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​Arrendar casa em Lisboa. Mais turistas, menos portugueses?

23 mar, 2016 - 07:00 • João Carlos Malta

Há dois anos que as rendas crescem em Lisboa. A oferta está a decrescer e a procura mantém-se estável. Os senhorios preferem o arrendamento de curta duração a estrangeiros, mais rentável. Já para os jovens portugueses está muito mais difícil encontrar casa no centro da cidade.

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Desde o início de 2014 que as rendas em Lisboa não param de aumentar. Depois da depressão dos anos de crise financeira, a partir de 2014, a capital portuguesa voltou a ver subir os preços do arrendamento. São cerca de 10% de crescimento nos últimos dois anos.

Os profissionais do imobiliário contactados pela Renascença são unânimes no diagnóstico: a oferta de casas para arrendar está a diminuir. Para isso, concorrem três grandes factores: o aumento dos apartamentos desviados para o arrendamento de curta duração a turistas; a recuperação do mercado de venda, que faz com que as casas para arrendar sejam um bem cada vez mais escasso; e o facto de a reabilitação não estar a ser direccionada para esta área.

“Desde 2015, temos verificado um crescimento do valor médio de arrendamento e que tem a ver com a oferta disponível no mercado”, diz Ricardo Sousa, administrador da rede imobiliária Century 21, uma das maiores operadoras no mercado nacional. Acrescenta que são os jovens e as jovens famílias que mais recorrem ao mercado de arrendamento.

A consequência, garante, é que quem deixa a casa dos pais ou começa uma vida em casal está a ser novamente empurrado para fora da cidade. “A opção de arrendar está a ser limitada pela falta de oferta a valores ajustados à capacidade actual dos portugueses, sobretudo na cidade de Lisboa”, sublinha.

A reabilitação imobiliária, segundo este especialista, tem sido direccionada para o turismo e para o arrendamento de curta duração, afirma o administrador da Century 21. “Existe actualmente no mercado de Lisboa uma escassez de opções de habitação acessível ao arrendamento”, defende.

O turismo “é fundamental” e “tem sido o motor determinante para aumentar a confiança do mercado imobiliário”, afirma. Mas Ricardo Sousa deixa um aviso: “É preciso que haja equilíbrio porque a herança cultural da cidade é o maior factor de atracção de turistas”.

Autarquia lança bolsas para jovens

Para a vereadora da Habitação da Câmara de Lisboa, Paula Marques, seria demagógico associar “directamente o afastamento ou a falta de oferta no sector privado com a proliferação das unidades hoteleiras e do alojamento local”. “Ainda não temos condições para afirmar categoricamente isso”, diz à Renascença.

A autarquia percebeu que o valor de arrendamento no centro da cidade, “nos últimos três a quatro anos”, aumentou. No entanto, admite Paula Marques, a Câmara de Lisboa tem “dificuldade em fazer a regulação daquilo que é uma economia de mercado, tal qual ela está a funcionar”.

Infografia: Rodrigo Machado/RR

O executivo liderado por Fernando Medina lançou recentemente uma bolsa de arrendamento de 24 casas no Bairro 2 de Maio, na Ajuda, destinada exclusivamente a jovens. Os valores destes apartamentos são entre 30% a 40% inferiores aos do mercado. A intenção é que este projecto-piloto possa ser alargado a outras zonas da cidade.

Na semana passada, na reunião do executivo camarário em que se discutiu este projecto, o Bloco de Esquerda, segundo notícia do jornal “Público”, apontou o dedo ao “aumento da procura turística”, considerando que, apesar do “contributo positivo na economia da cidade”, tem “levado a uma degradação da qualidade de vida”.

Para o BE, a “vida característica de Lisboa” está “ameaçada pela especulação imobiliária e pela expulsão dos seus residentes”, mas também “a política de gestão do património imobiliário municipal não tem tido em conta essa realidade”

A vereadora Paula Marques defende que a renda convencionada é uma forma de a Câmara de Lisboa “promover o equilíbrio naquilo que é a livre iniciativa da propriedade privada”.

Arrendar acima das possibilidades

Também Luís Lima, presidente da APEMIP (Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal), enfatiza que, nos últimos dois anos, “alguns proprietários de casas aproveitaram uma oportunidade de negócio que é o alojamento local”.

Tornou-se “difícil” a um jovem encontrar em Lisboa um T1 por 500 euros. “Para um jovem que esteja em início de carreira e tenha um salário de mil euros, é difícil poder pagar 500 euros. Poderia no máximo de pagar até 350 euros”, aponta.

Um inquérito recente da APEMIP demonstra que nas principais cidades portuguesas “60 a 70% das pessoas acham que arrendaram uma casa acima das suas possibilidades, com as consequências que vêm daí”.

O alojamento local acabou por ser positivo para alguns proprietários, mas Luís Lima vaticina que “não terá grande futuro”.

Já Ricardo Guimarães, responsável pelo portal Confidencial Imobiliário, afirma que até 2014 o mercado de arrendamento de Lisboa esteve em depressão, com uma queda de 20% em relação ao período pré-crise.

O motivo mais forte dessa queda terá sido a transferência de vários proprietários do segmento de vendas para o arrendamento. Consequência: um aumento da oferta a preços mais baixos. Isto porque a procura era sobretudo daqueles que não conseguiam aceder à compra de casa pelo bloqueio que o sistema financeiro estava a colocar à concessão de crédito. Assim, o factor preço era determinante no mercado.

Infografia: Rodrigo Machado/RR

Quando a tendência mudou e o mercado de venda recuperou, o fenómeno inverteu-se. “Imediatamente, os proprietários tentam fazer a venda das casas saindo do mercado de arrendamento. Há uma redução da oferta. E isso foi seguido do aumento de rendas”, explica.

