24 jan, 2016 - 17:48 • Ana Carrilho , em Madrid
Cheiros apelativos e sabores irresistíveis. O café expresso e os pastelinhos de nata atraíam muitas dezenas de pessoas logo pela manhã ao espaço de gastronomia do “stand” do Turismo de Portugal na FITUR – Feira Internacional de Turismo de Madrid, que decorreu desde terça-feira até este domingo na capital espanhola.
As experiências gastronómicas dos diversos pontos do país e as provas de vinhos sucediam-se ao longo do dia, servidos por alunos e professores das Escolas de Hotelaria e Turismo de Lisboa e do Algarve. Entre doces e salgados, carnes e peixes, queijos, enchidos, pão, bolos, compotas, conservas, vinhos, licores ou espumantes, muito houve para degustar.
Nesta 36ª edição da FITUR, as regiões turísticas do Norte e Centro de Portugal resolveram unir esforços e partilhar um “stand”. Ao longo de cinco dias, três “chefs” mostraram como é possível aliar os produtos e sabores tradicionais às técnicas contemporâneas.
Torta de miga de peixe do Tejo com espuma de azeite, folhadinho de escabeche de perdiz, arroz doce de forno com leite de cabra e tortinha de requeijão de abóbora foram algumas das produções do jovem “chef” Mário Ramos apresentadas em conjunto com os alunos da Escola Superior de Gestão de Idanha-a-Nova que pertence ao Instituto Politécnico de Castelo Branco.
Mário Ramos confessou à Renascença que muitos dos alunos que ali estavam em Madrid tinham mais 20 anos do que ele. “Estão na escola para complementar a experiência inicial com uma componente gastronómica que está agora na moda”, revela.
O “chef”, que é também proprietário do restaurante Helana em Idanha-a-Nova, frisa a importância de participar nestas feiras de turismo e na FITUR em particular: “Estamos na Raia e os espanhóis têm uma cultura gastronómica mais avançada, procuram uma infinidade de experiências, enquanto o público português ainda é mais recatado, continua agarrado às suas bandeiras gastronómicas tradicionais”. Ainda assim, o tradicional leitão da Bairrada, acabadinho de assar, gerou as maiores filas no “stand”.
As provas de vinhos foram outro dos pontos altos da conquista de Espanha por Portugal. De Norte a Sul, a diversidade é imensa e a qualidade superior. Uns mais conhecidos e já com nome no mercado, outros à procura de protagonismo. Era esse o objectivo de Mário Gonzaga, responsável de enoturismo no Monte da Ravasqueira, em Arraiolos que, à Renascença, admitiu ter conseguido bons contactos nesta sua primeira presença na FITUR. “Os espanhóis que recebemos ainda são poucos e esta é uma boa forma de levarmos mais a conhecer a propriedade para lazer, visitas ou usufruir da restauração”.
Golfinhos, aves e o sol, que “vende muito”
Espanha é já o terceiro mercado (depois de Portugal, na época alta, e Reino Unido) do Zoomarine, no Algarve, que em 2015 recebeu mais de meio milhão de visitantes. Hugo Brites, responsável de marketing do Zoomarine, revela que o mercado espanhol está em crescimento. “Vem muita gente, naturalmente, da Andaluzia, mas há cada vez mais famílias a vir de propósito de Madrid ou Barcelona para fazer o programa único na Europa de interacção com os golfinhos. Pessoas com poder de compra mais elevado, o que é bom para o Zoomarine, para Albufeira e para o Algarve”.
Mas também há quem prefira muito menos agitação. São assim os turistas que procuram a Casa dos Castelejos, em Castro Verde, a caminho de Mértola. Com uma grande biodiversidade, os estrangeiros, sobretudo da Bélgica, Holanda e Norte da Europa, vêm de propósito para a actividade de “birdwatching”, sobretudo na Primavera.
Mas a proprietária, Cremilde Brito Pais, frisa que há muito mais para fazer do que ver aves: caminhadas, passeios de bicicleta, de jipe ou Moto 4, balonismo, visitas a adegas e gastronomia da região ou actividades no rio Guadiana, como passeios ou canoagem. Também podem, pura e simplesmente, descansar e gozar o sol. “O sol vende muito. Os estrangeiros do Norte da Europa gostam muito da longa duração dos nossos dias, das muitas horas de sol que eles não têm”, diz.
A empresária veio pela terceira vez à FITUR, integrada no grupo da Agência de Promoção Turística do Alentejo, mas admite que não foi para angariar clientes espanhóis. “É para contactos com operadores porque aqui em Madrid aparecem expositores de todo o mundo”, afirma.
Esse é também o objetivo de Manuel e Filipe Paiva, dois irmãos e jovens empresários que se lançaram recentemente numa empresa de gestão de alojamento local na Península de Tróia. “É uma zona de muita procura e com pouca oferta, mas os proprietários, sozinhos, praticamente, só conseguem vender o mês de Agosto”, argumentam. A Sol Tróia acompanha proprietários e hóspedes em todas as fases, desde o processo de cumprimento das regras legais do alojamento local, à manutenção, limpeza das moradias e apartamentos e sobretudo “marketing”, na abordagem ao mercado internacional.
O negócio começou com o aluguer da própria casa a que se seguiram as de alguns amigos e vizinhos. Têm cerca de 30 alojamentos e a presença na FITUR, a segunda, é “para arranjar contactos com operadores, parceiros e ver o que os outros andam a fazer, claro”, diz Filipe Paiva. “Ninguém vende alojamento, o que nós vendemos são férias e visitas à região e ao nosso país. Porque ninguém vem só para dormir, vêm para desfrutar. Por isso é importante cooperarmos com outros parceiros à volta para os passeios de bicicleta ou a cavalo, os ‘wine tours’, para ver os golfinhos. Há quem ainda venha só pelo sol e mar, mas são cada vez menos”, diz Manuel.
Hoteleiros e agentes de viagens satisfeitos
Espanha é o “melhor mercado” para Portugal, “em número de turistas, mas ainda não em valor”, afirma Luís Veiga, presidente da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP). “E isso pode mudar, agora que Espanha está a sair da crise. O consumo privado está a aumentar e há apetência pelas viagens e idas a Portugal com mais frequência.”
“Estamos a apostar na maior qualidade, na requalificação e modernização dos hotéis, tornando o país mais competitivo neste sector, mais vocacionado para nichos de mercado que dão muita importância àquilo que é diferente e único. E que também nos permite vender mais caro”, reforça o hoteleiro e dirigente associativo.
Também o presidente da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT) destaca a importância da presença na FITUR. “Esta é a primeira grande feira de turismo, tem lugar numa altura em que as agências estão a activar as próximas férias e há muitos associados que vendem Portugal no mercado espanhol, um importante emissor”, diz Pedro Costa Ferreira.
Graças ao digital, as agências chegam hoje às feiras só para finalizar e assinar contratos. “Mas continuam a ser grandes pontos de encontro para revisitar amizades ou conhecer os novos protagonistas do sector.”
A jornalista viajou a convite da Agência de Promoção Turística do Alentejo