19 jan, 2017 - 22:43
O antigo presidente da Caixa Geral de Depósitos (CGD) Carlos Santos Ferreira garante desconhecer qualquer pressão política para que fosse o escolhido para liderar a CGD, cargo que assumiu a convite de Teixeira dos Santos.
"Nunca falei com o primeiro-ministro antes de ser convidado pelo professor Teixeira dos Santos. Portanto, que eu saiba, não", afirmou o gestor no parlamento, depois de questionado sobre se tinha conhecimento da existência de pressões políticas, por parte do então primeiro-ministro, José Sócrates, para que fosse a pessoa escolhida para substituir a equipa de gestão liderada por Vítor Martins.
Santos Ferreira falava durante a sua audição na comissão parlamentar de inquérito à CGD, duas semanas depois de Luís Campos e Cunha, que foi ministro das Finanças do governo Sócrates durante apenas quatro meses, ter denunciado aos deputados as pressões que terá sofrido da parte de Sócrates para afastar a administração do banco público dirigida por Vítor Martins e nomear uma nova equipa comandada por Santos Ferreira.
Na altura, o antigo primeiro-ministro desmentiu as acusações de Campos e Cunha e, uma semana depois, no âmbito da comissão de inquérito, Teixeira dos Santos também afastou a hipótese de ter sido pressionado pelo primeiro-ministro de então, assumindo a decisão de substituir a equipa de gestão do banco estatal.
"Também não falei com o dr. Campos e Cunha" sobre o banco público, sublinhou Santos Ferreira, dizendo ter recebido apenas um telefonema do antecessor de Teixeira dos Santos quando se encontrava no estrangeiro, durante o qual não houve "uma única referência à CGD".
E acrescentou: "Perguntou-me se estava em Portugal e eu disse que não. Estava em Banguecoque, a caminho de Macau, e respondi-lhe que voltaria dentro de duas ou três semanas".
Questionado sobre se achava que tinha a experiência necessária para o cargo para o qual foi convidado, Santos Ferreira considerou que sim.
"É importante saber-se do negócio e ter-se experiência de vida. Não lhe vou falar do meu currículo. Sim, achava que tinha as qualificações necessárias para exercer essas funções, senão não as teria aceitado", vincou.
Antes de ir para o banco estatal, Santos Ferreira era administrador da Mundial Confiança.
"Mantínhamos um acompanhamento muito de perto com as entidades bancárias que integravam o grupo. Além disso, era administrador não executivo de um banco em Macau", afirmou Santos Ferreira, confirmando que esse banco estava ligado ao empresário Stanley Ho.
Quanto às razões pelas quais foi convidado para assumir a presidência da CGD, Santos Ferreira disse desconhecê-las, frisando que a sua preocupação foi perguntar o que esperavam dele.
"Na minha escola, não se perguntam aos accionistas o porquê que fazem as coisas. Perguntei sim a Teixeira dos Santos o que é que ele esperava de mim. Nunca me passou pela cabeça perguntar-lhe porque é que me tinha escolhido", lançou.
"Aquilo que o senhor ministro me disse foi o seguinte: queria que a CGD incentivasse o crédito às empresas, a internacionalização das empresas portuguesas, e que isso fosse feito com eficiência e olhando com cuidado para o 'cost-to-income'", acrescentou.