02 out, 2017 - 01:57 • Cristina Nascimento
Eleições autárquicas 2017:
Faz parte da vida de jornalista. No fim de uma noite eleitoral há que fazer uma reportagem. O problema é quando não existem motivos de reportagem. Foi o que aconteceu no hotel de Belém, em Lisboa, que Teresa Leal Coelho escolheu para acompanhar o desenvolvimento dos resultados eleitorais.
Às 18h30 a sala já estava bem composta com jornalistas e repórteres de imagem, mas não havia mais ninguém, excepto elementos do "staff" da candidata do PSD a Lisboa. E assim foi quase a noite inteira.
À hora das projecções da abstenção, nada se passa. À hora das projecções dos resultados eleitorais nada se passa. A primeira agitação na sala acontece pouco depois das 20h00, quando José Eduardo Martins, candidato à Assembleia Municipal, prepara-se para comentar as primeiras projecções. “Ainda é obviamente cedo para comentar resultados, mas já não é cedo para dizer que, inequivocamente, o PSD não atingiu os seus objectivos”.
A intervenção de José Eduardo Martins não chega a ter dois minutos, mesmo contando com as perguntas feitas pelos jornalistas.
A sala cai novamente no silêncio. Há mais olhos pregados no Sporting-Porto do que nas emissões especiais sobre as eleições que passam nos três ecrãs montados. Os jornalistas procuram um ou outro apoiante para entrevistar, mas ninguém está presente. Terminado o clássico, pouco depois das 21h00, nota-se algum movimento na sala, mas as 25 cadeiras destinadas a instalar figuras do partido e apoiantes continuam vazias.
Em cima das 22h00, circula a notícia: Teresa Leal Coelho presta declarações entre as 22h10 e as 22h15. Na hora combinada, surge a candidata derrotada. Não demora nem dois minutos a agradecer aos apoiantes e a reconhecer a derrota.
“Foi uma campanha intensa, apresentamos um programa que é exclusivamente da nossa responsabilidade”, diz, reconhecendo, no entanto, que a escolha dos eleitores “foi outra”. E sai, sem responder a perguntas. Percebe-se depois que rumou à sede nacional do PSD, na Rua de São Caetano à Lapa.
Na primeira fila de cadeiras, estão três pessoas sentadas, uma delas é Paula Teixeira da Cruz, antiga ministra da Justiça do Governo de Passos Coelho. “Amanhã, começa uma nova era e começa uma nova luta por valores éticos, começa uma luta pelos lisboetas, porque nem sempre quem sai derrotado deixa de fazer aquilo que tem de fazer", diz. Com uma nova liderança nacional? Paula Teixeira da faz outra pergunta: “Porquê outras figuras na liderança?”. "Não há alternativas a Pedro Passos Coelho” na presidência do partido.
Terminam as declarações de Paula Teixeira da Cruz, desligam-se os microfones, apagam-se as luzes das câmaras. A sala volta a cair no silêncio, interrompido apenas pelo barulho da recolha do material dos meios de comunicação social.
À saída do hotel, pouco depois das 23h00, descobrimos que o edifício foi inaugurado há pouco mais de um ano por Fernando Medina. Ironias…