advogados, no sentido de chamar o seu advogado Miguel Fonseca, que viria a falar com o arguido alguns minutos depois.