13 fev, 2017 - 06:36 • António Pedro
“É um dia muito feliz para a diocese de Coimbra e para a Igreja em Portugal, para o Santuário de Fátima e para muitas pessoas no mundo inteiro que aguardam este momento há muito tempo”. É assim que o bispo de Coimbra, D. Virgílio Antunes, fala do fim da fase diocesana do processo de beatificação da irmã Lúcia.
A “sessão de clausura do inquérito diocesano” acontece esta segunda-feira, 13 de Fevereiro, exactamente 12 anos depois da morte da vidente de Fátima. A sessão vai acontecer no Carmelo de Santa Teresa de Coimbra, onde a religiosa viveu entre 1948 e 2005.
Sobre o tempo que o processo demorou, o bispo de Coimbra recorda que “se pediu dispensa à Santa Sé para se iniciar o inquérito diocesano antes do prazo estabelecido, e isso foi concedido pela Congregação para a Causa dos Santos e pelo Papa Bento XVI”.
Depois disso, explica, “em 2008, iniciou-se um processo a que se chama o ‘inquérito diocesano’, que é sempre a primeira fase destes processos, em que se procura averiguar se, nos escritos publicados e não publicados, há sinais das virtudes heróicas que são necessárias para que alguém seja declarado beato ou santo pela Igreja, e em que se ouvem também as testemunhas que conviveram de perto, para atestarem acerca da fama de santidade que manteve quer em vida quer depois da morte”.
A complexidade do processo deve-se a vários factores. “O primeiro foi a quantidade muito grande de documentos, não só as suas cartas, como textos de uma espécie de diário que escreveu, e que deu alguns milhares de páginas, tudo reunido. Foi um trabalho sobretudo da comissão histórica e dos sensores teólogos, que repassaram todos os textos e documentos para ver se neles nada havia contra a fé cristã e os bons costumes evangélicos e da Igreja”.
Foram oito anos de um trabalho exaustivo de recolha e análise das cerca de 11 mil cartas deixadas pela irmã Lúcia, bem como a recolha dos depoimentos de 60 testemunhas. Foi um processo moroso, o que, para D. Virgílio Antunes, até pode ser benéfico porque o “rigor” foi maior.
“Penso que o processo foi elaborado com todo o rigor, todo o profissionalismo por parte dos peritos em questões históricas e documentais. O próprio tribunal que ouviu as testemunhas teve um cuidado extremo na organização das perguntas e na execução prática, seguindo as regras que estão definidas pela Igreja, que são muito minuciosas e que têm de ser seguidas nestes casos, para que, do ponto de vista formal, não haja deficiências, lacunas e erros.”
O processo segue agora para a Congregação para as Causas dos Santos, em Roma, explica D. Virgílio Antunes: “O trabalho da diocese de Coimbra está concluído, segue-se a chamada ‘fase romana’ que depende directamente do postulador-geral da Ordem dos Carmelitas Descalços, com o auxílio da vice-postulação em Portugal. Mas fica tudo nas mãos da Santa Sé, que seguirá os trâmites habituais”.
Caso venha a ser aceite e aprovada esta primeira fase haverá, então, a necessidade de um milagre devidamente comprovado. “Já existem algumas notícias de hipotéticos milagres, mas não há ainda caso nenhum estudado uma vez que esta fase em que estamos é prévia, e sem esta fase com certeza que nem sequer é possível avançar para as fases seguintes”.
O bispo de Coimbra não arrisca uma data para a beatificação. “Está tudo nas mãos da Igreja e nas mãos de Deus”, diz. Mas não duvida que a vidente de Fátima será elevada aos altares: “Estou confiante porque a irmã Lúcia tinha fama de santidade já em vida e, pelas muitas informações das chamadas ‘graças’ recebidas, continuou a ter uma fama muito grande de santidade após a morte. Agora, não basta isso, é preciso que se prove efectivamente com as testemunhas, com os documentos, e depois, mais tarde, se Deus quiser, com o milagre, que essa fama corresponde à realidade”.
A cerimónia que assinala o fim da fase diocesana do processo de beatificação da irmã Lúcia está marcada para as 17h00 no Carmelo de Santa Teresa, em Coimbra, e será seguida de uma missa de acção de graças. Às 21h30 haverá um concerto na Sé Nova de Coimbra.