26 fev, 2020 - 20:58 • Redação
O líder da claque Juventude Leonina, Nuno Mendes, também conhecido como Mustafá, garantiu, esta quarta-feira, em tribunal, que passou o dia da invasão à Academia do Sporting em casa e que o seu nome foi usado abusivamente nos grupos em que foi combinado o ataque.
“Usarem o meu nome nos grupos de WhatsApp [em que foi combinado o ataque] foi um abuso de poder”, disse Mustafá, na 34.ª sessão do julgamento da invasão a Alcochete, a 15 de maio de 2018.
Mustafá está detido preventivamente desde maio de 2019 por alegado tráfico de estupefacientes. O líder da Juve Leo não estava nos grupos em que foi combinado o ataque e não respondeu a mensagens noutros grupos de que fazia parte, desde a derrota (2-1) do Sporting no terreno do Marítimo, que ditou o afastamento da equipa do segundo lugar do campeonato e da Liga dos Campeões, dois dias antes do ataque.
O arguido garantiu ter passado o dia do ataque em casa, com o telefone desligado, e ter sabido do ataque pela televisão, após alerta da mulher.
“No dia 15, acordei com a canja da Cristina, voltei a dormir, nem saí de casa”, disse, acrescentando que, mais tarde, foi a mulher que o acordou para “ver na televisão o que se estava a passar na academia”.
“Não estive na Academia [no dia da invasão], antes tivesse estado”, sublinhou o líder da Juventude Leonina, no Tribunal do Monsanto.
Mustafá, que foi à Madeira, mas acabou por ver o jogo com o Marítimo na televisão “num café”, disse ter regressado a Lisboa na segunda-feira de manhã e ter ido para casa. “Vim da Madeira na segunda-feira, apaguei, e 24 horas depois tenho o mundo todo em cima de mim”, referiu.
O líder da Juventude Leonina salientou que os desacatos no aeroporto do Funchal entre jogadores e adeptos lhe “passaram ao lado”.
Mustafá acredita ser “a única pessoa em Portugal presa por 14 gramas [de droga] e sem investigação”. "Nada do que se passou é normal”, frisou.
O arguido disse ter sido ele a marcar a reunião do dia 7 de abril, na "casinha", a sede da Juve Leo, para falar sobre problemas que se tinham passado no jogo com o Atlético de Madrid (derrota por 2-0). Entretanto, recebera um telefonema a dizer “que o presidente queria ir à reunião”.
Segundo Mustafá, “o presidente [Bruno de Carvalho] queria falar sobre o ‘post’” em que criticou a prestação da equipa no jogo de Madrid, realizado a 5 de abril, da primeira mão dos quartos de final da Liga Europa.
“Ainda hoje não sei qual foi o ‘post’ do Bruno de Carvalho [ex-presidente do Sporting], estava a borrifar-me para os ‘posts’ do presidente”, disse, e adicionou: “Aquilo depois descambou, nem sei como é que ele naquela noite não levou uma ‘pingas’ ali, não levou porque eu não deixei."
Mustafá, que disse ser “o mais injustiçado do processo”, desmentiu o futebolista William Carvalho. O médio do Bétis afirmara, em tribunal, ter recebido um telefonema seu a dizer que o então presidente Bruno de Carvalho lhe tinha pedido para “partir os carros dos jogadores”.
No final da sessão, o advogado de Mustafá, Rocha Quintal, apresentou, pela terceira vez, um pedido de alteração da medida de coação do arguido, para uma medida não privativa da liberdade.
O julgamento da invasão à academia prossegue na sexta-feira com Eduardo Nicodemes e Ricardo Neves, de manhã, e Bruno de Carvalho, antigo presidente do clube, à tarde.
O processo da invasão à Academia tem 44 arguidos, acusados da coautoria de 40 crimes de ameaça agravada, de 19 crimes de ofensa à integridade física qualificada e de 38 crimes de sequestro, todos estes (97 crimes) classificados como terrorismo.
Bruno de Carvalho, Mustafá e Bruno Jacinto, ex-oficial de ligação aos adeptos do Sporting, estão acusados de autoria moral de todos os crimes e o líder da Juve Leo responde ainda por tráfico de droga.