17 set, 2016 - 09:22
Os portugueses perderam, em média, 116 euros por mês entre 2009 e 2014, os anos mais severos da crise. Os dados são do estudo "Portugal Desigual", da Fundação Francisco Manuel dos Santos.
A quebra salarial afectou, sobretudo, os mais pobres. Os números indicam que, durante aquele período, os 10% mais pobres da população portuguesa perderam 25% do rendimento, enquanto os 10% mais ricos apenas perderam 13%.
A crise afectou também, em especial, os jovens com menos de 25 anos, que “sentiram uma perda de 29% nos seus rendimentos, acima da perda média de rendimentos para o conjunto de todos os portugueses".
Quase um terço dos trabalhadores por conta de outrem a ganhar menos de 700 euros mensais. Em 2009, era um em cada cinco.
Com estes dados estatísticos, a Fundação Francisco Manuel dos Santos pretende mostrar quem perdeu mais nos últimos anos de crise – se a classe média ou os mais ricos ou pobres. E os números constatam que foram os mais pobres.
Em 2009, os 5% mais pobres da população portuguesa recebiam 15 vezes menos do que os 5% mais ricos. Em 2014, os 5% mais pobres recebiam 19 vezes menos do que os mais ricos.
A crise fez, assim, aumentar a desigualdade em Portugal, mas também em mais 18 países da União Europeia, especialmente na Grécia e em Espanha. Portugal está na nona posição em termos de desigualdade.
Entre os que mais perderam com os anos de crise estão os portugueses com mais alta formação académica: a perda de rendimento foi de 20%, enquanto para quem tem o 6.º ano ou menos foi de 13%. Mas os primeiros têm por norma um rendimento duas vezes acima dos que só fizeram o 6.º ano.
As mulheres foram das que mais sofreram com a redução da remuneração média.
Com tudo isto, dizem os números que 8% dos trabalhadores por conta de outrem viviam há dois anos abaixo do limiar da pobreza, os mais jovens perderam quase um terço dos rendimentos e, em termos gerais, os salários dos homens caíram 1,5% entre 2009 e 2014, enquanto o das mulheres 10,5%.
Os trabalhadores que entraram em 2012 no mercado de trabalho viram a sua remuneração baixar 11% em relação aos que saíram em 2011.
Entre 2009 e 2014, o número de pobres aumentou em 116 mil (para 2,02 milhões), com um quarto das crianças e 10,7% dos trabalhadores a viverem abaixo do limiar da pobreza (6,3% em privação material severa). Hoje, um em cada cinco portugueses vive com um rendimento mensal abaixo de 422 euros.
O projecto "Portugal Desigual", desenvolvido em parceria com a SIC e o “Expresso”, é apresentado na segunda-feira.