Siga-nos no Whatsapp
A+ / A-

​Talkdesk. A "startup" portuguesa que vale 500 milhões e quer contratar 250 pessoas

15 nov, 2016 - 18:57 • Teresa Abecasis

Há cinco anos, Tiago Paiva e Cristina Fonseca mudaram-se para São Francisco com uma mala cheia de ideias e pouco mais. Fundaram a Talkdesk, que permite criar um “call center” na internet rapidamente. Hoje, têm um negócio avaliado em perto de 500 milhões de euros.

A+ / A-

Veja também:


O ano de 2016 está a correr bem para a empresa portuguesa Talkdesk. Em Janeiro, Tiago Paiva e Cristina Fonseca, fundadores da "startup", apareceram numa lista da revista "Forbes" das 30 pessoas com menos de 30 anos que estão a mudar as empresas de tecnologia.

Mais recentemente, na mesma revista, a Talkdesk é referida como uma das próximas “unicórnio”, as empresas que conseguem uma avaliação de mil milhões de dólares ou 931 milhões de euros. Em Portugal, só uma “startup” conseguiu atingir este patamar, a Farfetch, uma loja "online" de artigos de luxo.

A Talkdesk, que permite criar um “call center” na internet rapidamente, emprega 250 pessoas, divididas entre a capital portuguesa e os Estados Unidos.

Apesar de a maior parte dos clientes serem norte-americanos (entre eles está a Dropbox), a aposta em Portugal é para manter e alargar: no próximo ano, Tiago Paiva quer abrir um escritório no Porto, para o qual conta contratar 100 pessoas.

Num futuro próximo, Tiago Paiva quer continuar a fazer crescer a empresa e inscrevê-la na bolsa. Tiago esteve na Web Summit, em Lisboa, como orador convidado, para contar a experiência de uma “startup” portuguesa de sucesso.

A sua participação na Web Summit foi num palco chamado "SaaS Monster", uma das áreas em que se diz que está o futuro das empresas tecnológicas, e em que a Talkdesk se insere. O que é isto do SaaS (abreviatura para "Software as a Service")?

É a nova maneira de as empresas fazerem dinheiro. Antigamente, costumava-se investir muitos milhões num "software", instalar num cubículo do escritório e depois tinha de se ter pessoas a gerir aquilo durante anos e anos e anos. Agora, em vez de se ter isso, paga-se todos os meses uma mensalidade: dez euros por mês, 20 euros por mês, 100 euros por mês. E não tem de se ter servidores, não tem que se ter instalações, não se tem que gerir nada. É tudo na "cloud".

Como correu 2016 para vocês?

Correu bem. Os nossos objectivos, à medida que a empresa vai crescendo, tornam-se mais complicados. Uma "startup", nesta fase, a crescer duas, três, quatro vezes por ano, é muito bom e é algo que nós atingimos este ano. Este ano estamos a crescer praticamente três vezes. Para o ano que vem, estamos a tentar o mesmo. Tem corrido tudo conforme planeado.

Há um ano e meio, tínhamos 20/30 pessoas. E agora temos 250. E devemos acabar o ano perto das 260/270.

O que significa para vocês esta menção na lista das próximas empresas “unicórnio”?

A lista não significa muita coisa, a lista só significa que a Forbes acha que a Talkdesk tem muito potencial. Mas valer mil milhões, ou dois mil milhões, ou 100 milhões, isso pouco interessa. O que interessa é continuar a crescer e criar a empresa. A lista é só uma lista. Não somos melhores ou piores por estar ou não na lista.

Quanto vale a Talkdesk neste momento?

Praticamente 500 milhões de euros.

Falemos agora da sua participação na Web Summit. Como correu?

Foi boa. Foi curta. Foi com o Dave McClure, da “500 Startups”, e foi no dia a seguir ao Trump ser eleito, por isso estava tudo um bocado com os ânimos exaltados. Foi giro, dizer a história a outras pessoas portuguesas, e outros empreendedores que estão a tentar passar pelo mesmo caminho. Muitas coisas que se diz e muitas coisas da minha experiência não são relevantes para outras pessoas, mas algumas são.

Devia haver mais espaços para as “startups” poderem partilhar experiências?

Devia. Infelizmente, eu não tenho muito tempo. Quando [outras “startups”] vão a São Francisco, tento sempre algum tempo para eles virem ver o escritório e falar comigo. Mas, infelizmente, diria que não é uma coisa recorrente. Todos nós estamos ocupados a fazer as nossas “startups”.

