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Isabel dos Santos. Do bar de praia à "Forbes", a história da milionária discreta

27 mar, 2015 - 10:30 • Paulo Ribeiro Pinto

A história dela tem tudo (ou quase): guerra, paz, poder, dinheiro, mistério, mito, diamantes e influência. "Segredos e Poder do Dinheiro", de Filipe Fernandes, traça o percurso da filha mais velha do Presidente angolano que se tornou a mulher mais rica de África.

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Antes de ser a empresária que quase todos conhecem - em Angola, Portugal e no mundo financeiro global -, Isabel dos Santos começou a sua ligação aos negócios num bar de praia.

Em meados da década de 1990, a filha mais velha de Eduardo dos Santos torna-se sócia do Miami Beach Club, na ilha de Luanda. Um investimento "insignificante", mas que singrou: "Dezasseis anos depois, ainda é um ‘hot spot’ de fim-de-semana", escreve o jornalista Filipe Fernandes, em "Segredos e Poder do Dinheiro", uma biografia da empresária acabada de editar.

O grande salto para os negócios dá-se com a Unitel. A empresa de telecomunicações venceu o concurso para a instalação da rede móvel em Angola. Estamos no início da década de 2000, altura em que a Portugal Telecom entra no universo empresarial de Isabel dos Santos, com uma participação de 25% da Unitel.

A partir daqui, além de diversificar os investimentos, a fortuna de Isabel dos Santos começa a crescer até chegar aos 3,5 mil milhões de euros, segundo a revista norte-americana "Forbes".

Filipe Fernandes explica à Renascença que o império da empresária se deve ao contexto político de Angola. E elenca três factores: "O facto de ser filha de José Eduardo dos Santos, estar aliada à [petrolífera angolana] Sonangol e a uma 'holding' que liga alguns generais e pessoas importantes".

É um "capitalismo de compadrio", diz o jornalista. Acrescenta ainda o facto de Angola, saída de uma guerra civil de décadas, ter a necessidade de criar empresários – rapidamente. E Isabel dos Santos estava bem colocada. Mas a empresária "tem algum talento, estratégia e visão" dos negócios, reconhece Filipe Fernandes.

Os três negócios – mais os diamantes e o cimento
Os sectores das telecomunicações, banca e energia são os grandes pilares da fortuna de Isabel dos Santos.

Filipe Fernandes acredita que as telecomunicações são o negócio onde a empresária mais se sente à vontade: "Ela toma decisões e tenta acompanhar o quotidiano do negócio." O interesse na banca e na energia tenta fazer a intersecção entre Portugal e Angola.

Para o biógrafo, a entrada no negócio dos diamantes (Santos é accionista da joalheira suíça De Grisogono) é uma "experiência", uma tentativa de controlar a cadeia de valor desde a exploração à venda de jóias.

Em Angola, Isabel dos Santos tem ainda interesses numa cimenteira. Um investimento secundário, contudo.

Portugal como porta de entrada
A ligação de Isabel dos Santos a Portugal começa com a entrada da PT no capital da Unitel. As relações empresariais começaram no início do século e foram sendo reforçadas ao longo dos últimos anos. Hoje, é accionista de referência do BPI, do BIC, da NOS e da Galp, através da Amorim Energia.

Filipe Fernandes acredita que esta ligação está relacionada com a necessidade de Isabel dos Santos ter acesso aos mercados financeiros europeus. Portugal é a porta de entrada.

O autor do livro "Segredos e Poder do Dinheiro" está convicto que Isabel dos Santos não pode ser considerada a "salvadora" de empresas portuguesas em dificuldades (aconteceu recentemente com a venda da PT, SGPS). Se os interesses estiverem noutro sítio "Isabel dos Santos vai procurá-los", avisa.

"Muito pouca gente a conhece"
Escrever a biografia de Isabel dos Santos é quase como montar um puzzle: juntar peças e tentar encaixá-las no tabuleiro. A empresária não dá entrevistas, raramente é vista em público (recentemente esteve na inauguração de uma exposição da colecção de arte do marido, Sindika Dokolo, no Porto).

"É discreta, mas não deixa de gozar os prazeres da vida. Frequenta bons restaurantes, vai para os melhores sítios que há para as férias", afirma.

"Muito pouca gente a conhece de facto", resume. A única excepção, sublinha, foi quando "não gostou de uma reportagem da revista 'Sábado', em que se socorreu do Direito de Resposta e revela muita coisa sobre ela. Explica até o seu casamento e o menu".

Não foi só em Portugal. Na mesma altura surgiu um artigo no jornal italiano "La Stampa", que "ela considerou muito agressivo e achou atentatório do que ela é".

"Há um certo mistério em algumas coisas do seu início da sua carreira. Por exemplo, as ligações aos diamantes. Pode não ser nada, mas vai alimentando o mito."
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