24 mai, 2016 - 13:23 • João Carlos Malta
A disparidade entre o que ganham os CEO das empresas portuguesas cotadas continua a crescer, revela um estudo publicado pela Deco.
Em 2015, os presidentes executivos destes grupos viram os salários subir, em média, mais de 14%, enquanto os salários dos trabalhadores dessas empresas cresceram apenas 4%. Em média a disparidade entre vencimentos das chefias e de funcionários aumentou mais de três vezes num só ano.
Mas se a média dos aumentos é de 14%, entre 2014 e 2015, há casos em que foi bem mais elevada. Ferreira de Oliveira e Carlos Gomes da Silva tiveram um aumento de 67,3% na Galp; Francisco Lacerda teve 109,7%, nos CTT; Pedro Soares dos Santos viu o salário subir 29,5%, na Jerónimo Martins; e, por fim, o vencimento de António Mexia. na EDP, aumentou 58,2%.
O caso em que esta disparidade de rendimentos atinge uma maior proporção é o grupo Jerónimo Martins. O CEO Pedro Soares dos Santos ganha 90 vezes mais do que a média dos trabalhadores. No ano passado, o filho de Alexandre Soares dos Santos recebeu perto de 866 mil euros.
A Deco, nas conclusões do estudo, avança que o sector em que o grupo opera, a distribuição, normalmente pratica vencimentos baixos o que pode ser parte da explicação para as diferenças que se verificam.
Mas é na petrolífera Galp em que o CEO mais ganha, entre as 26 empresas analisadas. Os dois presidentes-executivos que a empresa conheceu em 2015, Ferreira de Oliveira e Carlos Gomes da Silva, auferiram, em conjunto, mais de 2,5 milhões de euros. A diferença para a média do que os trabalhadores ganham ascende a 72 vezes. Este valor faz do grupo o campeão do aumento da diferença de vencimentos entre a base e o topo quando se comparam os anos de 2014 (42 vezes) e 2015 (72 vezes).
Estes são apenas dois exemplos de um cenário de forte desigualdade entre o topo da hierarquia e a base. Das 26 empresas em estudo, há 10 em que a diferença é de 30 vezes. Sonae, Semapa, Ibersol, CTT, EDP, Mota-Engil, Portucel e NOS são exemplos desta realidade.
António Mexia, da EDP, é o segundo CEO mais bem pago em Portugal, recebendo por ano 1.816.080.
A Deco ressalva que acredita “na livre concorrência e na liberdade para empregadores e empregados fazerem acordos entre si”. “Além disso, compreende-se que os profissionais mais qualificados e que assumem maiores responsabilidades sejam compensados por isso”, acrescenta.
A associação de defesa dos consumidores escreve que não é correto “que nas sociedades cotadas e para os cargos em que não existem acordos de trabalho, como nos casos dos administradores, as remunerações sejam definidas sem que haja um verdadeiro empregador, neste caso os accionistas, a definir valores ou, em última análise, a estabelecer limites para as remunerações”.
E explica que apesar das políticas de remuneração serem, por força da lei, objecto de votação anual em assembleia geral de accionistas, “na maioria dos casos, o que é votado são princípios gerais muito vagos”. “Além disso, não é aceitável que, nos casos em que os resultados
São negativos, não aconteça nada e se mantenham na mesma os prémios, que, como o próprio nome indica, deveriam premiar algo e não ser atribuídos independentemente de os resultados serem ou não alcançados”, acrescenta.
Para ilustrar o absurdo de algumas destas situações aponta o caso de Henrique Granadeiro na PT que mesmo depois de a cotação da PT descer de 4 euros por acção para 1 euro por acção entre 2013 e 2014 recebeu uma remuneração de quase dois milhões de euros