A este fenómeno acresce que para o proprietário “abriu-se uma janela com o turismo”. Este especialista explica que os proprietários já não têm só em conta a economia local e, por isso, não têm de ajustar os preços às dinâmicas internas do país. O dono de uma casa pode olhar para quem vem de fora. “Na óptica do proprietário, havendo outras soluções de rendimento, ele usa-as. Esse é um factor que leva a que as rendas subam”, conclui.

O futuro e o exemplo de Barcelona

Ricardo Sousa, que dirige a operação em Portugal e Espanha da Century 21, mediadora norte-americana, dá o exemplo Barcelona que viveu todo este fenómeno anteriormente. “Definiram critérios de arrendamento de curta duração e zonas para hotéis. Protegeram ainda ao comércio tradicional e a zonas emblemáticas da cidade”, exemplifica.

O mediador olha para Lisboa e sente que “as coisas estão a avançar de forma pouco criteriosa, pondo em risco um dos atractivos da cidade e criando limitações para as pessoas que querem estar na cidade”.

O mercado não tem regras? “Mais do que desregulado, falta uma linha estratégica na habitação e no turismo. São duas situações que não podem ser analisadas de forma separada para que haja um critério que potencie o turismo e faça crescer o potencial da cidade, mas também a habitação para jovens”, remata Ricardo Sousa.

Comentários
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  • antonio
    29 mar, 2016 lisboa 10:21
    Falo das rendas em geral na cidade de Lisboa. ( Os T0/T1 ( estúdios)foram feitos para arrendar aos turistas,depois temos apartamentos em caves, em sótãos para pessoal de Leste, Brasileiros etc etc. onde o cheiro a "mofo", a humidade e a falta de condições bradam aos céus!! preço: entre 350 a 500 euros. Depois nos arrabaldes (arredores) apartamentos, muitos deles "herdados/comprados de construções sociais"e agora arrendados a preços inflacionados entre 575 a 750 euros quando não valem mais que 400 euros!! Eu não quero Ferrari!! mas exploração vergonhosa de senhorios......devia ser fiscalizada....dizem é o mercado!!
  • Pinto
    23 mar, 2016 Custoias 22:32
    Pudera, Lisboa não se transformou na África, fico mais atraente.
  • Helder
    23 mar, 2016 Lisboa 22:04
    Agradeçam ao CDS e `a menina Cristas com as novas leis do arrendamento e aos "vistos gold dados pelos portas que fez do centro da capital uma paraíso para estrangeiros que são donos da maioria dos edificios e cujos turistas pagam a estadia fora do país .Será que o fisco controla alguma coisa?
  • Miguel Costa
    23 mar, 2016 bordeaux 20:09
    nao sr miguel,, voce por acaso ate nao tem queixas, mas tambem nao lhe tiro razao!! digo lhe porque.. porque aqui em franca voce nao ficava sem a sua renda!! pois o estado social ,,, isso para que todos descontamos,, aqui funciona. hoje em dia nao vejo um português que venha para ca ja om conhecimento da CAF. POIS?? Nos ai estamos habituados à SS?que faz tudo,, aqui de facto ou de fato, aqui as coisas funcionam e nao e aquilo a que estamos habituados ao que os politicos dizem!! dizem que ai funcionam mas nao e verdade!! meu amigo, se funcionassem pagavam lhe a renda e ainda ajudavam o homem a sair dessa porcaria!!
  • Miguel Costa
    23 mar, 2016 bordeaux 19:58
    nao entendo, juro. nao entendo. tenho 25 anos de lisboa apesar de ser do Porto. eu vi esta cidade crescer neste sentido e disse a muitos empresarios deste ramo que isto estava a acontecer. agora vem este tipo dizer que um jovem em inicio de carreira ganha em media mil euros!!!! sera que este tipo pensa que anda toda a gente na politica ou que??? esquece que um jovem mesmo com canudo normalmente é mais depressa caixa de supermercado a ganhar o salario minimo que a exercer a sua profissao?? onde param os 1000 euros medios que ele fala? eu que sou tecnico tive que sair de Portugal para ganhar isso!!! pois em Portugal onde o meu salario rondava os 1000 euros passou para. admirem se!!! 500€ !!! e eu tenho 42anos e experiencia de vida. quem este tipo pensa enganar??? assinado e com todo o prazer para ti meu saloio... Miguel Costa
  • Luis
    23 mar, 2016 Silva 19:46
    Hipocrisia, o centro de Lisboa estava deserto e decadente... Ninguem queria lá morar, agora que graças ao turismo há gente, comercio e animação, vem dizer que estão a descaracterizar a zona e querem todos lá morar. Eu também queria um Ferrari amarelo...
  • Miguel
    23 mar, 2016 Lisboa 18:55
    Não tenho queixas, a reforma do arrendamento deu uma ajuda na dinamização do arrendamento. Rendas de 50 euros passaram para 200 euros, e não vi ninguém a passar fome. Consegui "expulsar por meios legais" um drogado que me parasitava uma casa há anos. Daqui um ano vou conseguir pintar o prédio.
  • desatina carreira
    23 mar, 2016 queluz 18:46
    Quem tem unhas toca guitarra quem não tem?
  • Pedro
    23 mar, 2016 Bencatel 17:44
    Como sempre quem se lixa é o mexilhão.
  • José Seco
    23 mar, 2016 Lisboa 17:01
    Lisboa cada vez menos Lisboa! Há mais casas vazias e hostel's do que pessoas! Portugal está cada vez mais decadente! Foram muitos e muitos anos a ser vandalizado pelos sucessivos governos e agora mesmo que alguém queira fazer algo já é tarde demais!

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