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​IVA. “Vamos tributar da mesma forma o leite ou o whisky?”

08 abr, 2016 - 20:46 • Sandra Afonso

Proposta europeia de taxa única de IVA divide economistas ouvidos pela Renascença.

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A eliminação das taxas intermédias e a introdução de uma taxa única de IVA em Portugal, defendida pela Comissão Europeia no âmbito do Sistema Único daquele impostos, é uma possibilidade que divide opiniões.

O comissário europeu dos Assuntos Económicos e Financeiros, Pierre Moscovici, defende que Portugal é o país que mais ganharia com a medida, desde logo porque ia encaixar mais receitas. Os especialistas sugerem mesmo que seja aplicada uma taxa normal de 23%, o que aumentaria as receitas em 19%.

Em declarações à Renascença, o economista João Duque admite a entrada de mais dinheiro nos cofres públicos, mas não concorda que os bens de primeira necessidade sejam taxados da mesma forma que os restantes produtos.

“Então, vamos tributar da mesma forma o leite ou o whisky? Ou vamos tributar da mesma maneira uma refeição numa cantina ou num restaurante de luxo? Parece-me que há coisas que deviam de ser pensadas um bocadinho, pôr um bocadinho de água fria na cabeça de alguns técnicos que estão a olhar para folhas de cálculo e números, por vezes com um certo distanciamento daquilo que é a vida de algumas pessoas.”

Ainda para este economista do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), a aplicar-se a medida, ela deve ser introduzida de forma faseada e prolongada no tempo, uma vez que o impacto social é elevado.

“O problema é quem vai pagar esse aumento de IVA. Tipicamente, as pessoas que vivem da cesta básica, com os produtos tributados à taxa mais baixa, são os que mais sofrem, e os que vivem exclusivamente dessa cesta básica sofrem a totalidade. Do ponto de vista social é muito complicado implementar uma medida dessas, de um momento para o outro, sem que estejam muito bem conseguidos mecanismos de compensação dessas pessoas, porque já têm rendimentos muito baixos. Estamos a falar de Portugal, temos salários muito baixos, a fazerem uma coisa dessas devia ser feita com muito cuidado, prolongado no tempo, muito devagarinho”, diz João Duque.

Já para o ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Rogério Fernandes Ferreira, Portugal beneficiava com uma taxa única de IVA, mas acompanhada com a redução da taxa normal.

“Eu julgo que isto seria muito conveniente, nomeadamente para Portugal, porque evitaria uma série de problemas, nomeadamente distorções na concorrência, mas permitiria também, gerando maior receita, o abaixamento da taxa normal.”

Rogério Fernandes Ferreira faz uma correcção às declarações do comissário Moscovici e defende que “não é necessário que a taxa única seja a taxa de 23%, provavelmente pode ser 21 ou 22%”.

“Isto sim, implicaria algum, mesmo pouco que fosse, abaixamento dos preços e fomentaria o consumo, como é óbvio. Isto geraria alguma receita adicional ao nível das empresas, nomeadamente para fazer investimentos.”

O ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais minimiza ainda o aumento dos preços dos bens de primeira necessidade.

“Com certeza que politicamente se iria invocar a questão dos bens de primeira necessidade terem aumentos. Eu acho que isto é uma não questão, pela simples razão que se nós estamos a falar em aumentos percentuais relativamente elevados, os bens de primeira necessidade têm valores relativamente baixos. O que significa que em termos absolutos o aumento, por exemplo de pão, seria num valor relativamente reduzido.”

Rogério Fernandes Ferreira defende ainda que uma única taxa irá aproximar o IVA da taxa praticada em Espanha.

