12 out, 2016 - 00:29 • José Pedro Frazão
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O antigo ministro da Justiça Vera Jardim não está a gostar do que vai lendo sobre o Orçamento do Estado para 2017. Não propriamente pelo conteúdo, mas sobretudo pela forma como várias medidas são lançadas a debate.
"Desagrada-me muito este tipo de acontecimentos. Não vou dizer que o Orçamento está a ser feito na rua. Mas a verdade é que dia sim, dia não, ou quase todos os dias, os portugueses são confrontados com notícias sobre o Orçamento que não sabemos se são ou não verdadeiras", começa por dizer o histórico socialista no programa Falar Claro da Renascença.
O novo imposto imobiliário, as mexidas na sobretaxa e o aumento das pensões são alguns exemplos de medidas citadas pelo comentador socialista.
"Não estou a dizer que são invenções. Tenho quase a certeza de que não partem do Governo. Pressão da esquerda? Não sei. Como está a haver uma negociação, não sei quais são as fontes", complementa Vera Jardim, surpreendido pelas respostas soltas deixadas por António Costa na visita à China.
Neste ponto, Nuno Morais Sarmento não deixa escapar o facto para acentuar a crítica.
"Ele respondeu. E quando assim é, é o pior que pode acontecer. É a confirmação da 'negociação na rua'. O orçamento está a ser feito na rua. E quando é feito na rua não pode haver estratégia", adverte o social-democrata.
Sem coesão nem coerência
Sarmento defende que o Primeiro-Ministro deveria dizer não apenas o que está na proposta de Orçamento mas também esclarecer o que foi feito à margem do Orçamento para conseguir um acordo.
"Era politicamente importante e um acto de coragem ", classifica Morais Sarmento, defensor de que no quadro desta negociação, o Orçamento não terá uma estratégia.
"Quando é assim negociado na rua, por iniciativas desgarradas que entre si, não tem coerência, coesão, equilíbrio. O que sai daqui é uma manta de retalhos e por isso também aqui se confirma aquilo que venho chamando a atenção desde o primeiro dia. Temos um governo casuístico, do dia-a-dia, das negociações possíveis com outros parceiros. Não temos um governo com visão para o país e um calendário de reforma estruturada, consistente e positiva", critica Morais Sarmento.
Uma tese que acaba por ser alimentada pela gestão de comunicação deste Orçamento, reconhece Vera Jardim.
"O resultado destes anúncios dia sim, dia não, dá razão àqueles defendem essa teses. Mas só
depois de ver o Orçamento é que vejo se há ou não uma estratégia", ressalva o histórico socialista.