03 nov, 2015 - 10:39 • Sandra Afonso
A menos de dois meses do final do ano, Portugal ainda não tem um Governo em funções e muito menos um Orçamento do Estado aprovado para 2016. Ouvido pela Renascença, o economista e ex-ministro das Finanças João Salgueiro avisa que tal situação poderá conduzir o país a um novo resgate.
“Já passei por uma situação dessas. Estive num governo de gestão durante mais de quatro meses, quase cinco, e o Orçamento foi dispensado, mas todos os partidos concordaram que se tinha de tomar as decisões antes de anular o Orçamento. Há-de haver uma maioria no Parlamento – não sei de quem, mas há-de haver – e essa maioria é responsável pelas decisões que tomar”, analisa.
João Salgueiro avisa que a actual situação de impasse prejudica o país e pode levar o Governo a uma situação de carência financeira.
“Pedimos dinheiro emprestado a três organismos internacionais, vimo-nos livres disso há pouco tempo e vamos voltar a pedir um novo resgate?”, questiona, indignado. “Se fizermos coisas deste género, o país não se aguenta sem o Orçamento. É evidente [que precisaremos de um novo resgate]”.
O economista diz ainda que as medidas avulsas já conhecidas à esquerda não deixam margem para descer o défice para menos de 3% no próximo ano – só com mais impostos.
“Aumentando os impostos, claro que pode. Os portugueses pagam mais dinheiro e é possível”, afirma. “Se [os partidos] aumentarem a despesa, têm de aumentar a receita. Não há maneira de fugir”, acrescenta.
João Salgueiro critica também o facto de a esquerda ainda não ter apresentado aos portugueses o acordo de governo e lembra o PS, o Bloco de Esquerda e o PCP que outros (François Hollande, em França, os socialistas alemães e o Syriza, na Grécia) já tentaram negociar com Bruxelas e falharam.
“Se os males dos outros não nos ensinam nada, caímos em coisas parecidas”, conclui.
O economista defende ainda que o Presidente da República não deve dar posse a nenhum governo sem ser conhecido o seu programa.
Na segunda-feira, Cavaco Silva disse estar convencido que Portugal continuará a honrar os compromissos europeus e reiterou a importância disso mesmo para a credibilidade do país.