29 set, 2015 - 20:06
As imparidades registadas pela Parvalorem em 2012 foram consideradas insuficientes pela Deloitte e apesar de terem sido reforçadas nos dois anos seguintes a auditora continua ter dúvidas se ainda são suficientes.
No relatório e contas relativo a 2012, na parte referente à certificação e auditoria, a Deloitte considera que as imparidades da rubrica `outras contas a receber`, que tinha a 31 de Dezembro de 2012 um saldo líquido positivo de 1,594 milhões de euros, eram insuficientes.
Segundo a Deloitte, aquela rubrica "inclui um conjunto de devedores cujas dívidas à sociedade se encontram garantidas por activos, nomeadamente terrenos", e considera que tendo em conta a situação do país "não se perspectiva no curto prazo a realização ou conclusão de projectos imobiliários que estavam subjacentes às avaliações disponíveis desses activos", o que os fazia valer menos.
"Por este motivo, em 31 de Dezembro de 2012 estavam em geral sobreavaliadas o que conduz a uma insuficiência de imparidade reconhecida nas demonstrações financeiras a essa data para aqueles devedores", lê-se no parecer assinado por José António Mendes Garcia Barata, que diz, no entanto, que não tinha informação que permitisse "quantificar as necessidades adicionais de imparidades".
Já nas contas referentes a 2013, a Deloitte sublinha que foi realizado um reforço das perdas por imparidades de 312,470 milhões de euros.
Ainda assim, a auditora mantém dúvidas quanto à suficiência das imparidades e explica novamente que a rubrica `outras contas a receber` e `adiantamentos a fornecedores` continua a ter dívidas garantidos por activos imobiliários de que não perspectiva a sua conclusão, mas refere desta vez que não dispõe de "informação suficiente que permita concluir sobre a suficiência das perdas por imparidades".
O mesmo reparo seria repetido pelo auditor José António Mendes Garcia Barata nas contas de 2014, ano em que a empresa voltou a reforçar imparidades em 90,216 milhões de euros, com este a usar exactamente a formulação de 2013 para dizer que a informação não permitia "concluir sobre a suficiência das perdas por imparidades" registadas nesse exercício.
A Antena 1 noticiou esta terça-feira que, quando a ministra das Finanças soube, em Fevereiro de 2013, que as contas da empresa pública responsável pelos activos de má qualidade do ex-Banco Português de Negócios (BPN) apresentavam perdas de 577 milhões de euros com créditos em riscos de incumprimento, o que iria agravar o défice orçamental, pediu à administração da Parvalorem que mexesse nas contas para que estas revelassem um cenário de perdas mais optimista do que o real, reduzindo os prejuízos reconhecidos em 2012.
Maria Luís Albuquerque admitiu esta terça-feira aos jornalistas ter questionado a Parvalorem sobre as expectativas "demasiado pessimistas" sobre os prejuízos de 2012, mas rejeitou qualquer espécie de manipulação de contas.
"Fiz a pergunta [se as perdas registadas nas contas de 2012] podiam ser mais optimistas porque me pareceu que a expectativa estava excessivamente negativa quanto àquilo que seria a evolução da economia e da capacidade de efectivamente os créditos serem satisfeitos", afirmou numa deslocação à Moita, distrito de Setúbal, em que é cabeça-de-lista pela coligação PSD/CDS-PP.
O conselho de administração da Parvalorem, tutelado pelo ministério das Finanças, também recusa a manipulação de contas, realçando que o fecho de 2012 "não foi mais do que um normal exercício" dos serviços de auditoria, contabilidade "e sob a exclusiva responsabilidade do conselho de administração".