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Crónicas da América
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Georgieva avança para a ONU: uma candidatura nada Kristalina

28 set, 2016 - 23:32 • José Alberto Lemos, em Nova Iorque

Esta é uma candidatura tardia. Mas é também uma candidatura opaca. Resulta de jogos de bastidores, que é exactamente o que o processo aberto na ONU este ano tenta evitar.

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Não foi propriamente uma surpresa o anúncio esta quarta-feira da candidatura da búlgara Kristalina Georgieva ao cargo de secretário-geral da ONU. Desde Maio último que se ouve falar nesta hipótese e, como dizia há dias uma fonte diplomática portuguesa à Renascença, houve vários momentos em que alguém garantia que ela ia avançar na semana seguinte sem falta.

Avançou agora que está cumprida a primeira fase da escolha, após entrevistas públicas e debates entre todos os candidatos perante a Assembleia Geral, um processo que começou em Abril. E sobretudo após cinco escrutínios em que os doze candidatos iniciais foram a votos submetendo-se à decisão soberana do Conselho de Segurança.

Esta é portanto uma candidatura tardia. Mas é também uma candidatura opaca. Resulta de jogos de bastidores, que é exactamente o que o processo aberto na ONU este ano tenta evitar. E nem sequer jogos de bastidores entre países que negociaram algo nas suas frentes diplomáticas. Ao que parece, trata-se antes de mais de uma iniciativa surgida no seio e por vontade do Partido Popular Europeu (PPE), a família conservadora europeia, onde é patente o empenho da Alemanha.

Na última cimeira do G20, na China, a chanceler Merkel tentou convencer o presidente russo a aderir à candidatura de Georgieva, mas a reacção de Putin foi de profundo desagrado, ao ponto de a tornar pública. Putin terá argumentado que a Bulgária já tinha uma candidata ao cargo e que não fazia sentido lançar alguém sem o apoio do seu próprio país. Para os russos, os dados estavam lançados – a directora-geral da UNESCO, Irina Bokova, é a sua candidata.

Talvez por isso, Bokova fez saber publicamente, já depois do anúncio do lançamento da sua compatriota, que se mantinha na corrida por sua conta e risco. Quer o governo búlgaro goste ou não, Sófia tem neste momento duas candidatas a secretário-geral, um sinal das profundas divisões e do desnorte político-diplomático no país. Uma circunstância que é, só por si, um factor de descredibilização das candidaturas.

As fontes diplomáticas contactadas pela Renascença são unânimes em sublinhar que uma das forças da candidatura de Guterres é o consenso absoluto que gerou em Portugal.

Neste contexto, a candidatura da ex-comissária europeia, Kristalina Georgieva, surge como descredibilizada e porventura ferida de morte. Primeiro, porque parece fundamentar-se em fracturas ideológicas europeias que são irrelevantes para o cargo de secretário-geral das Nações Unidas. Segundo, porque não se compreende muito bem o empenho da Alemanha numa candidatura tardia, lançada de forma atabalhoada e à revelia das regras de transparência postas em prática este ano. Terceiro, porque face à hostilidade mostrada por Moscovo desde o início, tudo leva a crer que o veto russo a Georgieva será uma certeza.

Mas no Conselho de Segurança o desagrado com esta candidatura poderá vir também da França, que tem demonstrado a maior simpatia para com a candidatura de Guterres. Se o que moveu a candidatura de Georgieva foi a família conservadora europeia, o PPE, é bem provável que a França, governada por socialistas, não lhe dê o seu aval.

E talvez até a China, sempre avessa a ineditismos e a espectáculos de divisão nacional como o que a Bulgária acaba de dar, se mostre pouco receptiva à novel candidata.

É por isso duvidoso que Georgieva tenha sucesso. Sobretudo porque o veto russo parece garantido. Mesmo que porventura os Estados Unidos simpatizem com a candidatura de Georgieva, por ser mulher e ser da Europa de Leste, não se vislumbra como poderão convencer os seus pares do Conselho de Segurança. Sobretudo porque as relações com a Rússia passam por um período de grande tensão por causa da Síria.

Em suma, tudo ponderado, talvez esta candidatura acabe por beneficiar António Guterres como o candidato do consenso, que se submeteu a todas as provas e em todas deu boa conta de si.

O nome próprio de Georgieva é Kristalina. Eis uma última contradição, esta semântica, da sua candidatura. A menos cristalina que surgiu até hoje.

Comentários
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  • rosinda
    30 set, 2016 palmela 03:05
    alguns dizem que quem nao gosta de antonio guterres e anti patriota!Eu digo quem nao gosta de ze perdigao tambem e anti patriota!
  • Mário Guimarães
    29 set, 2016 Lisboa 17:25
    Salazar é que os conhecia a todos ! Os da ONU e os traidores uns pagos por amaricães ,outros por sovietes e outros por franceses ! Quem é Guterres ? O que iria ele dar a Portugal ? Marcelo disse bem igual a Mandela , igual a Ghandi todos piões amaricães ! Lá perdeu a reforma no estrangeiro por ser criado . Ao menos Barroso ganhou a sua reforma por defender bem os desígnios estrangeiros ! Um bom português que enxovalhou Portugal na terra onde a droga se vende na porta das escolas e das igrejas desde o 25 de Abril. A autêntica "demucracia" do 25 de Abril : Droga livre para todos ! Só apanhamos os passadores porque os principais do Império e que vão nas procissões e que fazem donativos nem tocar-lhes! Viva a "demucracia" !Viva a "Autunumia" ! Vivam os traidores de Abril !
  • Vasco
    29 set, 2016 Viseu 15:18
    Quem dá ordens e toma todas as decisões é a Alemanha, logo todas as Nações que fazem parte da U E terão, sob pena de …., votar na D. Georgieva não exactamente por ser Kristalina, mas porque pura e simplesmente a grande ALEMANHA assim o exige. Assim sendo portugal deverá quanto antes retirar todo o apoio ao nosso azarado candidato e cumprir integralmente as ordens superiores, sem esquecer evidentemente um sorrisinho e respectiva venia !
  • Ribeiro
    29 set, 2016 Avis 14:02
    Passos Coelho já tem quem apoiar. A candidata da chefe Merkel.
  • J.Batista
    29 set, 2016 Lisboa 12:09
    Mais do que não ser cristalina e límpida, é, sobretudo, uma indignidade que inquina o processo de sucessão da presidência da ONU. Penso que a eleição (seleção) seguirá imparável, sem a admissão da búlgara(que não substituíu ninguém) cuja imposição será uma aberração e uma nojice dificilmente reparável. É claro que, seja como fôr, causa graves danos à candidatura de Guterres, colocado numa situação de opção, e poderá ser fatal. Guterres poderá mesmo ser coagido a pedir reparação moral e material pelas diversas fases que concluíu com êxito e sem mácula!
  • paulo
    29 set, 2016 vfx 12:03
    Jogos de interesses e de poder,nada mais.Uma vergonha nada transparente nem democrática.
  • Mário Guimarães
    29 set, 2016 Lisboa 09:04
    Ainda bem que acontece isto ! Assim não temos mais um criado dos amaricães a querer meter aqui refugiados às prestações para ninguém ver ! Fica provado também que a ONU é uma Organização onde se organizam as "mascambilhas " no Mundo . Já no tempo de Salazar organizaram tudo até os aviões para os nossos refugiados saírem mais depressa para se iniciar o saque de petróleo e diamantes!

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