É muito bom quando estamos juntos e podemos partilhar experiências. Isso é sempre bom. E ter algo mais como isto, mais vezes, sem dúvida que era importante. Ter um grupo em que pudéssemos aprender uns com os outros e ajudar uns aos outros, era sem dúvida muito útil.

Tem algum conselho para uma “startup” que esteja agora a começar? Algo que não pode mesmo falhar?

Eu acho que não é só uma coisa. As pessoas estão sempre à procura da "silver bullet", "o que é que eu tenho de fazer para ter sucesso". É preciso de fazer muita coisa. É preciso, primeiro, trabalhar muito. É preciso criar um produto, é preciso conseguir vender o produto e conseguir contratar as pessoas certas, é preciso levantar dinheiro, é preciso investir, é preciso sobreviver aos problemas que aparecem. Há 1.500 razões para as coisas não funcionarem. E é o nosso trabalho garantir que tudo funciona e a empresa consegue crescer. E todos os dias é assim.

Como foi crescer de uma empresa de 25 pessoas para 250? Estava preparado?

Quando temos 25 pessoas, temos 25 problemas. Quando temos 250 pessoas, temos 500 problemas, porque a complexidade aumenta. É tudo muito mais complicado, mas o que nós temos de fazer é contratar pessoas com experiência, que já tenham passado por isso, que possam ajudar e ensinar. Quanto mais crescemos, mais complicado se torna.

O que é que já aprendeu ao longo destes anos?

Já aprendi muita coisa. Tenho a sensação de que já estou a trabalhar há 25 anos e me podia reformar para o ano. Já aprendi como é que se monta uma equipa de vendas, como é que se faz um produto, como é que se fala com clientes, como é que se fala com clientes internacionais, como é que se fecha negócios de milhões. Como é que se gere pessoas.

Os funcionários da Talkdesk estão divididos entre São Francisco e Lisboa. A aposta em Portugal é para manter?

Nós vamos abrir agora um escritório no Porto. Estamos a contratar 100 engenheiros no Porto nos próximos seis, nove meses. Em Lisboa, estamos a contratar mais 100/150 pessoas. Por isso, o objectivo é continuar a crescer em Portugal e triplicar ou quadruplicar.

Como é que se vê daqui a 10 anos?

Vejo-me a fazer exactamente a mesma coisa, mas com uma empresa muito muito maior. Não sei quantas pessoas, mas daqui a 10 anos quero estar na bolsa, ou de certeza antes disso.

Tópicos
Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • Fernando Saraiva
    15 nov, 2016 Porto 22:28
    Pela noticia fico com as sensação que as empresas de cloud aqui em Portugal apenas precisam de icentivar os clientes/outras empresas a enredar mais pela cloud. Pelo que entendi aquilo que esta startup fez acho que foi aproveitar a centralização de recursos com base na tecnologia cloud. Por exemplo em Portugal se existirem 5 ou 6 empresas especialistas em cloud e o resto das empresas portuguesas trabalhassem na cloud sem precisarem dos recursos que esta startup simplesmente dispensou... será uma nova realidade?. É como se todas as empresas a nivel nacional, neste momento, estejam a gerar a sua própria energia a partir de eólicas domésticas ou paineis solares próprios. Mas em vez de investirem tanto nessas tecnologias preferem deixar que o serviço de produção e distribuição de energia fique centralizado em 2 ou 3 grandes distribuidoras nacionais de energía elétrica. Se estes procedimentos passam para o mundo informático (centralização de dados em 2 ou 3 empresas nacionais) podemos falar de um conceito de economia completamente diferente. Se o software passa a ser um serviço que pode desempenhar funções que antes seria necessário recorrer a um grande hardware e pessoal pode ser uma alternativa. Esse hardware e pessoal pode ficar, agora, centralizado em apenas 2 ou 3 empresas portuguesas a fornecer esses serviços. E o que as empresas podem ganhar com isso? Poderá ter desvantagens como vantagens também. Acho, porém, que é um conceito a ponderar.
  • Diogo
    15 nov, 2016 Funchal 20:34
    Mais trabalho de call center, com gente qualificada a ganhar misérias como se trabalhassem em part time apesar de ser em full time. Sem direitos e precários. Bonito futuro... Disto não se precisa mais em Portugal, fiquem nos EUA. Ao menos aí têm de lhes pagar salários razoáveis e não vão poder colocar empresas terceiras a contratar os funcionários para ainda baixarem mais os salários.

Destaques V+