22 dez, 2015 - 01:25
O Banco de Portugal (BdP) decidiu no sábado que, dada a urgência em aplicar uma medida de resolução ao Banif, só podia negociar a venda com entidades participantes nas negociações da alienação voluntária, escolhendo o Santander Totta e o Popular.
"A alienação parcial ou total da actividade da instituição é a medida mais adequada a esta situação, tendo em consideração a existência de potenciais interessados na aquisição de parte do património do Banif, já manifestada no contexto do processo de alienação voluntária", lê-se numa das deliberações do Conselho de Administração do BdP relativas à resolução do Banif que foram hoje divulgadas para "fins de conhecimento público".
Depois de ter apontado para a "urgência" em aplicar uma medida de resolução ao Banif, de forma a evitar que o banco caminhasse "inevitavelmente" para a cessação de pagamentos e para a revogação da sua autorização para o exercício da actividade, o que conduziria à sua liquidação, o supervisor justificou a opção de endereçar convites apenas ao Santander Totta e ao Popular.
Governo disse 4ª feira que resolução era única alternativa viável
O ministro das Finanças, Mário Centeno, informou o Banco de Portugal (BdP) na quarta-feira que os desenvolvimentos no processo de venda do Banif indicavam que, caso este falhasse, a resolução era a única alternativa viável, segundo documento oficial.
"Em 16 de Dezembro de 2015, o ministro das Finanças comunicou ao Banco de Portugal que, perante a sucessão de circunstâncias e desenvolvimentos havidos no processo de alienação voluntária, designadamente perante a incapacidade de construir um cenário de viabilidade a médio prazo para o Banif que fosse aceite pela Comissão Europeia, não parecia restar outra alternativa que não passasse pela resolução do Banif num contexto em que soçobrasse a solução de alienação voluntária", lê-se num documento disponibilizado pelo Banco de Portugal.
O supervisor publicou as deliberações do Conselho de Administração relativas à resolução do Banif para "fins de conhecimento público". É num desses documentos, relativo a uma reunião extraordinária do Conselho de Administração da entidade realizada a 19 de Dezembro, sábado, na véspera do anúncio público da resolução, que se encontra esta informação.
"Em 17 de Dezembro de 2015, o ministro das Finanças comunicou ao Banco de Portugal que, conforme a posição clara e expressa da Comissão Europeia, não sendo possível concretizar a alienação do Banif no âmbito de um processo voluntário, deveria ter lugar a alienação da respectiva actividade no quadro da aplicação a este banco de uma medida de resolução", informou o BdP.
Nesse mesmo dia, Mário Centeno "deu também conhecimento ao Banco de Portugal da oposição manifestada pela Comissão Europeia à realização de uma operação de capitalização obrigatória com recurso a investimento público", acrescentou.
Entre as várias considerações da deliberação, organizadas por pontos e por ordem cronológica, lê-se que a 18 de Dezembro, a Comissão Europeia, através da Direcção-Geral da Concorrência, "clarificou que não era possível a alienação voluntária se esta implicasse a concessão de auxílio de Estado, o que era o caso das propostas de aquisição conhecidas pela Comissão Europeia, até esse momento".
Mais, Bruxelas informou que, se fosse requerido apoio financeiro público extraordinário, a autoridade de supervisão ou a autoridade de resolução deveriam declarar que o Banif se encontrava "em risco ou em situação de insolvência".
E nesse mesmo dia, a Comissão Europeia fez saber que "em seu entender, as soluções de alienação que estavam a ser analisadas apenas poderiam ser viáveis num cenário de resolução".
No dia seguinte, 19 de Dezembro, o ministro das Finanças informou o BdP, com base na informação que lhe tinha sido transmitida pelo Conselho de Administração do Banif, que "não tinha sido possível concretizar a venda de activos e passivos desta instituição no âmbito do processo de alienação voluntária".
Assim, segundo o documento, "a restituição pelo Banif do auxílio de Estado, em consequência da declaração da sua ilegalidade pela Comissão Europeia, criaria uma insuficiência de capital gravíssima e irrecuperável à instituição, dada a fragilidade da actual situação de capital do Banif".
“Banif sofreu uma degradação notória e muito acelerada nos últimos dias”
O BdP assinalou ainda que "a situação de liquidez do Banif sofreu uma degradação notória e muito acelerada nos últimos dias, expressa numa saída substancial de depósitos que coloca em risco sério e grave de cumprimento das respectivas obrigações e, consequentemente, da prestação dos serviços financeiros essenciais".
E que "a frustração das expectativas quanto ao desfecho do processo de alienação voluntária determinaria, seguramente, um agravamento desta situação de liquidez, com risco de imediata cessação de pagamentos".
Assim, o BdP realçou que estes factos "conduziriam o Banif a uma situação de incumprimento dos requisitos para a manutenção da autorização para o exercício da sua actividade, com a consequente entrada em liquidação, e demostram que o Banif se encontra `em risco ou em situação de insolvência`".
Face a isto, o BdP "considera que a aplicação de uma medida de resolução é a única solução capaz de proteger os depositantes e de assegurar a continuidade dos serviços financeiros essenciais para a economia prestados pelo Banif (em particular nas Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores), salvaguardando a estabilidade do sistema financeiro com menos custos para o erário público".
O Governo e o Banco de Portugal decidiram a venda da actividade do Banif e da maior parte dos seus activos e passivos ao Banco Santander Totta por 150 milhões de euros, anunciou o supervisor bancário em comunicado no domingo.
A alienação foi tomada "no contexto de uma medida de resolução" pelas "imposições das instituições europeias e inviabilização da venda voluntária do Banif", segundo o documento.
A operação "envolve um apoio público estimado em 2.255 milhões de euros que visam cobrir contingências futuras, dos quais 489 milhões de euros pelo Fundo de Resolução e 1.766 milhões directamente do Estado", informou o banco central, garantindo que esta solução "é a que melhor protege a estabilidade do sistema financeiro português".