Comentários
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  • fanã
    10 abr, 2016 aveiro 20:01
    Gasol, Gasolina, Gaz, em breve vai-se a Espanha comprar até o papel higienizo !!!!!!!!!
  • nelsat
    09 abr, 2016 pombal 15:26
    Whisky--Perfumes--Cremes e afins que so a ricos serve devem ser taxadas a 80 ou +%
  • Alberto Sousa
    09 abr, 2016 Portugal 13:27
    E acrescento ao meu comentário anterior. Os bens essenciais, que com diz a palavra são ESSENCIAIS à sobrevivência, nem sequer deveriam ser tributados ao consumidor pois já o são ao produtor e vendedores através de irc, de taxas e demais contribuições, assim como uma tributação de 23% sobre os demais produtos é claramente um roubo descarado. Isso seria justiça e correção da parte do estado. Essas "perdas" podem ser perfeitamente recuperadas através do combate eficaz à fuga ao impostos de particulares e empresas e de uma melhor gestão dos impostos e gastos do estado.
  • Jose Carlos
    09 abr, 2016 Porto 11:01
    é preciso compensar as 35h dps FP a alteração do acesso da ADSE ao seus familiares etc e o corte dos feriados , vergonha de governo
  • Joao SEm Paciencia
    09 abr, 2016 LX 02:40
    Segundo os iluminados deste coisa que chamam de direita devemos tributar o leite com muito mais IVA que o whisky porque o leite é um artigo de primeira necessidade e como tal bebe-se muito mais e por toda a gente ou seja, dá mais "papel". Dizia um grande amigo que está programado para ser de direita, não há nada a fazer, que cortar nas pensões mais baixas é muito mais eficaz do que cortar nas altas. Com o leite versus whisky o raciocínio parece-me que mesmo. Deixem o whisky em paz,porque aquilo não dá nada por isso é mesmo para chatear.
  • Hugo Pereira
    09 abr, 2016 Leiria 00:15
    Ainda que tenha de ser uma medida muito bem estudada a implementação da mesma poderá permitir simplificar a gestão das empresas que apenas trabalham no mercados interno e que fazem prestação de serviços ao consumidor final permitindo assim uma maior competitividade por exemplo na restauração/turismo importante sector da actividade económica do nosso País que contribuiu com 6% para o PIB em 2014 e representa 8 % do emprego. Ao comprar e vender pela mesma taxa, as empresas deste sector passam a poder ser geridas como as empresas do sector B2B
  • celso
    09 abr, 2016 viana 00:05
    Se o dia de hoje não fosse dia 8 pensaria que seria uma brincadeira de 1 de Abril.Mas infelizmente não...E talvez...será uma noticia sem fundamento que só procura criar algum sensacionalismo que fará que muitos de nos abra esta "informação"...Aumentar a taxado do IVA nos produtos básicos não aumentaria significativamente as receitas do estado visto o valor baixo das mercadorias, no entanto poderá ser um valor relativamente importante no poder de compra das pessoas mais necessitadas.É mais fácil tirar alguns cêntimos aos pobres que alguns euros aos ricos... Mas assim vai o mundo...Paraísos fiscais para uns e impostos para os outros.
  • Pedro
    08 abr, 2016 Lisboa 23:32
    Um ex-secretário de estado vir dizer que é uma não questão vem mostrar o quão bem servidos estamos de dirigentes governativos. O pão ter um aumento absoluto reduzido não esconde que o cabaz de compras de muita gente aumentaria facilmente cerca de 10%, rebentando com os magros orçamentos de quem mal ganha para viver.
  • Luis Marques
    08 abr, 2016 Lousada 23:23
    A taxa do iva devia ser de 13% em todos os produtos como luz ,leite ,pão, outros bens essenciais. EM QUE O GOVERNO ENCAIXARIA. COM ESTA MEDIDA. MAIS 35% nos cofres do estado.
  • manuel
    08 abr, 2016 sintra 23:20
    Estou habituado a ler notícias e comentários, uns melhores outros mais fracos. Como este nunca vi, será que existem pessoas, que supostamente têm estudos "superiores" especializados, fazerem afirmações levianas que demonstram uma ignorância e incompetência enorme na matéria que deviam saber. Outro facto que me choca é ser uma incompetência internacional que vai correr o mundo? Bem ao Japão não deve afectar muito eles ainda estão a recuperar do choque brutal que foi aumentar o IVA para 7%

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