02 mar, 2016 - 04:17
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Avançar com uma proposta de renegociação da dívida pública é abrir um “buraco” nos bancos portugueses, alerta João Salgueiro em entrevista ao programa "Terça à Noite" da Renascença.
“Nós estamos endividados, não só o Estado mas também o sector privado: empresas e bancos, etc… E uma grande parte dessa dívida é também aos bancos portugueses. Então vamos querer criar um buraco nos bancos portugueses? Faz-se a renegociação da dívida só com os bancos estrangeiros? Os portugueses não têm nenhum prejuízo? Têm que ter prejuízo, portanto, o melhor é pôr de lado já, no Orçamento, verbas para compensar esse buraco que se vai abrir. Se se fizesse. Eu acho que não se vai fazer. Isso é tão evidente que não se deve fazer”, advoga o antigo presidente da Associação Portuguesa de Bancos.
O antigo ministro das Finanças defende que Portugal deve, sim, aproveitar as taxas de juro baixas “para pagar antecipadamente alguma dívida que era cara demais, como a do Fundo Monetário Internacional”.
“Não é uma maioria que possa durar muito tempo”
João Salgueiro mostra-se pessimista em relação ao futuro do actual Governo socialista, com apoio parlamentar de PCP, Bloco de Esquerda e Verdes, devido à falta de um programa comum.
“Não é uma maioria que possa durar muito tempo. Ou há uma conversão - e era uma boa solução para o país - e percebem que todos têm que lutar para tornar o país atractivo para o investimento estrangeiro e colaboram nas mudanças… Isso era a solução óptima porque não era a oposição actual [PSD e CDS] que se ia opor. Se eles começarem as fazer as tais reformas que estão adiadas há 30 e tal anos, era óptimo.”
Questionado se o actual Governo vai chegar ao fim do mandato, o economista começa por dizer que “não há nada nas estrelas que diga que é impossível”, mas “a probabilidade não é grande”.
João Salgueiro reforça os alertas para o Orçamento do Estado para este ano e lembra que o Conselho para as Finanças Públicas considera que o documento contém “riscos significativos”.
“Cavaco vai ser reapreciado pela positiva”
Em relação ao mandato presidencial de Cavaco Silva, que está a poucos dias de terminar, João Salgueiro acredita que o balanço será mais positivo com o passar dos anos.
“Não sei se por dificuldades próprias ou da situação, um dos temas em que ele [Cavaco Silva] mais insistiu continua a estar na ordem do dia, que era o consenso entre as forças políticas que vai ser necessário. Infelizmente, não lhe correu bem. Mas é preciso ver que qualquer Presidente de direita tem uma má comunicação social e, ao mínimo deslize ou à mínima proposta que não vença… Eu acho que ele vai ser reapreciado pela positiva à medida que os anos passam. As fraquezas de que todos os presidentes são acusados acabam, no futuro, por serem menos valorizadas e percebe-se que muitas das soluções foi pena que não tivessem ocorrido. Aliás, esse apaziguamento já está em curso”, sublinha João Salgueiro.