10 dez, 2015 - 02:11 • José Pedro Frazão
Dos “drones” à construção de um satélite, a Tekever, sediada em Lisboa, está em plena afirmação internacional e expansão nacional. Não falta até uma aposta no interior, a pensar na empregabilidade de cursos superiores ministrados na Beira Interior.
Ricardo Mendes, fundador da empresa, explica que a Tekever é já uma holding de sete empresas com 120 trabalhadores, com um volume de negócios em torno dos 20 milhões de euros, conseguidos na maioria pela exportação.
Uma das apostas situa-se na área dos aviões não-tripulados, através da Tekever - Autonomous Systems.
“Posso destacar o primeiro sistema de vigilância marítimo europeu, feito com equipamentos nosso, de médio e grande porte, entre os 150 e os 200 quilos, que irá estar em operação a partir do Verão do próximo ano. Desenvolvemos uma plataforma tecnológica base, em que todos os equipamentos possam comunicar entre si e cooperar. Todos eles têm ‘inteligência’ a bordo e capacidade para comunicar entre si para cumprimento de missões”, diz o administrador principal da Tekever.
São “drones” de utilização industrial e especializada, nas áreas da segurança marítima, protecção da natureza ou combate a incêndios. Em breve os aviões não tripulados de fabrico português vão vigiar mares e oceanos.
“Vamos encabeçar um projecto em parecia com a Agência Europeia de Segurança Marítima e com a Agência Espacial Europeia, que vai estar no próximo Verão em várias áreas: Mediterrâneo, Mar do Norte e Oceano Atlântico, ao largo de Portugal. São projectos em três áreas em que os sistemas de vigilância marítima com ‘drones’ vão estar em acção”, explica o responsável da Tekever.
A mente já controla o “drone”
A PME portuguesa foi mais longe e testou mesmo um projecto de “drone” controlado por ondas cerebrais. Chama-se Brainflight e é um projecto de inovação que já foi sujeito a demonstrações públicas na Alemanha e em Portugal.
“Na Alemanha, quisemos demonstrar o controlo de um avião tripulado, com um piloto num simulador, equipado com equipamento de Brainflight que, no fundo, capta as ondas cerebrais, faz a sua transformação em sinais eléctricos e a sua interpretação para o controlo do equipamento. Em Portugal, foi feita uma demonstração aberta onde um operador de um sistema não tripulado colocou o mesmo equipamento e controlou um avião não tripulado que já estava no ar numa zona segura”.
Sim, é possível, garante o empresário português.
Aposta no interior
Dos desenhos ao fabrico da parte mecânica, a PME portuguesa só não faz os motores e os trens de aterragem. Tudo é executado em Portugal ou Inglaterra. Para crescer em tamanho nos equipamentos, a Tekever decidiu avançar para uma fábrica no interior do país.
“A aposta em Ponte de Sôr justifica-se pela baixa densidade populacional e alguns factores muito interessantes. Há infraestruturas já ligadas à aeronáutica, devido ao aeródromo com excelentes condições e um pequeno parque industrial muito próximo. Fica também próximo de Castelo Branco e Covilhã, onde existem cursos muito interessantes na engenharia aeronáutica. Podem providenciar recursos humanos de qualidade que venham reforçar a nossa equipa nessa região”, justifica o administrador da Tekever.
Um satélite na forja
Pensaram em Vasco da Gama e não fizeram por menos. Na dimensão aeroespacial, a Tekever colocou uma das suas empresas a trabalhar num satélite integralmente feito em Portugal.
O GAMA SAT tem lançamento apontado para finais de 2016 e todos os subsistemas - comunicações, propulsão, controlo, energia – têm a assinatura da Tekever, num projecto co-financiado pela Comissão Europeia.
Poderão aproveitar alguma tecnologia própria já em utilização em satélites chineses. Exemplo, o GAMA LINK, que já aí anda a fazer das suas.
“É um equipamento produzido para tornar mais fáceis e flexíveis as comunicações entre sistemas espaciais, como satélites. Neste momento já está num grau de maturidade muito elevado. Já foi para o espaço, a bordo de três satélites chineses lançados em Setembro, e teremos bastantes mais missões planeadas para os próximos anos. O GAMA LINK permite-nos fazer uma espécie de internet no espaço. Fazer com que a comunicação entre satélites sejam mais simples e não complexas, ponto a ponto como na maioria dos casos”, explica o fundador da empresa co-galardoada com o Prémio PME Inovação COTEC2015.